Touros na TV
14/09/12 07:15Ao contrário –bem ao contrário, diga-se– do nacionalismo catalão sobre o qual falei nos últimos posts, touros são um tema espanhol por excelência (e não foi por acaso que a Catalunha baniu completamete as touradas de seu território)…
Uma semelhança entre os dois temas é que, como falei, toda hora voltam à tona.
Na semana passada, como a Folha noticiou, a rede de televisão pública espanhola voltou a transmitir touradas (aqui, para assinantes da Folha e do UOL).
A transmissão havia sido banida pela rede pública em 2006. Na época, o então governo socialista, decidiu que o conteúdo desses eventos, em que touros são mortos em público, era violento e impróprio para crianças.
Agora, sob gestão do conservador PP (Partidp Popular), a TVE voltou a exibir as touradas baseada no argumento de que não há nenhum incoveniente jurídico na trasmissão. E, é claro, nos bons índices de audiência que pode angariar.
Dias depois, com os protestos e discussões ainda quentes, um festival de touros de Tordesillas esquentou ainda mais o assunto.
Além do famoso tratado, Tordesillas é também conhecida por aqui pelo Toro de la Vega. A grosso modo –digo assim já que nunca estive lá– é uma espécie de torneio no qual uma multidão de moradores montados em cavalos e com lanças perseguem um touro, o torturam e o matam.
Este ano, o torneio foi anulado porque o touro foi flechado e morto fora dos limites territoriais estabelecidos para isso. Na delegacia, o jovem que abateu o animal disse estar orgulhoso do feito.
Antes disso, a festa já havia começado conflitiva. Dezenas de manifestantes formaram uma barreira humana em frente à praça de touros para impedir a festa, que julgam arcaica e desumana. Moradores que são fãs da festa partiram para o conflito, e os manifestantes acabaram removidos pela polícia.
“Há gente que mata galinhas. Nós matamos touros”, disse à TVE um dos 40 mil participantes da festa.
No dia seguinte, o Congresso espanhol anunciou iniciativas legislativas para impefir, a partir do ano que vem, o Toro de la Vega, findando a polêmica.
Ou melhor, dando uma pausa na discussão, que não tem cara de que vai terminar tão cedo.
É só notar para duas regiões que mostram como o tema os touros é bem fragmentado por aqui. Na Andalucia, no sul do país, as touradas são mais que uma tradição. São parte essencial da vida social e cultural. Proibir a prática ali é, na minha percepção, um pouco como o Rio discutir a proibição do carnaval na Sapucaí.
Na Catalunha, a prática já foi totalmente banida –e se você vir muitas referências a touros quando for à Barcelona saiba que isso é apenas um apelo a turistas estrangeiros.
Mesmo assim, a proibição da prática ali, há dois anos, não foi tão fácil. Houve longos e calorosos debates no parlamento catalão durante dias que antecederam a votação sobre a proibição. Lembro de um filósofo francês –peço desculpas, porém, por já não recordar seu nome– que apresentava sua tese em favor das touradas. Lembrou de Ernest Hemingway e outros escritores e filósofos a favor da festa.
Outro dia em Madri me surpreendi com um conhecido galego fervorosamente adepto das touradas, uma prática em geral rejeitada em sua região de origem, no norte da Espanha. Por outro lado, tenho uma amiga andaluza que não pode nem ouvir falar em touros.
Para a insatisfação dela, no entanto, o assunto não tem cara de que vai desaparecer tão cedo por aqui.
Catalunha probiu as touradas consideradas festas “espanholistas” mas nao o bou embolat.
http://www.youtube.com/watch?v=j-circ-h2LU
Não consigo imaginar o prazer que o povo possa ter em perseguir, torturar e matar um touro ou qualquer animal.
Menos mal, existe uma boa parte da população contrária a essa prática.
Nas touradas e nos rodeios eu sempre torço para os animais de quatro patas…