O congresso do Partido Comunista chinês ainda nem terminou e a chancelaria espanhola já começa a se mover para tentar estabilizar as estremecidas e ambíguas relações com o país asiático.

Digo ambígua porque, se por um lado os dois mantêm acordos de cooperação e a presença de empresas espanholas na China é crescente, por outro há conflitos velados pela competição comercial entre ambos e no resto do mundo.

Preocupa especialmente a Espanha a expansão chinesa na América Latina. O país ibérico leva alguns anos tentando tornar-se a grande ponte entre a Europa e os países sul e centro-americanos. Mas bastou uma viagem do premiê chinês ao continente em maio para ameaçar os planos da chancelaria espanhola. Na ocasião, Wen Jiabao angariou bons acordos comercias no Brasil, Chile, Argentina e Uruguai.

O caso argentino é o mais simbólico da expansão chinesa ante o recuo espanhol na América Latina: propositalmente ou não, a petroleira YPF, que era controlada pela espanhola Repsol antes de ser expulsa ano passado do país abrindo uma crise entre Argentina e Espanha, estuda agora parceria com empresas… chinesas.

Na ocasião, uma reportagem do jornal “El País” lembrou que a China angariou um quarto das principais operações de fusões e aquisições na América Latina em 2011 com participação de estrangeiras, enquanto que a Espanha só teve uma representante, a Iberdrola no Brasil.

Em solo espanhol, as relações se estremeceram neste mês, depois de uma megaoperação da polícia espanhola que descobriu e desmantelou uma quadrilha chinesa que sonegava impostos e explorava pequenos comerciantes de produtos vindos do país asiático, através de um esquema de suborno e corrupção.

Na semana passada, o comércio de atacado chinês passou o sábado fechado em protesto contra a má imagem da comunidade chinesa na Espanha que, segundo eles, a operação causou.

Ainda assim, a expansão chinesa dentro da Espanha é inegável, assim como a presença de espanholas na China. Um exemplo claro é a marca de roupas galega Zara, que, só neste ano, já abriu 32 novas lojas no pais asiático, além de um site de vendas online exclusivo para a China.