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Luisa Belchior

Diário Ibérico

Perfil Luisa Belchior é correspondente-colaboradora em Madri

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Ibéricos indignados

Por Luisa Belchior
16/09/12 21:18

As duas principais capitais da península Ibérica viveram um fim de semana de protestos. Desde que estou por aqui, é a primeira vez que vejo Madri e Lisboa protestarem simultaneamente. E contra os mesmos motivos: as políticas de ajuste de seus respectivos países.

Em Lisboa e outras cerca de 40 cidades portuguesas, milhares de pessoas foram às ruas ontem pedir que o governo desista do novo pacote de ajustes anunciado na semana passada, que resultará em cortes de até 7% nos salários.

Mas o enredo central foi o grito de basta que os portugueses colocaram para fora depois de quase um ano e meio vivendo sob as duras exigências da chamada troika, grupo formado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), Banco Central Europeu e Comissão Europeia, responsáveis pela intervenção financeira em Portugal no ano passado.

O lema da manifestação, convocada pelas redes sociais, dá uma ideia da ira portuguesa: “Que se lixe a troika! Queremos a nossa vida”.

“Estou aqui porque quero de volta meu país e não quero que meus filhos tenham que emigrar para sobreviver”, disse uma portuguesa, chorando, a uma repórter da televisão espanhola.

Mas não foi só em tom de lamento que os cidadãos de Portugal foram às ruas. Houve confrontos com a polícia que resultaram em quatro pessoas detidas e uma ferida. Manifestantes atiraram ovos e tomates contra o prédio do FMI em Lisboa, e, em Aveiro, um português colocou fogo no próprio corpo em protesto contra os cortes de salários.

O jornal português “Diário de Notícias” publicou editorial dizendo que o protesto foi um recado à Europa de que “não somos a Grécia” e não se pode mais aceitar “imposições sem explicações”.

E foi querendo evitar a lamúria de seus vizinhos que espanhóis também voltaram às ruas no sábado, depois de uma pausa durante o verão na maratona de manifestações por conta das políticas de ajuste.

Em Madri, o protesto foi não só contra os cortes mas também contra um iminente resgate que, segundo se especula, a Espanha pedirá nos próximos meses. A novidade de ontem foi o  pedido de um referendo sobre o pedido de resgate que o governo pode ter de fazer aos sócios europeus.

O argumento dos manifestantes –500 mil, segundo os sindicatos, e 65 mil, segundo o governo– é que o pedido de socorro não estava no programa de governo que Rajoy apresentou durante sua candidatura.

Caso contrário, prometem outra greve geral –já houve uma no primeiro semestre– e uma série de paralisações em série até o fim do ano. Amanhã, funcionários do setor de transporte abrem a jornada, com uma greve de trens em toda a Espanha, de metrô em Madri e Barcelona e de ônibus também na capital catalã.

Uma mostra de que o outono, que começa na semana que vem por aqui, deverá ser bem quente e indignado na península Ibérica.

 

About Luisa Belchior

Luisa Belchior , 30, vive em Madri desde 2009. É doutoranda em Migrações Internacionais pela Universidade Complutense de Madri, onde cursou também especialização em Informação Internacional e Países do Sul. Começou na Folha em 2007, na sucursal do Rio, cobrindo os casos de violência da cidade. Antes, trabalhou no “Jornal do Brasil” e em “O Fluminense” e viveu seis meses nos Estados Unidos. É formada em jornalismo pela PUC do Rio de Janeiro. De Madri, é também correspondente da "Globonews" e da “Radio França Internacional” e faz colaborações para a revista “Vogue”.
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Comentários

  1. Biruta comentou em 18/09/12 at 7:27 pm

    Arnaldo:
    Vai sonhando meu caro, vai sonhando.
    A economia é cíclica. Hoje mau na Europa bom na Ásia, Africa e América do Sul.
    Daqui por 15 – 20 anos para os que forem vivos verão que pode estar a acontecer exactamente o oposto.

  2. Neco comentou em 17/09/12 at 5:21 pm

    Tá feia a coisa em Portugal y España.
    Na España mais ainda porque os catalans querem se ver livre do dominio madrilenho. eles deveriam imitar mesmo para valer o que os portugueses conseguiram há séculos atras – sua independencia.
    Engraçado que Portugal e Catalunya situados nos 2 extremos opostos da España falam idiomas bem parecidos. Como se explica isso. Talvez Luisa seria um assunto para vc pesquisar.
    Me lembro que há anos atras andando pelo interior da Andalucia de repente vi uma placa grande “Caixa”. Fiquei admirado e curioso pra saber o que era. Me disseram que era filial do banco catalan Caixa(igual ao portugues).

    • Manuel comentou em 18/09/12 at 5:50 am

      A verdade é que ambas as línguas derivam do Latim comum, e, apesar de não servir de explicação, a primeira dinastia portuguesa (iniciada no século XII) foi a de Borgonha – sendo a avó de D. Afonso Henriques uma nobre chamada Sibila de Barcelona, filha do Conde de Barcelona, que casou com o herdeiro do Ducado de Borgonha. Não prova cientificamente uma origem comum das línguas, mas é um exemplo ancestral de como as histórias dos povos ibéricos se tocaram insistentemente.

    • Moo comentou em 21/09/12 at 7:43 pm

      O amigo ai acima conhece ou ouviu falar alguma vez da lingua galego-portugues?
      Nunca pensei que a palavra caixa pudesse dar tanto jogo. Seguindo essa mesma linha linha de “raciocinio” podemos afirmar que o Mussum falava catalao.

