'Yes we Cat'
13/09/12 09:06Não digitei errado o título acima. “Cat” é uma abreviação de Catalunha, e a frase, uma brincadeira com o “Yes we can” (sim, nós podemos) do presidente norte-americano Barack Obama. Ela estampava uma das muitas faixas da manifestação de terça-feira em Barcelona durante a Diada, uma espécie de dia do orgulho catalão.
Como falei no último post, a data, que relembra a batalha de Barcelona com tropas da monarquia espanhola no século 18, ganhou este ano um fôlego inesperado. Cerca de 1,5 milhão de pessoas marcharam na capital catalã sob o tema “Catalunha, novo Estado da Europa”.
Hoje volto a ele –antes de falar sobre os touros, como havia prometido– porque as repercussões desse espasmo nacionalista foram enormes por aqui. Jornais e noticiários de televisão não param de falar no assunto. Ontem e hoje, choveram editoriais, artigos de opinião, reportagens, pesquisas e fotos sobre o nacionalismo catalão.
E quem não falou tanto foi até criticado. A TVE (Televisão Espanhola), rede pública e obviamente com tendência avessa a regionalismos, teve hoje que se desculpar publicamente por não ter destacado o assunto no seu noticiário na terça-feira.
Já o “ABC”, jornal direitista com pitadas monárquicas, só mencionou o assunto para falar de problemas da Catalunha como seu déficit, um dos maiores da Europa, com fotos de radicais catalães queimando as bandeiras da Espanha e da França. No “El Mundo”, de centro-direita, a tese de separação da Catalunha foi chamada de imbecil.
Essa tese da Catalunha como um “novo Estado da Europa” foi a mais comentada e criticada. Analistas apontaram que, caso se separe da Espanha, a região não cumpriria os requisitos para ingressar na União Europeia. Teria que criar moeda própria e, com isso, sua economia provavelmente colapsaria.
Mas todas essas discussões estão mais distantes de uma separação real que de uma combinação da insatisfação dos catalães com a crise e o apoio do presidente da região, Artur Mas. O presidente, segundo muito se falou por aqui, quis aproveitar a mobilização para angariar mais apoio financeiro do governo central.
Ainda assim, mal comparando com o “Yes we can”, o “Yes we Cat” reascendeu a crença de que a Catalunha pode ser um Estado independente. E digo que reascendeu porque a última grande notícia sobre o tema foi uma pesquisa de dois anos atrás mostrando que a maioria dos catalães não queria nem acreditava na separação com a Espanha.
Na terça-feira, depois de uma pesquisa do jornal “El Periódico” mostrar que diminuiu a rejeição à ideia separatista, o que se viu nas ruas de Barcelona foram catalães de todas as classes e idades com muito fôlego para, se não criar seu próprio Estado, ao menos mostrar, como dizia outras das faixas, a “Catalunha não é a Espanha”.
Continua chovendo no molhado na Catalunha e outras regioes espanholas.