Mileurista? 'Quem dera'
15/03/12 23:56O que você acha de um salário de mil euros ao mês?
Entre os jovens aqui da Espanha, a resposta varia de acordo com a época. Já foi sinônimo de luxo, passou a decadência e, com a crise, voltou a ser privilégio de poucos.
Um pouco antes de estourar a crise, essa média salarial era tão comum para espanhóis com faculdade, mestrado e até doutorado que esse pessoal ganhou até um nome: “mileurista”, um termo “criado” por uma estudante em 2005 que acabou entrando no vocabulário falado na Espanha. É provável, por isso, que você já tenha ouvido ou lido sobre ele.
Antes da crise, ser mileurista era quase uma filosofia de vida. Designava jovens recém-formados que viviam no esquema “low cost”, morando com os pais ou em apartamentos compartilhados. Não tinham dinheiro suficiente para comprar um carro ou hipotecar um apartamento, mas gastavam tudo o que tinham no celular mais moderno, em viagens baratas pela Europa e festas.
Como nem tudo é festa, essa turma começou a questionar esse modelo de vida e pedir mudanças nos contratos precários de empresas que sustentavam essa geração. Muitas delas mantêm seus trabalhadores como trainees (ou becários, como se diz por aqui), mesmo (bem) depois de eles se formarem, barateando os salários. E daí ser mileurista passou de privilégio a decadência.
Até…que chegou a crise, e com ela nem mil euros, nem 500 euros: quase metade da população jovem foi para a fila de desempregados, que hoje já ronda a casa dos 48%. Por isso, ser mileurista voltou a ser motivo de comemoração entre os jovens. Literalmente. Amigos meus daqui celebram quando conseguem um trabalho na sua área profissional com salários em torno aos mil euros. Ano passado, um conhecido chegou a fazer uma festa ao ser admitido em um emprego.
A história não é nova, mas volto a ela porque nesta semana o jornal espanhol “El País” está fazendo um raio-x bem legal dos mileuristas –e dos “nem mileuristas”, em uma série de reportagens que começou no domingo.
Hoje de manhã, em uma sala de espera, escutei a conversa indignada de três idosos sobre a crise no país. “Tenho oito netos com quase 30 anos, e quem você acha que sustenta eles? A minha pensão”, disse um deles.
- cartaz exibido durante uma das primeiras manifestações dos indignados, em maio de 2011
Ano passado, os antigos mileuristas voltaram a dar as caras nas manifestações do movimento dos chamados “indignados”, que tomou as principais praças espanholas da Espanha e exportou seu modelo de manifestações para o resto da Europa e cidades como Nova York e São Paulo. Em Madri, o epicentro do movimento, conversei com gente com doutorado e nenhum trabalho, com mestrado e ganhando 600 euros ao mês, como mostra o cartaz da foto acima. A menina que o segurava me contou que era mentira: ela acabara de ficar desempregada, e nem os 600 euros ganhava mais. Mileurista? “Quem dera”, disse ela.
Sugiro que eles venham ao Brasil, casem com uma brasileira (ou brasileiro), naturalizem-se e façam concurso público. Há cargos onde o canditado pode ganhar uns 5000 Euros no início de carreira.
Bem, eu também estou fazendo mestrado, sei falar inglês, estudo francês, arranho espanhol e um pouco do hebraico e como professor da rede pública do Estado de PE não espero ganhar mais que R$ 1.800!!! Ou seja muito aquém do mileurista. E com esse dinheiro não consigo sair da casa dos meus pais, pois a especulação imobiliária em Recife está altíssima. Se viver com essa renda significa crise na Europa, então, aqui no Brasil não estamos em desenvolvimento?
a mais pura verdade ! em Teresina Piauí tem gente formada e com mestrado recebendo salário minimo e sem a minima condição de sair de casa