Luisa BelchiorLuisa Belchior http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br Diário Ibérico Mon, 02 Dec 2013 15:11:05 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Bicicleta em Madri, parte 2 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/30/bicileta-cidada-madri/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/30/bicileta-cidada-madri/#respond Sat, 30 Nov 2013 14:59:55 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2339 Continue lendo →]]> Outro dia comentava, neste post, que Barcelona supera em muito Madri no quesito ciclovias e mobilidade em bicicleta.

Hoje, um estudo de uma organização espanhola para o uso de bicicleta certifica isso. Mas aponta também para uma tendência crescente na capital espanhola que eu conhecia pouco: um enorme movimento cidadão e empresarial em prol desse meio de transporte.

A pesquisa identifica um aumento no número de profissionais liberais que, mesmo em tempos de crise, investem em negócios cujo pano de fundo é a bicicleta.

É uma forma, afirma, de tentar alternativas às iniciativas por parte do poder público. Como contei no post anterior sobre o tema, o governo madrilenho já tinha no papel e em vias de licitação um projeto de expansão das ciclovias. Mas, com a crise, ele foi um dos primeiros a ir para a gaveta.

Vendo notícias sobre o estudo, lembrei de uma simpática lojinha de venda e conserto de bicicletas que abriu as portas há alguns meses no meu bairro. Aproveitei o tema e passei lá à tarde para conversar com os donos. Eles me contaram que, sim, este tipo de investimento ainda é um risco grande neste momento no país. Mas que, ao mesmo tempo, o tema bicicleta atrai muitos consumidores.

Lá, ciclistas vão não só para comprar bicicletas ou peças para as que já têm mas também para trocar experiência sobre a difícil arte de utilizar este meio de transporte em Madri.

Como também já contei neste blog, a falta de ciclovias na cidade faz com que os ciclistas tenham que se equilibrar entre avenidas e calçadas estreitas, onde não é permitido pedalar.

Para evitar caminhos perigosos, eles criaram até este site, que dá dicas de rotas para fugir de avenidas e de aglomerações de pedestres. Pelo menos, enquanto a ciclovia não vem.

]]>
0
Espanha fecha primeira TV pública http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/29/espanha-fecha-primeira-tv-publica/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/29/espanha-fecha-primeira-tv-publica/#comments Fri, 29 Nov 2013 15:02:24 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2430 Continue lendo →]]> A cena, comum em épocas ditatoriais, aconteceu nesta sexta-feira aqui na Espanha: enquanto jornalistas transmitiam ao vivo a programação da TV pública de Valência, policiais entraram no estúdio e, com ordem judicial, desligaram a energia e puseram fim à transmissão. Câmeras da rede filmavam toda a cena, ao vivo, até as 12h19 (9h19 no horário de Brasília), quando a TV saía do ar.

Foi o desenlace de uma briga judicial que o governo de Valência, a terceira região mais importante do país, travava há quase um mês com os funcionários do Canal Nou, como é chamada a TV pública local.

O fechamento significa também que 1.660 trabalhadores do canal estão agora sem emprego.

No início de novembro, o governo local, do PP (Partido Popular), o mesmo do premiê Mariano Rajoy, anunciou o fechamento da TV pública, depois de a Justiça proibir uma demissão de quase 1.000 funcionários da rede. Em reação, o presidente local, Albert Fabra, decidiu encerrar as atividades do canal,  alegando que sua manutenção se tornou insustentável por causa das dívidas que seu governo acumula.

Mas a grande reviravolta aconteceu quando os funcionários recusaram deixar os estúdios do Canal Nou e assumiram toda sua programação e emissão. Algo parecido com o que aconteceu na TV pública grega em junho, quando funcionários se negaram a deixar a emissora.

Ontem, Fabra publicou um ultimato em edição extra-ordinária do diário oficial local.

De noite, as portas foram fechadas, e os funcionários do canal foram barrados. Os que estavam dentro passaram a noite em claro transmitindo ao vivo notícias sobre o futuro do canal. Alguns conseguiram entrar pela janela.

Jornalistas apresentavam um programa ao vivo quando policiais entraram na sede do canal, segundo eles relatavam ao vivo. Pouco depois de meio-dia, a programação foi cortada.

Logo depois, todos os jornalistas que cobriam a notícia abandonaram a coletiva de imprensa do governo de Valência em solidariedade com seus colegas e em protesto pelo fechamento de mais um meio de comunicação no país por conta da crise.

