Contra promessa, Espanha mexe em pensões
30/11/12 21:30As pensões representam aqui na Espanha o último bem social que as políticas de austeridade ainda não ousaram entrar fundo. Mas hoje chegaram perto. Nesta sexta-feira –o fatídico dia da semana em que o governo daqui distribui más notícias aos espanhóis– a equipe do premiê Mariano Rajoy anunciou que não vai reajustá-las de acordo com a inflação no ano que vem.
Pode não ter sido uma redução direta das pensões, mas a medida tem muitos efeitos reais. Pela lei de seguridade social espanhola, todos os anos o valor que o governo paga aos pensionistas é reajustado de acordo com o IPC (Índice de Preço ao Consumidor), que, segundo o governo divulgou hoje, fechou o mês em 2,9%.
Em vez disso, o reajuste será só de 1% para pensões acima de 1.000 euros ao mês e 2% para quem recebe menos que isso mensalmente.
Ok, é um aumento, você pode pensar, mas não real, porque por outro lado há o aumento do custo de vida. Em média, os pensionistas vão deixar de ganhar 436 euros em todo o ano, segundo um cálculo feito pelo jornal “El País” após o anúncio do governo.
E há um agravante nisso: hoje em dia, muitas famílias são integralmente sustentadas pela pensão de idosos. Em novembro, havia nada menos que 300 mil lares nesta situação, o triplo de 2008.
A Espanha tem hoje quase 9 milhões de pensionistas –para comparar, os desempregados são cerca de 5 milhões.
Em segundo lugar, há um forte simbolismo neste anúncio. Ele é uma quebra de promessa que o premiê Mariano Rajoy fez ano passado, quando ainda era candidato. “Se algo não tocarei, serão as pensões”, declarou Rajoy na ocasião, uma frase que foi amplamente repetida ao longo deste ano, todas as vezes em que se divulgavam rumores sobre congelamento ou redução das pensões.
O atual premiê foi também um forte crítico de seu antecessor, José Luis Rodríguez Zapatero, quando o socialista decidiu congelar as pensões durante sua gestão. Era a única vez que o governo tinha tocado nas pensões. Até hoje.
Se uma coisa ficou clara com toda essa crise que a Europa enfrenta, é que o Estado de Bem-Estar Social, embora seja uma ideia generosa, não é mais viável. Os dois países que estão melhor enfrentando a crise são Alemanha e Inglaterra, os mais liberais. Menos impostos, menos Estado, empresas e indivíduos mais livres para perseguir os seus objetivos. Parece cruel, parece darwinismo social, mas parece que dá mais certo assim.
E quem acredita em promessa de candidato?