Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

Luisa Belchior

Diário Ibérico

Perfil Luisa Belchior é correspondente-colaboradora em Madri

Perfil completo

Melancolia na Espanha, ira em Portugal

Por Luisa Belchior
15/11/12 09:44

Na noite de ontem, findas as manifestações e atividades oficiais da greve geral aqui na Espanha, parte de paralisações em toda a Europa (como a Folha noticia hoje aqui, aqui e aqui), saí de casa para jantar e senti um cheiro forte de borracha queimada.

Descobri logo depois que ele vinha da Gran Via, a principal rua do centro de Madri a 20 km da minha casa, onde uma turma enfurecida queimou contêiners e pneus de carros de polícia, além de quebrar vidraças de um restaurante e pichar muros de hoteis.

Foi uma pequena, ainda que barulhenta, exceção aos manifestantes –um milhão, segundo sindicatos– que saíram às ruas da capital na noite de ontem após a jornada de greve para protestar sem violência contra a política de austeridade.

Embora a ira ainda corra viva na veia dos espanhóis, ontem, ao percorrer manifestações da greve e conversar com alguns deles, notei um ar de melancolia que raramente percebo por aqui.

Isso vinha principalmente de quem não aderiu à greve por 1) achar que já passou o momento de paralisações no país e 2) não querer arriscar perder o emprego, um “bem” cada vez mais escasso no atual país do desemprego.

“Graças a Deus tenho trabalho, e não vou colocá-lo em risco”, disse a gerente de loja María Torres ao atravessar um piquete na estação de metrô de Atocha.

Ela, como muita gente por aqui, contou ser uma das vítimas do “contrato basura“, como se nomeiam por aqui  contratos de trabalho feitos de forma que o contratante pague menos pelo contratado, que trabalha mais horas e pode ser demitido mais facilmente.

Para os funcionários públicos, aderir a greve também pesa no bolso. Cerca de 100 euros (aproximadamente R$ 265), que são descontados do salário no fim do mês. É o valor que um amigo que é músico da prefeitura terá que pagar por não conseguir chegar ontem ao seu local de trabalho, uma cidade próxima para a qual a operadora de trens havia cancelado todas as viagens.

Cristina Granda, uma professora de educação primária com quem conversei ontem, disse que também terá esse valor descontado, mas mesmo assim optou por aderir à greve geral, a oitava greve da história democrática mas a segunda sob a gestão do atual premiê Mariano Rajoy, a menos de um ano no poder.

“Acho importante fazer greve e manifestar-se, é uma forma de mostrar ao governo e ao mundo que não estamos satisfeitos com essa política de cortes. Os benefícios que conquistamos são para todos, e é uma pena que hoje cada vez menos pessoas lutem por eles”, disse.

No fim do dia, os próprios sindicatos reconheceram que a adesão a esta greve foi ligeiramente menor que a passada, em março. Como já contei nesta reportagem, houve consenso entre analistas de que isso ocorreu por causa do aumento do número de desempregados. Desde março, cerca de 600 mil pessoas perderam seus empregos, de acordo com dados do instituto de estatísticas espanhol. Menos trabalhadores, menos adesão à greve.

Já em Portugal, os protestos de ontem mostraram que, a despeito de uma certa melancolia típica de seu povo, a ira no país continua crescendo, como já havia contado neste post. Na frente do Parlamento, manifestantes atearam fogo no que viam pela frente, e houve fortes confrontos entre policiais e manifestantes.

Repito: não quero dizer com isso que haja uma mudança brusca no comportamento mais explosivo dos espanhóis e mais sereno dos portugueses, mas registrar umas pinceladas de melancolia no primeiro e ira no segundo que esta crise pode estar começando a desenhar.

 

Mulher olha vitrine de loja fechada por causa da greve na Porta do Sol

Loja de telefonia funcionando no centro de Madri apesar de adesivos pela greve colados por manifestantes na vitrine

About Luisa Belchior

Luisa Belchior , 30, vive em Madri desde 2009. É doutoranda em Migrações Internacionais pela Universidade Complutense de Madri, onde cursou também especialização em Informação Internacional e Países do Sul. Começou na Folha em 2007, na sucursal do Rio, cobrindo os casos de violência da cidade. Antes, trabalhou no “Jornal do Brasil” e em “O Fluminense” e viveu seis meses nos Estados Unidos. É formada em jornalismo pela PUC do Rio de Janeiro. De Madri, é também correspondente da "Globonews" e da “Radio França Internacional” e faz colaborações para a revista “Vogue”.
View all posts by Luisa Belchior →
Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
  • Comentários
  • Facebook

Comentários

  1. Amedar Consulting Group comentou em 16/11/12 at 4:26 am

    Just a smiling visitant here to share the love (:, btw outstanding pattern .

  2. Samuel Gueiros Jr comentou em 16/11/12 at 12:37 am

    não é esse o país que considera os brasileiros incapazes de entrar lá, que se acham superiores ao Brasil?

  3. Não sei não comentou em 15/11/12 at 7:43 pm

    Comportamento sereno dos portugueses…

    Pois, pois. Eu não quero ser chato, mas isso é um mito.