Desde 2008 até o começo deste ano, cerca de 200 meios de comunicação espanhóis fecharam as portas, colocando na rua quase 28 mil profissionais, segundo levantamento da Associação de Imprensa de Madri.

Esta é a primeira vez, no entanto, que isso acontece com uma rede pública, um modelo muito comum na Europa.

 

 

]]>
11
Austeridade em Portugal: até quando? http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/28/austeridade-em-portugal-ate-quando/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/28/austeridade-em-portugal-ate-quando/#comments Thu, 28 Nov 2013 20:35:12 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2426 Continue lendo →]]> Enquanto governos europeus ensaiam desacelerar seus programas de austeridade, Portugal continua passando a marcha em seus cortes de gastos públicos a cada ano. Nesta semana, o Parlamento português aprovou o temido Orçamento de 2014 que comentei com vocês há alguns dias neste post, quando o governo lançava o projeto, que entre outras coisas vai cortar 10% do salário da maioria dos funcionários públicos.

E à medida que sobem os cortes, eleva-se também o tom das manifestações nas ruas do país, como aconteceu durante a votação do Orçamento, aprovado pela maioria que o governo tem entre os deputados  mas sob intensos protestos do lado de fora do Parlamento.

A questão que meios e análises têm levantado  no país é: até quando o país seguira cortando?

Com fama de “bom aluno”, Portugal cumpriu todos os compromissos de redução de gastos exigidos pela União Europeia desde que o país recorreu ao resgate financeiro, em 2011. Nos últimos dois trimestres, o país cresceu, e as contas públicas estão mais saneadas, além de aprovadas constantemente pelo bloco europeu.

Os manifestantes acham que os portugueses já fizeram sacrifícios demais e que já passou da hora de cortar.

A Espanha, que não sofreu resgate, começa a desacelerar os pacotes de austeridade –não me entendam mal: ainda há, e muita, austeridade; o que baixou foi a frequência com que novos planos de cortes conjuntos são anunciados.

Mas pelo texto aprovado nesta semana, a tesoura continua, e cada vez mais afiada. A proposta inicial do governo foi aprovada quase na íntegra. Uma das poucas mudanças foi o aumento do salário mínimo de funcionários que sofrerão cortes: em vez de € 600, os deputados acordaram uma leve subida para € 645 (cerca de R$ 2.070).

Ou seja, quem ganha acima disso terá nada menos que 10% de seu salário cortado.

Nesta quinta-feira, para completar, entrou em vigor um novo regime para funcionários públicos que vai reduzir gradativamente seus salários, em 40% no primeiro ano e 60% no segundo. A medida, que já havia sido derrubada pela Justiça, começa a valer já a partir da semana que vem. Como contra-partida, os funcionários poderão exercer outras atividades sem necessidade de autorização prévia da Administração Pública.

Por isso, este outono português está sendo marcado por uma série de greves em setores-chave como saúde e educação, além das manifestações. Na terça-feira, sindicalistas invadiram instalações de quatro ministérios portugueses em protesto.

Hoje, em resposta, o polêmico vice-premiê do país, Paulo Portas, alfinetou os manifestantes: “Uns dedicam-se às exportações e outros a manifestarem-se”, disse à imprensa local em um encontro de exportação.

]]>
1
O livro de Zapatero http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/28/o-livro-de-zapatero/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/28/o-livro-de-zapatero/#respond Thu, 28 Nov 2013 14:16:22 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2445 Continue lendo →]]> No governo anterior aqui da Espanha, uma das críticas mais repetidas ao ex-premiê espanhol Zapatero foi a de que ele pouco falava da crise.

Nem durante sua gestão –silêncio ao qual seus críticos atribuem o descontrole da crise na Espanha– e menos ainda depois dela, quando praticamente abandonou a vida política.

Agora, exatos dois anos após deixar o cargo, o socialista, que comandou o país de 2004 a 2011, decidiu soltar o verbo. O fez através de um livro de memórias que lançou esta semana aqui em Madri.

Ok, livros de memórias de ex-presidentes costumam ser taxados de entediantes pela crítica. Mas Zapatero, que por si só já tinha uma certa fama de apagado, conseguiu colocar tempero nas notícias sobre o lançamento de sua publicação, entitulada “O dilema: 600 dias de vertigem”.

