Menos aluguel, mais despejos
27/08/12 10:55As ordens de despejo são uma das caras mais crueis da crise aqui na Espanha. Como o país tinha um crescimento baseado no mercado imobiliário, muita gente comprou imóveis financiados por bancos pouco antes do estouro da crise, e agora pagam por isso.
A legislação espanhola torna o processo ainda mais sofrível: por aqui, além de devolver o imóvel, os compradores têm de seguir pagando a hipoteca até quitar totalmente o valor devido.
A partir desta semana, este esquema vai ficar ainda mais cruel. O governo aprovou uma norma que permite acelerar o despejo de quem não paga hipoteca. Assim, os devedores podem ter de deixar suas casas apenas dez dias após a ordem de despejo sair.
A ideia da proposta do governo, que o premiê Mariano Rajoy apresentou a seus ministros na sexta-feira, é estimular o mercado de aluguel do país, que está praticamente parado.
Aqui por Madri não se anda um quarteirão em qualquer ruela sem ver uma plaquinha de “aluga-se” penduradas em janelas. Os preços caíram um pouco e a procura também.
Mesmo assim, ainda há muita gente alugando apartamentos, já que se trata de uma capital. Todas as vezes em que eu busquei locais para morar enfrentei concorrência com outras pessoas, mas notei que, da última, em fevereiro deste ano, havia menos disputa.
Na minha primeira experiência, no início de 2009, quando os efeitos da crise ainda eram leves no mercado de aluguel de imóveis, foi algo parecido a uma gincana. Monitorava os sites que anunciavam apartamentos, e quando surgia um novo ligava correndo para descobrir que já havia gente na fila. Antes e depois das visitas, que eram também uma espécie de entrevista, topava com outros interessados chegando e saindo. Quando fui “selecionada”, comemorei como se tivesse ganhado um concurso.
Com esta nova lei, o governo quer retomar este ritmo, sobretudo o dos anos anteriores à crise, e colocar o país de volta na liderança europeia no mercado de aluguel de imóveis.
Mas os movimentos que tentam impedir despejos prometem mais protestos e ações a partir de setembro. Desde o início da crise e com mais força a partir de 2011, esses grupos vão a casas de pessoas com ordem de despejo no dia em que serão despejados de casa. Aglomeram-se na porta do prédio e dentro do apartamento, impedindo a entrada do oficial de justiça e, assim, o cumprimento da ordem.
Mesmo assim, há uma média de 517 despejos por dia aqui na Espanha.
O governo argumenta que a nova lei também beneficia o inquilino com medidas como a que lhe permite deixar o apartamento com um mês de aviso prévio sem ter que pagar multa por isso. Atualmente, a maioria dos contratos proíbe este aviso prévio no primeiro ano de aluguel.
Embora sejam casos diferentes –aluguel e compra de imóveis–, ambas as situações provocam um excedente de imóveis vazios na Espanha que, neste ano, já somam cerca de 690 mil.
acho os seus artigos excelentes, de uma imparcialidade excepcional, as idéias são agradáveis de ler, enfim uma pedagogia primorosa, parabéns Luisa.
Obrigada Gabriel! Seus comentários também são muito bem-vindos.
Um abraço,
Luisa.
Ainda há muita gordura para queimar nesse mercado perverso de imóveis espanhol, onde a tentação de ganhar ‘no mole’ é muito grande, como se vë pela quantidade enorme de imóveis estocados. O lado bom, digamos assim, é que os maiores causadores da crise atual, os bancos, ficaram com enorme ‘mico’, alguns fechando agëncias e abrindo imobiliárias no lugar delas. Babei de satisfação, devo dizer!
Olá Luiza. acho que hipoteca no Brasil tem outro siginificado. Hipoteca em espanhol da espanha se traduz como financiamento de imóvel no brasil. abços