Greve no 'El País', crise no jornalismo espanhol
08/11/12 12:26“A triste cor da crise”.
Esta frase era a manchete da matéria central, escrita em preto e branco, da edição de ontem do “El País”, o principal jornal da Espanha e um dos mais influentes do mundo. O artigo (disponível aqui), um duro texto que trata com pessimismo da falta de caminhos para sair de uma crise supostamente em seu começo, foi publicado no mesmo dia em que quase todos os jornalistas do “El País” faziam greve.
Como a Folha noticiou hoje, a maioria da redação –95% segundo os grevistas e 79% de acordo com a direção do jornal– aderiram à paralisação, que começou segunda-feira e termina hoje. O motivo é um plano de demissão de 149 funcionários –quase um terço da redação– e redução de salários anunciado no início do mês pelo presidente do “El País”, Juan Luis Cebrián.
O anúncio abriu um duro enfrentamento entre Cebrián e jornalistas e colaboradores históricos do jornal. Neste vídeo que reproduzo abaixo, alguns deles falam do que significa o jornal para eles e de como a atual direção estaria traindo os parâmetros da publicação que a tornaram uma das mais influentes do mundo.
Ontem conversei com um deles, o jornalista Ramón Lobo, ex-correspondente de guerra do “El País”, onde trabalha há mais de 20 anos. Ele disse achar que a crise que acomete o jornal não é econômica, mas de modelo.
“Acho que o acontece no ‘El País’ é um símbolo dessa crise, que começou econômica mas já começa a afetar nossos valores e até a democracia. Afinal o ‘El País’ é um símbolo da democracia na Espanha, nasceu junto com ela”, disse.
O argumento dos grevistas é que, até hoje, o jornal não teve perdas econômicas, o que invalidaria demissões e cortes de gastos. Ano passado, afirmam, gerou 12 milhões de euros (cerca de R$ 31 milhões). A direção do jornal diz, por sua vez, que o plano, embora doloroso, é a única maneira de garantir a continuidade do jornal, já que seu atual modelo é insustentável diante da crise.
Caso não haja acordo nas conversações –que devem terminar hoje sem sucesso–, os grevistas pretendem levar o plano de demissões à Justiça. Mas a medida se baseia em um parâmetro da nova reforma trabalhista espanhola que permite demissões no caso de que se preveja perdas de benefícios. Que, no “El País”, podem chegar a 2 milhões de euros este ano.
A greve que termina hoje ganhou a adesão de repórteres, redatores, editores, colunistas e estagiários. Dos correspondentes fora da Espanha, apenas três trabalharam, segundo os grevistas. Com a redação de Barcelona também parada, o “El País” de ontem usou textos de agências de notícias sobre a Catalunha.
E colaboradores de peso do jornal, como Fernando Savater, Elvira Lindo, Rosa Montero, e Mario Vargas Llosa, assinaram carta em apoio à paralisação.
O caso do ‘El País’ é apenas o mais emblemático, pela importância da publicação. Mas não o mais grave. Cerca de 60 jornais já deixaram de circular desde 2008, entre eles o “Público”, que estava entre os seis principais do país. Entre os gratuitos, apenas o “20 Minutos” ainda circula em papel, mas também enfrenta crise.
No total, a Federação das Associações de Jornalistas da Espanha calcula que cerca de 8.000 jornalistas ficaram desempregados por conta da crise.
Quem diria, o El Pais formador de opiniao em Espanha no brejo!
Oi Luisa, tocante o depoimento dos jornalistas, principais testemunhas do que acontece na Espanha e muito bom o seu relato desse fato.
Parabéns pelo texto!
O El País, tem presença informativa marcante no mundo, como sempre venho lendo o seu noticiário ele tem pequena tendencia para o PSOE, mas sem afetar necessariamente a sua neutralidade política e da economia. Não saberemos nunca a liquidez do periódico, mas sabemos que a Espanha “va muy mal”.