Nela, disse ter sido muito pressionado pela chanceler alemã Angela Merkel para recorrer a um resgate financeiro como fizeram Irlanda, Portugal, Grécia e Chipre. Zapatero afirma ter feito de tudo para evitar o resgate à Espanha, que segundo o ex-premiê foi um recurso solicitado por Merkel por três vezes.

Recusou todas, conta o ex-premiê na publicação, porque acreditava que com este recurso a Espanha demoraria três décadas para sair da crise.

Para resistir às pressões, ele teve que recorrer a um pacote de medidas de austeridade, o primeiro na Espanha depois do início da crise. Foi o mesmo mecanismo, diga-se, utilizado pelo atual premiê.

A grande diferença é que o partido de Zapatero, socialista, sempre levantou a bandeira do investimento alto no estado de bem-estar social, justo por onde o então premiê colocou a primeira tesoura. Já Rajoy, conservador, é mais partidário de enxugar as contas do governo.

Por isso, a publicação do livro soou por aqui também como um velado pedido de desculpas aos espanhóis –embora Zapatero o negue formalmente– pelas tesouradas no social que seu partido tanto defendia.

]]>
0
Prisão lá, prisão cá http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/25/prisao-la-prisao-ca/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/25/prisao-la-prisao-ca/#comments Mon, 25 Nov 2013 18:57:22 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2421 Continue lendo →]]> A coincidência de notícias entre Brasil e Espanha tem me chamado a atenção.

E não me refiro nem à proibição de máscaras em protestos –que o Rio decretou em setembro, e a Espanha, em outubro–, ou ainda à descoberta de uso de transporte oficial por governantes e legisladores para fins pessoais.

Esta sintonia acontece até com fatos, digamos, incomuns em ambos os países, como mandar políticos para atrás das grades.

Dias depois de a Justiça brasileira decretar a prisão de acusados por envolvimento com o mensalão, a da Espanha se decidiu pela mesma pena para um caso que também se arrastava há anos –dez em concreto.

Trata-se do julgamento de Carlos Fabra, figura bastante conhecida no país, ex-presidente de Castellón, cidade dentro da Comunidade Valenciana e cuja costa foi bastante cobiçada por construtoras e políticas.

Nesta segunda-feira, Fabra foi condenado a quatro anos de prisão por fraude fiscal pela Audiência local. Segundo denúncia do Ministério Público, ele deixou de declarar cerca de € 2 milhões (R$ 6,3 milhões) quando governava Castellón.

Fabra é uma figura bastante conhecida por aqui. É um dos principais nomes do PP (Partido Popular), o mesmo do premiê Mariano Rajoy, na Comunidade Valenciana. Após ser denunciado por um empresário, ele passou a ter seu nome vinculado a casos de corrupção.

Sua filha, a deputada Andrea Fabra, protagonizou um dos principais “mêmes” do ano passado aqui na Espanha. No meio de uma sessão, ela mandou um senhor palavrão a deputados da oposição no momento em que o premiê, algumas filas à sua frente, anunciava um duro pacote de cortes de gastos. O gesto, flagrado por todas as câmeras que a enquadraram enquanto filmavam o premiê, foi interpretado por espanhóis como uma afronta a cidadãos diretamente afetados pelos cortes que Rajoy detalhava.

A deputada teve que pedir desculpas formais, mas para seu pai a condenação foi mais dura.

Mesmo assim, a Promotoria achou a decisão leve, já que pedia 13 anos de cadeia para Fabra, que, além de uma multa de € 1,3 milhão (R$ 4 milhões) só terá de cumprir quatro anos atrás das grades.

É um ano menos, aliás,  que a pena mínima a três cidadãos bascos que começaram a ser julgados na semana passada por…arremessar, em 2011, uma torta na cara da presidente da comunidade de Navarra, Yolanda Barcina.

Uma contradição que a Espanha também parece ter em comum com o Brasil…

 

 

 

]]>
2
Em 2014, menos 'feriadões' http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/20/em-2014-menos-feriadoes/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/20/em-2014-menos-feriadoes/#comments Thu, 21 Nov 2013 00:50:46 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2414 Continue lendo →]]> Hoje, no mesmo dia em que o Brasil celebrou um feriado em uma quarta-feira –ou seja, sem muitas chances de enforcá-lo–, o governo espanhol divulgou que, no ano que vem, o país terá apenas um feriadão, que é também bem comum por aqui. Uma realidade que, em tempos de crise e escassez de produtividade, o atual governo vem tentando mudar.