      • Manuel comentou em 22/09/12 at 5:32 pm

        Galaico-Português. A vontade era partilhar conhecimento, mas pelos vistos o mesmo não fazia falta. Esqueço-me sempre da esperteza endémica…

  3. Mo comentou em 17/09/12 at 11:51 am

    Madri precisa de um “manifestodromo”.

  4. Regis comentou em 17/09/12 at 10:13 am

    Olá Luisa,
    Vivi na Espanha por dois anos no início da década de 1990 e é uma pena ver a situação econômica do país neste momento. Sempre me impressionou o alto nível de politização do povo espanhol e, agora com a crise, podemos ver esse reflexo em sua mobilização social. Lógico que na atual situação existe também o sentimento de desespero e revolta de muitos, já que muitas famílias estão sem ganhos e tem gente até passando fome.
    Mas muitos dos que estão nas passeatas estão empregados e se mobilizam pelo social, em prol de toda a sociedade. Admiro muito isso.
    No Brasil, apesar de estarmos em uma situação econômica mais confortável, a corrupção também gera pobreza, desemprego, fome e mortes, só que de maneira mais velada. Ela também gera uma crise social, já que corróe toda a adm pública em todos os seus níveis. Já participei de passeatas contra a corrupção no Brasil mas me senti em parte frustrado com o pouco contingente. Se no Brasil houvesse uma mobilização social direcionada contra a corrupção equivalente a apenas 10% da que ocorre em função do futebol nacional, ou da que está ocorrendo na Espanha, eu penso que este país começaria a ter uma cara nova. Nesse aspecto, o povo espanhol está dando um exemplo a todos.
    Continue nos mandando notícias daí!
    Abs
    Régis

  5. Manuel comentou em 17/09/12 at 7:02 am

    Há uma grande diferença entre as duas nações ibéricas (não contando por agora todas as outras nações que existem dentro de Espanha…): Portugal desde cedo que assumiu e interiorizou a crise e as necessidades de ajuste e austeridade. Se calhar sofremos por antecipação antes mesmo da coisa começar a doer, mas ninguém não foi informado do que estava e ia acontecer. Já em Espanha assisto a um cenário ridículo de negação! Os cortes e recortes são anunciados diariamente, já foi pedido um resgate (para a banca, mas mesmo assim um resgate), fala-se agora num segundo resgate como condição para a compra de títulos pelo BCE…mas, tanto o governo como a comunicação social negam a verdadeira situação do país. Basicamente, o xarope é o mesmo dos outros, mas todos preferem acreditar que ainda estão longe, longe, longe… Infelizmente a TVE é hoje o que é, mas até a Sexta ou o El País pecam na desinformação. É como aquela personagem do Little Britain: “Look into my eyes, look into my eyes, the eyes, the eyes, not around the eyes, don’t look around my eyes, look into my eyes, you’re under…” Cumprimentos, M.

  6. Gustavo CL comentou em 17/09/12 at 2:05 am

    Talvez algumas pessoas achem que é possível acabar com a crise com um estalar de dedos. Recebem 80 bilhões de euros a juros muito abaixo do mercado e não se pode exigir medidas de austeridade de volta. Estas observações valem para outros países em situação semelhante. Talvez haja excessos, mas boa parte dos que protestam são contra qualquer austeridade, o que é irracional.

    • Manuel comentou em 18/09/12 at 6:00 am

      No caso português (e em muitos segmentos da sociedade espanhola também) os protestos não são contra a austeridade ‘per se’ mas mais por uma reivindicação de uma austeridade ponderada e com objectivos que venham a favorecer a economia – nem que seja a médio ou longo prazo! Não temos medo da austeridade, mas sim de experiências económicas e sociais sem fundamento. Nos tempos do FMI a sociedade brasileira não se mobilizava também?

  7. Arnaldo comentou em 17/09/12 at 12:58 am

    Solução para os que viveram gastando sem ter: Portugal-Passa a ser um estado Brasileiro, um enclave verde-amarelo no europa esfarrapada. O Brasil compra as dívidas lusitanas, e tomamos posse dessa terrinha onde só se lamenta o estado das couves e pronto. Espanha, se fragmente, divida-se(você já são intolerantes uns com os outros) e que cara região que se vire. Ai o Brasil vai arrematando os retalhos…. até a peninsula ibérica passar a ser Brasileira. Nós estaremos livres das leis protecionestas e ainda deixariamos o povinho de lá vir trabalhar nas obras de infra-estrutura que estaremos fazendo pelos próximos 5 a 10 anos. E todos ficam felizes. Benfica, Porto, Barcelona e Real vão ver com quantos páus de saf um verdadeiro e competitivo campeonato de futebol, periga todos cairem para a série B. E nem vou cobrar por essa assessoria.

    • Manuel comentou em 18/09/12 at 5:19 am

      Ainda bem que não cobra pela assessoria, porque afinal, feitas bem as contas…se a Europa e EUA continuarem em recessão e a China em desaceleração (e a ocultar uma bolha colossal) as coisas complicam-se para quem ambiciona uma expansão ultramarina (em pleno século XXI – quer anacronismo maior que este?!).
      Depois há as questões internas brasileiras: um mercado interno alimentado pelo crédito (usando palavras suas ‘gastando sem ter’), um crescimento estimado de 2% às portas de dois eventos planetários, ah…e as PPPs, negócios testados e que se revelaram desastrosos em todo o resto do mundo (responsáveis em grande parte pelo buraco financeiro português).
      Eu chamo a isto cuspir contra o vento.

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