    A verdade é que tivemos inquisição, revoluções, guerras civis, ditaduras militares, ditaduras constitucionais, polícia política, matámos reis, matámos presidentes, tivemos massacres, escravatura, autos-de-fé, enforcamentos, nacionalizações, presos políticos, prisões com torturas e mártires.

    É provável que comparado com a violência de outros países, não sejamos tão violentos. Certo. Mas violência é sempre violência.

    A verdade é que não há Portugal sem violência. Desde a origem. É que quando perdemos a paciência, metemos as coisas nos eixos.

    • Paulino comentou em 16/11/12 at 8:33 am

      Bem sabemos nós brasileiros o que é Portugal sem violência. A história de nossos índios e dos negros advindos da África nos oferece os melhores exemplos.

  4. Manuel comentou em 15/11/12 at 7:20 pm

    O corpo de segurança que distribuiu cacetada e paulada em Madrid e Barcelona também estava muito melancólico.

  5. Hercilio comentou em 15/11/12 at 4:25 pm

    Sejamos claros, a flexibilização dos contratos de trabalho está por trás do alto desemprego espanhol, é resultado direto do Pacto de Moncloa, mesmo na bonança o desemprego era alto, é fácil demitir.
    Aqui muitos ainda tentam enrolar com o papo de que flexibilizar dá mais emprego, a rotatividade no Brasil é alta mesmo com a CLT, imagine se for flexibilizado.

  6. Taylor Fineas comentou em 15/11/12 at 2:38 pm

    O mais incrível é ver times de futebol europeus, principalmente espanhol gastando fortunas e querendo passar para o mundo uma imagem de todo-poderoso, contratando e importanto jogadores de outras nações à peso de ouro enquando jovens espanhóis estão desesperados por um mísero emprego. Isso é tipico desse povo arrogante mesmo. Porque a população não vai protestar na frente dos estadios dos milionarios clubes europeus ? Porque querem viver no bem-bom mesmo sem ter condições. E vai piorar.

  7. Arnaldo Nunes comentou em 15/11/12 at 2:24 pm

    Interessante para não dizer patético esses europeus. Durante as últimas decadas mamaram nas tetas do subsídio, bateram as portas na cara de sul-americanos, africanos e asiáticos, agora na hora de pagar a conta pela farra estão histéricos. A hora é de apertar o cinto e trabalhar… mas isso eles não gostam de fazer(exceto alemães é claro). Protecionistas, arrogantes, xenófobos, racistas estão sentindo na pele o que impuseram à vários povos, inclusive ao Brasil. Não tenho o menor sentimento em relação à eles; e que não comecem a bater em nossas portas querendo solidariedade. Nós passamos por muito pior e fomos sempre tratado com arrogância, se virem que vocês não são quadrados.

  8. RAMIRO MATOS comentou em 15/11/12 at 12:02 pm

    MOREI E ESTUDEI EM PORTUGAL POR MUITOS ANOS, ONDE ESCREVI ALGUNS LIVROS E COLABOREI COM JORNAIS E VOU SEMPRE A QUERIDA TERRINHA, CUJA QUALIDADE DE VIDA E MELHORIA SOCIAL, NOS ÚLTIMOS ANOS, DAR INVEJA, QUANDO RETORNO A NOSSA VELHA E ABANDONA BAHIA. LISBOA VIVE REPLETA DE TURISTA, SEGURANÇA PÚBLICA E TRANSPORTES DE ALTA QUALIDADE, BOAS MORADIAS, NÃO SER VER FAVELAS NEM NO INTERIOR DO PAÍS E PREÇOS ÓTIMOS, BOA COMIDA E EXCELENTES VINHOS, VI INDIGNAÇÃO DOS PORTUGUESES QUE NÃO QUEREM PERDER O QUE CONQUISTARAM, MAS COMPARADO AO BRASIL DE HOJE, PORTUGAL É UM PARAÍSO!

    • Babi comentou em 16/11/12 at 6:44 am

      “não ser ver favelas”: tem certeza que vc escreveu “alguns livros”?

    • Tamar comentou em 16/11/12 at 10:00 am

      Esse paraíso cabe no meu bairro aqui em Sampa, assim fica fácil né?
      Vai administrar 8 milhões de Km e 200 milhões de pessoas originárias de todos os continentes para ver o que é bom.
      Ô complexo….

  9. joacir comentou em 15/11/12 at 11:29 am

    Conversando com um argentino ele confessou nao entender porque seu pais dá dois passos pra frente e um pra tráss. Será que é herança cultural? E os eternos insatisfeitos portugueses? Pensavam que o EUro iria depositar ouro em suas contas todos os dias. A unica coisa que rende dinheiro é trabalho e a outra que equilibra isso é o voto certo. Mas, tem gente que nao aprende, nao é brasileiros?

Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emaillulibm@gmail.com

Buscar

Busca
  • Recent posts Luisa Belchior
  1. 1

    Bicicleta em Madri, parte 2

  2. 2

    Espanha fecha primeira TV pública

  3. 3

    Austeridade em Portugal: até quando?

  4. 4

    O livro de Zapatero

  5. 5

    Prisão lá, prisão cá

SEE PREVIOUS POSTS
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).