Essa foi a grande novidade da versão de 2014 do calendário oficial do país, publicado hoje no boletim do governo. Nele, consta apenas um feriado enforcado. Será em maio, coincidentemente por ocasião do dia do…Trabalho.

De resto, tirando Natal e Réveillon, todos os feriados nacionais cairão em uma segunda-feira ou uma sexta-feira, o que impossibilita o frequente hábito também espanhol de enforcar dias de trabalho.

Uma das propostas do plano do atual governo para dinamizar a vida laboral por aqui era justamente reduzir o número de feriados e, principalmente, de dias “enforcados” por eles. Em 2014, serão nove –dois a menos que no Brasil.

Como aí no Brasil, a Espanha também leva a fama de ter muitos feriados. E também como brasileiros, espanhóis contam os dias para o feriadão em que poderão passar quatro dias de praia e festa. É que, no fim das contas, este é, também, um país de praias lindas e gente animada, que sabe como poucos aproveitar as folgas no trabalho.

Em tempos de crise, no entanto, os feriados viraram vilões para muitas teses –inclusive a da chanceler alemã, Angela Merkel– que defendem menos dias livres para reativar a economia do país.

Por este motivo, Portugal decidiu suprimir quatro feriados no ano passado.

Na Espanha, o governo tem tentado mover feriados para dias em que se impossibilite o “enforcamento”. Este ano, foram apenas dois. A equipe de Rajoy quer, com isso, passar a imagem para Merkel e o resto da Europa de que seu país está disposto a trabalhar mais.

Ainda assim, os espanhóis costumam celebrar quando há um enforcamento. A começar pelos seus congressistas que, como contei neste post no início do mês, abandonaram a sessão plenária para começar mais cedo seu feriadão.

]]>
1
Lei (anti) cidadão http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/20/lei-anti-cidadao/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/20/lei-anti-cidadao/#comments Wed, 20 Nov 2013 02:26:31 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2408 Continue lendo →]]> Protestar em frente ao Congresso não pode mais. Nem fazer escrachos na porta da casa de políticos, ou ainda fotografar policiais durante manifestações. Muito menos usar máscaras nesses atos —leitores cariocas, soa familiar a vocês?

Quem cometer qualquer uma dessas “infrações” aqui na Espanha terá agora que pagar uma multa de até € 600 mil ao Tesouro público.

Isso segundo uma polêmica reforma de sua Lei de Segurança Cidadã,  que o governo espanhol tem previsto aprovar nesta sexta-feira, transformando em infrações as formas de protestos mais comuns nestes últimos três anos de protestos frequentes na Espanha contra a política de austeridade.

Já falam por aqui de volta da polícia franquista –uma referência à ditadura que o país viveu de 1936 até a década de 1980– e de infração aos direitos do cidadão por parte do governo. Grupos de ativistas estudam ir à Justiça, como a Plataforma dos Afetados pela Hipoteca, que tenta impedir ordens de despejos e recentemente conseguiu que o governo flexibilisasse a Lei de Hipotecas.

A equipe de Rajoy alega que é apenas uma atualização da lei atual, vigente desde 1991, para dar mais segurança aos cidadãos.

As multas mais altas são para as condutas que citei no início, justo as mais comuns em protestos por aqui. Concentrar-se em frente ao Congresso Nacional, por exemplo, é um tipo de manifestação que os madrilenhos têm feito com frequência. Nas últimas vezes, porém, a polícia cercou e bloqueou todas as ruas de acesso ao Congresso, no centro de Madri.

Outro recurso muito utilizado por manifestantes é a gravação de cenas em que, segundo eles, policiais fazem uso excessivo da força contra cidadãos. A cada grande protesto aqui em Madri geram-se dezenas de vídeos no YouTube mostrando agressões por parte de policiais. O governo alega, neste ponto, que isso tem atenta contra o direito à honra de sua imagem e coloca em perigo sua segurança.

Como o governo do Rio fez em setembro, a Espanha também vai proibir, com essa reforma, o uso de máscaras em protestos, sob pena de multa de € 30 mil. O mesmo valor pagará quem escalar prédios para protestar, montar barricadas ou queimas lixeiras.

O texto inclui ainda sanções aplicadas a infrações consideradas mais leves, como beber na rua perturbando a ordem pública, transportar pessoas a pontos de venda de drogas e estragar o mobiliário urbano. As multas vão desde € 100.

O teor do texto da reforma foi divulgado hoje pela imprensa local e em algumas horas gerou revolta. Hoje de manhã li a seguinte reflexão de um espanhol  em uma rede social: “A principal novidade da futura Lei de Segurança Cidadã é que já não seremos cidadãos”.

