'Pequeno-almoço' com austeridade
10/09/12 07:27LISBOA
“Mais austerudade”. Com essas palvras, em caixa alta, eu e muitos portugueses tomávamos o “pequeno-almoço” –termo que os tugas usam para café da manhã– nesta segunda-feira.
Era assim que começava o noticiário matinal do RTP, o canal de televisão público prestes a ser privatizado por causa da crise. Isso porque falta dinheiro para manter os gastos públicos, e foi justo este o motivo pelo qual o primeiro-ministro anunciou na sexta-feira novo pacote de cortes.
Austeridade não é uma palavra nova no vocabulário contemporâneo de Portugal. A diferença é que esses cortes significarão uma redução de salários. Na teoria, o governo vai aumentar as contribuições para a seguridade social a partir de 2013. Na prática, todos os trabalhadores passarão a receber até 70% menos.
Para mim, só não foi indigesto porque o pãozinho de mafra delicioso com o qual adoro começar meu dia quando estou na Terrinha não permite. Além, é claro, de eu não sentir na pele estes novos cortes e os outros tantos passados, desde que Portugal teve que recorrer ao socorro financeiro da União Europeia, que em troca exige uma dura meta de 4,5% do déficit em 2012.
Como as previsões por aqui estimam que o país fechem o ano com déficit a 5,5%,o premiê conservador Pedro Passos Coelho lançou aos portugueses o indigesto corte de salários.
E o fez em plena sexta-feira, tornando o fim de semana de sol e ainda muitas atividades de fim de verão aqui em Lisboa um pouco cinza. Houve protestos e, claro, muitas discussões em tascas, restaurantes e nas rodas de amigos da praia da Costa da Caparica.
E também nas redes sociais. Sobretudo porque o próprio Passos Coelho escreveu mensagem aos portugueses em sua página no Facebook logo após o anúncio. Disse, “não como primeiro-ministro mas como cidadão e pai”, que sabia não ser um bom ano para Portugal, mas pediu aos “caros amigos” portugueses que aguentassem firme, porque “esta história não termina assim”.
Como resposta, os “caros amigos” pediram sua demissão e, em 31 mil comentários até a manhã desta segunda-feira, mostraram que podem trocar sua típica melancolia por ira e outros sentimentos um pouco mais perigosos para o governo. “Pedro, uma enchadazinha fazia-te bem”, sugeriu um dos seus amigos no Facebook…
Luísa, os ‘tugas’?! A sério? Em ambos os lados do Atlântico há protocolos linguísticos. Do lado de cá palavras como ‘gajo’ ou ‘pá’ são sempre utilizadas de acordo com o contexto e a escala de (in)formalidade. Eu entendo que a intenção não seja má, mas parece (-me) tão mal…é que não é bem a mesma coisa que os ‘cariocas’.
Oi Manuel,
Para mim é uma maneira carinhosa mesmo –assim chamo meus amigos portugueses– e me permito escrever o termo por se tratar do blog, onde os textos são mais informais. Imagino que você seja português, por isso espero que não lhe tenha caído mal a referência. Se ainda assim não tiver gostado, me avise por favor.
um abraço.
🙂 Luísa, a palavra ‘tuga’ entre ‘tugas’ não tem nenhum problema. Mas é uma daquelas idiossincrasias lusitanas…é como dizer mal de Portugal: nós os portugueses queixamo-nos e criticamos, mas odiamos que alguém de fora o faça! Penso que inicialmente este termo não era o ‘melhor’ mas com o tempo tem sido adaptado pelos locais, o que o tem vindo a exorcisar. No meu comentário referi que sabia bem que o seu comentário era bem intencionado, mas a Luísa também sabe que a simples referência a Portugal neste jornal é capaz de transformar o fórum de comentários numa sarjeta a céu aberto! Compreendo que o ‘público’ possa não ser o mais erudito, mas é também da responsabilidade de quem escreve e edita a contenção (ou não) dos ânimos. Parece-me que há muita vontade incendiária! Cumprimentos, M.
Entendi Manuel, obrigada pelo depoimento. Mas do lado de cá não há nenhuma vontade incendiária não. O “tuga” será para mim sempre uma forma carinhosa mesmo. Abs e até a próxima.
Em Sao Paulo tambem tenho muitos amigos “tugas”, “japas”, etc e ninguem considera pejorativo. Folha e um jornal brasileiro de Sao Paulo, nao vejo nada demais o uso de expressoes locais.
O El País e o El Mundo também são jornais espanhóis, tal como o Público ou o Expresso são jornais portugueses e imagino o tipo de celeuma que o uso, por muito carinhoso que fosse, de palavras ‘locais’ como ‘sudaca’, ‘brasuca’ ou ‘zuca’ pudesse causar. Mas podemos sempre continuar no jogo da ingenuidade unilateral (ou o que vale para mim não vale para ti).
Senhor Elton S…. Infelizmente não sabe do que fala. Espanha, Portugal, Irlanda e Grécia são os países que estão a ser explorados pelo capital financeiro. E estes países foram enganados pelo países do Norte da Europa. Ou seja, para fazer para da Zona Euro estes países tiveram que destruir as suas industrias a favor das industrias dos países mais ricos e fascistas e racistas do norte da Europa. Conheço muito bem o que se passa, pois eu vivi muitos anos na Europa. E são os povos do Sul da Europa que estão a sustentar o projeto europeu. E se eles caírem a Europa irá cair toda. O sul da Europa tem milhares de anos e irá superar mais uma vez esta crise. Falem do que sabem e não especulem noticias de botecos.
Não acredito que os países do norte da Europa sejam fascistas e racistas. Sua opinião a respeito deles é preconceituosa e estereotipada. A indústria dos países do sul da Europa provou ser não competitiva, muito mais por efeitos da globalização do que pelo ingresso na zona do Euro. O Euro serviu para potentializar o problema criando um mundo não condizente com a realidade. No entanto, concordo que esses países irão superar a crise, assim que os reajustes financeiros forem seriamente seguidos.
Concordo com o Elton.
Esta com febre? Fumou alguma coisa?
Parabéns pela sua noticia. Tenho familiares e amigos na Europa. Sobretudo na Europa do Sul. Onde a “Crise” está a ser desculpa para destruir direitos que foram conquistados com muita luta. Mas a Europa vai sair mais forte do que nunca. Continuação de belo trabalho e continue a escrever como faz sempre.
obrigada Luiz.
abs.
A redução de salários é justa para corrigir distorções provocadas pelo ingresso na zona do Euro. Portugueses, irlandeses, espanhois, gregos devem concordar que eles gozaram de muitos anos de prosperidade com reais aumentos no poder aquisitivo não condizente com a capacidade produtiva desses países. Agora, é hora de corrigir o rumo de uma prática insustentável.
Que lastima o que esta acontecendo na Europa!!! E eles não conseguem sair desta crise!?!?