'Você diz tomate; eu, resgate'
12/06/12 20:35Uma questão de semântica tem tomado conta das discussões pós-socorro financeiro da União Europeia aos bancos espanhóis por aqui: se pode chamar esta operação de resgate?
Os debates acontecem porque o governo de Mariano Rajoy, que tentava evitar a todo custo esta palavra no vocabulário da sua gestão, se nega a usar o termo. No lugar, Rajoy chamou o empréstimo de uma “linha de crédito” aos bancos.
O argumento do governo é que o socorro –que pode ser de até 100 milhões de euros– foi especificamente para os bancos espanhóis, e não para o governo, como aconteceu com Grécia, Irlanda e Portugal. O dinheiro, assim, vai para as entidades bancárias e são elas que deverão devolvê-lo aos cofres europeus.
Rajoy disse que optou por esta “saída” –e, de novo, não um resgate– porque os juros que pagará por este empréstimo –estima-se que seja de 3%– são bem menores que os que paga atualmente ao vender títulos de sua dúvida. Hoje, por exemplo, a cifra bateu recorde e alcançou os 6,8%.
Mas é aí que entra o principal argumento de quem acha que se trata sim de um resgate. O dinheiro emprestado pela União Europeia passará pelo governo espanhol e, por tanto, o governo espanhol será o principal responsável pela sua devolução. Caso os bancos não paguem, a conta cairá no colo do Tesouro e, portanto, dos contribuintes espanhóis.
A troika –como é chamado o grupo formado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), BCE (Banco Central Europeu) e Comissão Europeia– virá periodicamete à Espanha vigiar de perto a aplicação do dinheiro, como faz com os países que sofreram intervenção.
Não há dúvidas que a intromissão da troika por aqui será mais “light” que a devassa que o grupo fez na soberania fiscal e econômica de Portugal, Irlanda e Grécia, exigindo uma série de cortes de gastos e ajustes. O empréstimo à Espanha, no entanto, também veio com condições, como enxugar os gastos com aposentadorias –cada vez mais a fonte única de lares espanhóis–, subir impostos, ampliar programas de ajustes e por aí vai.
Já os bancos terão de apertar bem mais o cinto e devem fechar agências e demitir pessoal. Também aqui, sobrará, ainda que indiretamente, para a população.
A discussão sobre chamar ou não o socorro de resgate foi destaque na imprensa desde domingo. Na segunda-feira, o canal de notícias da TVE (Televisão Espanhola) dedicou seu programa noturno de debate sobre atualidade para a questão semântica. E até abriu um fórum de discussão para que telespectadores opinassem, pela internet, se foi ou não um resgate. A maioria disse que sim.
A revista norte-americana “Time” até brincou com a discussão e titulou reportagem sobre o assunto de “You say tomato, I say bailout: how Spain refused to be rescued”. Por aqui, a frase foi adotada nas redes sociais e traduzida para “Tu dices tomate, yo digo rescate”.
Até agora, Rajoy continua insistindo no contrário. Ele quer, sobretudo, fugir do estigma da intervenção, que “queima” o país no mercado e afugenta investidores, aumentando os riscos de um resgate mais amplo e que incluiria todo o governo. Porque, neste caso, já não daria para negar o nome.
vocês dizem tsunami e eu digo marolinha…
Pelo que eu soube de fonte fidedigna a crise nos bancos espanhois não afeta suas filiais no Brasil. Ainda bem! Afinal é isso que nos interessa no Patropi e os problemas da España ficam por la mesmo.
No entanto, paralelamente a crise bancaria espanhola, os empresarios ibéricos querem investir cada vez mais no Brasil. Blz. pura!
A crise tem revelado que o vox pop tinha razão: a classe política não vale mesmo nada. Obviamente que esta crise económica tem como base uma crise política. Insistentemente, de Norte a Sul, tem-se provado que os políticos não têm pudor nenhum em mentir. Enfim, ou pelo menos em entrar em jogos semânticos. O caso espanhol é paradigmático. Há um ano Rajoy dizia que resolvia a crise espanhola num mês…está-se a ver como…
Infelizmente o PP, profundamente sectário, conservador e populista, ultrapassou na figura de Rajoy as fronteiras internas e com esta história do ‘semi-resgate’ ficou no centro das atenções internacionais: péssima imagem.
A culpa da crise não é da direita ou da esquerda. O culpado é o sistema financeiro, a falência dos bancos americanos, o mau crédito que passou de banco em banco. Uma bola de neve. Nisto talvez os dirigentes políticos tenham sido ingénuos. No entanto a gestão de tudo tem sido catastrófica, a começar pela Sra. Merkel.
Podem-lhe chamar crise europeia, mas ela na verdade é mundial. Isto poderá ser apenas a ponta do iceberg e não me parece que no resto do mundo há competência política para estancar este mal: a não ser que sirva um regisme do tipo chinês.
Vale lembrar o ditado original: you say tomato (tomeitow), I say tomato (tomatow).
A traducao tomate/resgate esta bem melhor que o tomate/bailout.