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Luisa Belchior

Diário Ibérico

Perfil Luisa Belchior é correspondente-colaboradora em Madri

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O tão temido resgate

Por Luisa Belchior
29/05/12 22:01

Já é terça-feira e a Espanha ainda não despertou do pesadelo da possibilidade de um resgate financeiro que começou na sexta-feira. Foi quando o Bankia, banco nacionalizado e que está no centro da mais recente crise financeira do país, anunciou que necessita uma bolada de 19 bilhões de euros para se recapitalizar, o que é 4 bilhões de euros mais caro do que o governo dizia ter disponível para todos os bancos em crise de solvência.

A perspectiva de um socorro externo assombra o governo espanhol, que tenta evitá-lo a todo custo sob o temor de que a Espanha caia na mesma trampa de dívidas externas de Grécia e Portugal.

Mas o terremoto causado pela crise de solvência do Bankia desde a semana passada está tirando as bases e o sono do premiê Mariano Rajoy, sempre preocupado em mostrar solidez aos seus vizinhos europeus com uma política conservadora e focada em ajustes fiscais

Antes do anúncio da sexta-feira, o governo calculava que precisaria injetar “apenas” 4 bilhões de euros no Bankia. Poucos dias depois, veio a bomba dos 19 bilhões de euros pedidos pela instituição, valor maior do que a que o governo dispunha para recapitalizar todos os bancos em dificuldade de solvência.

Todos. Não apenas um. Uns dias antes, o ministro de Economia havia afirmado, para acalmar o mercado, de que não seria necessário mais de 15 bilhões de euros para esses bancos.

A grande interrogação do momento é de onde Rajoy vai tirar esse dinheiro. De um lado, o Fundo de Reestruturação Bancária do governo só dispõe de 5,4 bilhões em liquidez. De outro, Rajoy não quer aceitar o resgate financeiro, embora peça uma ajuda indireta do Banco Central Europeu na forma de mais injeção de liquidez. Nesta terça-feira, começaram rumores de que o BCE negou esse pedido.

Em outros socorros a banco, o governo costumava usar dinheiro ganho com suas dívidas públicas que colocava no mercado. O problema é que nesses dias de prêmio de risco disparado, essa opção se torna praticamente impossível. Isso porque quando o prêmio de risco está alto o governo tem que desembolsar mais para vender seus títulos.

Especialistas, imprensa e membros do governo já estudam outras opção. Uma delas é usar verba do Fundo Europeu de Estabilidade, proposta do economista Carlos Mulas, presidente da Fundación Ideas, ligada ao Partido Socialista.

Outra solução cogitada é emitir mais títulos de dívidas, o que, por outro lado, pode aumentar ainda mais a desconfiança do mercado ante um aumento da dívida pública. E alimentar ainda mais o círculo vicioso que alimenta a subida do prêmio de risco e, com ela, as chances do tão temido resgate.

E, no fim do dia desta terça-feira, o país soube que vai dormir com mais dois pesadelos. Primeiro, o presidente do Banco Central da Espanha anunciou demissão, já pressionado pelo Partido Popular de Rajoy, ao qual pertence. Ele deixará o cargo no início de junho, um mês antes do fim de sua gestão.

Depois, já de noite, chegou por aqui a notícia, sustentada pelo “Financial Times”, de que o Banco Central Europeu rejeitou o pedido de Rajoy por injeção de liquidez para ajudar a pagar a recapitalização do Bankia, deixando o governo ainda mais acuado.

Na “vida real” da Espanha, o assunto ainda é meio nebuloso. A população ainda não entendeu bem toda essa crise e os riscos que ela pode significar, embora aos poucos já comecem a absorver o temor.

Hoje, na minha academia, uma turma de corredores reclamava da notícia de que um alto executivo do Bankia vai receber nada menos que 14 milhões de euros por conta de pensões e um acordo de pré-aposentadoria. Se diziam indignados porque, caso o governo tire dinheiro das contas públicas para a recapitalização do Bankia, isso vai significar um rombo de cerca de 500 euros dos bolsos de cada espanhol.

“Assim também vou querer ser resgatado”, dizia um deles, ainda mantendo o bom humor ante o pesadelo do resgate, que o país espera não se tornar realidade.

 

About Luisa Belchior

Luisa Belchior , 30, vive em Madri desde 2009. É doutoranda em Migrações Internacionais pela Universidade Complutense de Madri, onde cursou também especialização em Informação Internacional e Países do Sul. Começou na Folha em 2007, na sucursal do Rio, cobrindo os casos de violência da cidade. Antes, trabalhou no “Jornal do Brasil” e em “O Fluminense” e viveu seis meses nos Estados Unidos. É formada em jornalismo pela PUC do Rio de Janeiro. De Madri, é também correspondente da "Globonews" e da “Radio França Internacional” e faz colaborações para a revista “Vogue”.
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Comentários

  1. Pedro comentou em 30/05/12 at 10:21 am

    A Espanha fez uma casa linda mas com os pilares tortos e fracos (creditos lixo, gasto estupido etc). Agora não adianta ajeitar as paredes ou o teto, agora é preciso fazer todo de novo. E isso o que não entendem os políticos.

    O Brasil agora ta fazendo a sua casa, e parece que ela vai ser linda, demos uma olhada nos pilares pra eles sejam fortes.

  2. Silvino comentou em 30/05/12 at 10:19 am

    Quem acompanha a alta qualidade de cobertura jornalística que faz o El País sabe do ridículo estarrecedor que é essa política financeira internacional onde os lucros milionários são para poucos e os prejuízos bilionários são para todos. Infelizmente mais uma situação absurda a qual temos que nos acostumar. Esse ex-diretor que ajudou a quebrar o Bancaja e está para embolsar 14 milhões em indenizações é a azeitona de um martini diabólico que os mercados e governos nos empurram goela abaixo.
    E o PP, como de praxe, se opõe a investigar os responsáveis pela situação calamitosa em que se encontra o sistema bancário espanhol.

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