Barça x Madrid, o bálsamo espanhol
22/04/12 10:52Esqueça crise econômica, rei caçando elefantes, desapropriação de petroleira na Argentina, idosos que terão de pagar por medicamentos antes gratuitos.
Quando é dia de Barcelona x Real Madrid, até esses temas tão polêmicos são deixados de lado.
O clássico dos clássicos, como é chamada por aqui a partida entre os dois principais times de futebol da Espana, teve uma nova versão ontem, na qual o Madrid derrotou o Barça por 2 a 1 em pleno Camp Nou, a casa do time catalão.
Então já dá para imaginar a festa que varou a madrugada aqui da capital espanhola. Cerca de 500 mil pessoas, segundo a polícia, foram celebrar a vitória –que colocou o Madrid a sete pontos de vantagem sobre o rival na Liga espanhola– na praça de Cibeles, palco de comemorações como a da Copa de 2010.
Passei por lá por volta das 2h30 e o clima era de vitória de campeonato mesmo: faixas e bandeiras do time e até da Espanha (quando é o Barça que ganha, as bandeiras que se agitam são a da Catalunha), gente cantando e pulando, carros buzinando.
Hoje, a foto de capa dos principais jornais é do português Cristiano Ronaldo, estrela do Real Madrid e autor do segundo gol do time da capital.
Claro que por aqui há torcedores de outros times também, mas a torcida do time “merengue”, como se costuma chamar o Madrid, é soberana. Ontem, me surpreendi com uma tímida mas presente comemoração do único gol do Barça no bar onde assistia a partida, lotado de “madridistas” como todos os outros bares e pubs que exibiam o jogo pelos quais passei no caminho.
Há dois anos, quando os arquirrivais se enfretaram aqui em Madri, em um empate que dava vantagem ao Barça, presenciei muita tensão nos arredores do o Santiago Bernabéu, o estádio do Madrid. Torcedores do time catalão tinham que esconder as camisetas e bandeiras, e um grupo deles foi escoltado pela polícia até o metrô.
Hoje, a capital logicamente acordou de bom humor — até o sol saiu forte pela manhã, quebrando uma série de dias frios e chuvosos.
O que não quer dizer que a “tempestade” política e econômica que se vive na Espanha tenha se desvanecido.
De manhã, na minha academia, espanhóis debatiam e criticavam a “postura frágil” de seu governo na expropriação da filial argentina da Repsol, a YPF, pelo governo de Cristina Kirchner.
E a polêmica viagem do rei, tema de dossiês nos dois principais jornais deste domingo, foi lembrada até madrugada. Um menino, diante da represália de sua namorada ao ser acusado por seus amigos de olhar para outra menina, disse a ela “lo siento mucho, me he equivocado y no volverá a ocurrir”, parafrasendo o inédito pedindo de desculpas que o rei Juan Carlos fez esta semana. E arrancando risos de todo o ônibus noturno onde estavam.