Vocês concordam?
]]>
2
Futebol e política http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/18/futebol-e-politica/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/18/futebol-e-politica/#respond Mon, 18 Nov 2013 14:21:46 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2406 Continue lendo →]]> Pegou bastante mal por aqui um jogo amistoso que a seleção espanhola participou este fim de semana na Guiné Equatorial.

O país, ex-colônia da Espanha, é comandado desde 1979 pelo ditador Teodoro Obiang, acusado junto com sua família de ser um dos regimes mais opressores e corruptos do mundo e de desviar para uso próprio dinheiro do Estado.

Misturar futebol com política é um hábito pouco comum por aqui. Mas desta vez foi inevitável. A seleção e, consequentemente, seus jogadores e o técnico do grupo, Vicente Del Bosque, foram muito criticados por aceitar o convite e disputar a partida.

Ao longo da semana passada, jornalistas questionaram os jogadores, em coletivas de imprensa de seus times, suas posições sobre participar de um jogo em um governo ditatorial. Os jogadores se esquivaram como puderam das perguntas, alegando que não cabia a eles este tipo de discussão, e algumas vezes os jornalistas foram cortados por assessores de imprensa de seus clubes.

Mas se o futebol nã0 quis se misturar com a política, a política se encarregou de fazê-lo. Quatro partidos de esquerda pediram formalmente ao premiê Mariano Rajoy um boicote institucional ao amistoso, o que o governo não fez.

Em artigos de opinião de jornais espanhóis como este publicado no “El Mundo”, sociólogos pediram que a seleção, atual campeã mundial e com um poder de mobilização enorme na África, se envolvesse com a questão e negasse o convite. Sua credibilidade, sustetam os autores, era o que realmente estava em jogo.

Falando em jogo, a modo de curiosidade, a partida, chamada de “sem graça” e “sem sal” pela imprensa espanhola, terminou em um “precário” 2×1 para a atual campeão mundial…

]]>
0
Sem demissões, lixeiros terminam greve http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/18/sem-demissoes-lixeiros-terminam-greve/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/18/sem-demissoes-lixeiros-terminam-greve/#comments Mon, 18 Nov 2013 10:36:17 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2393 Continue lendo →]]> Caminhava para a casa na noite de domingo quando um ruído de motores me chamou a atenção como não fazia desde os meus primeiros meses em Madri. Era o caminhão de lixo e lixeiros varrendo a rua. Em pleno domingo de chuva e termômetros a 4ºC, eles voltavam a trabalhar, depois de 13 dias da greve, como contei neste post na semana passada.

Logo que cheguei a Madri, me chamava a atenção a frequência com que via caminhões de lixo e lixeiros circulando pela cidade e coletando cada pedacinho de papel que moradores da cidade às vezes lançam sem pudor no chão, sempre limpo no entanto. Depois de pouco tempo, eles se tornaram comuns para o meu olhar já menos estrangeiro, que com alguns dias de lixo acumulado nas ruas voltou a notar a diferença desse serviço.

E acho que poucas greves e mobilizações de um grupo de trabalhadores ao longo destes anos de cortes salariais conseguiram justamente isso: fazer com que as pessoas comuns notassem sua diferença e, consequentemente, angariar seu apoio. Não teve uma pessoa com quem conversei sobre o tema lixo ao longo da greve que não apoiasse os grevistas.

No domingo, depois de uma mesa de negociações que durou 15 horas seguidas, eles conseguiram um acordo com as empresas responsáveis pelo serviço de coleta de lixo em Madri: o cancelamento de todos as 1.134 demissões anunciadas, o motivo da greve. Em troca, no entanto, aceitaram congelar salários até 2017 e reduzi-lo em 45 dias ao ano.

Uma condição ainda dura, mas que foi aceita pela ampla maioria dos lixeiros, que nesses 13 dias mostraram, aqui em Madri, a falta que fazem, como estas fotos que tirei só aqui no meu bairro dão uma ideia:

 

 

]]>
1
Madri, uma grande lixeira http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/13/madri-uma-grande-lixeira/ http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/2013/11/13/madri-uma-grande-lixeira/#comments Wed, 13 Nov 2013 10:49:49 +0000 http://luisabelchior.blogfolha.uol.com.br/?p=2378 Continue lendo →]]> Vocês devem ter visto nos últimos dias algumas imagens de montanhas de lixos aqui em Madri, depois de que na semana passada, lixeiros da cidade anunciaram uma greve.

Bom, funcionários em greve –até aí nada de muito novo por aqui, em tempos de crise. Mas experimente acumular nove dias de lixo dentro da sua casa…

No primeiro dia, eram algumas lixeiras transbordando lixo. No segundo, sacos acumulados pelo chão. No terceiro já havia contâiners queimados. E hoje, nove dias depois do início da greve, vários bairros da cidade, sobretudo do centro, estão tomados pelo lixo.

A greve acontece em protesto a um corte de nada menos que 1.130 funcionários de limpeza de Madri anunciado por três das quatro empresas que têm a concessão do serviço de coleta de lixo na cidade –considerado, aliás, um dos melhores entre as capitais europeias.

O anúncio revoltou os funcionários, já que o corte mandaria para a rua quase um quinto deles — no total, são 6 mil. Com isso, eles alegam que seu serviço se tornaria inviável, motivo pelo qual convocaram a greve.

Na última segunda-feira, grevistas, empresários e o governo de Madri se reuniram para um acordo que, por fim, retirasse as montanhas de lixo em Madri. As empresas apresentaram sua proposta final: reduzir o corte à metade. Os funcionários não aceitaram, a prefeita madrilenha, Ana Botella, não conseguiu mediar, e daí a greve já atingir seu nono dia ante um preocupante cenário de total indefinição sobre seu fim.

Os grevistas dizem que só voltam a trabalhar quando as empresas desistirem de todas as demissões. Os empresários não aceitam, a prefeita tira o corpo fora, e a cidade vira aos poucos uma montanha de lixo, hoje o principal assunto da capital espanhola.

Não só pelo destaque do assunto na imprensa, mas sobretudo pelo que os moradores da cidade veem –e cheiram, e pisam em cima… A última vez que vi algo semelhante foi há dois anos, em Nápoles, quando fiz esta matéria sobre o acúmulo de lixo por causa do enfrentamento da então gestão da prefeitura com máfias que controlam a coleta de lixo. Não é o caso de Madri.

Mas a violência também está presente por aqui. Os funcionários que não aderiram à greve estão trabalhando sob escolta policial para cumprir os serviços mínimos de limpeza estabelecidos pela lei, depois de um deles ser agredido enquanto trabalhava. Há vários contâiners queimados pelo centro –nos primeiros dias de greve, a imprensa local afirmou que alguns grevistas atearam fogo nelas e reviraram lixo para dar mais visibilidade à paralisação.

Depois de nove dias, não é mais preciso: aqui pelo centro de Madri, não vi nesses dias uma rua sem rastros, cada vez maiores, da falta de coleta. Em bairros mais afastados, amigos meus contam que o acúmulo não é tão grande, embora já não passem desapercebidos.

Na semana passada, quando a greve ainda entrava no seu terceiro dia, eu decidi carregar na mão uma mala de rodinhas depois de tanto desviá-la de restos de comida. Agora, há ruas por aqui que são um verdadeiro tapete de guimbas de cigarro, e trechos de calçadas totalmente tomadas por sacos de lixo.

Deem uma olhada nessas fotos desta galeria que o site do “El País” abriu para que leitores enviassem imagens da consequência da greve em seus bairros.

Um movimento de moradores da cidade pede intervenção do Exército e já coletou 22 mil assinaturas para que os militares limpem Madri. O Exército disse que o fará se for convocado pela prefeitura. Os comerciantes do centro alegam que as vendas foram afetadas e os empresários madrilenhos, ante a grande repercussão que as imagens tem tido na imprensa internacional, temem queda do turismo para as festas de fim de ano.

Mas é justamente a prefeitura que vem sendo apontada como a grande vilã no meio de tanto lixo. Mais concretamente a prefeita, Ana Botella, mulher do ex-premiê José Maria Aznar que assumiu o cargo sem ser eleita. Até o seu próprio partido, o PP, acha que sua atuação no caso é pífia, como manifestado ontem o líder da sigla em Madri.

Até agora, Botella disse apenas que multará as concessionárias que não cumprirem o serviço mínimo e descarta um alerta sanitário, apesar de avisos e boletins de órgãos de saúde sobre o risco de ratos e doenças pelo acúmulo de lixo.

Algo que moradores da cidade, como eu, esperamos, com a porta e janelas de casa bem fechados, que não aconteça.

]]>
3