Brasil e a evasão de jovens na TV espanhola
04/12/12 22:43Ontem assistia a um de meus programas favoritos da televisão espanhola, a série “La que se Avecina”, quando o Brasil apareceu no meio da história através de dois estereótipos muito comuns, um já meio passado e outro bem atual: o de imigrantes irregulares e o de país do futuro.
Embora às vezes tachados de grosseiros e ranzinzas pelos latino-americanos, os espanhóis têm também um humor afinadíssimo e bem escrachado. Sabem rir de si mesmo e fazer ótimas piadas disso, na minha opinião. E o “La que se Avecina”, título que faz trocadilho combinando seu enredo –em que os personagens são todos vizinhos– com a expressão, usada para quando se prevê algo ruim a caminho, é um exemplo disso.
A série retrata o dia a dia de um condomínio nos arredores de Madri cujos moradores estão quase todos endividados por causa da crise. A construtora do prédio deu um golpe nos compradores e sumiu. Desde então, eles seguiram em derrocada: perderam o emprego, foram abandonados por suas mulheres…
E daí o humor afinadíssimo, que consegue arrancar gargalhadas (pelo menos minhas) com situações tristes e reais. Eu interpreto como uma crítica, em tom cômico, a quase tudo que há de ruim hoje na Espanha. Com piadas super atuais, falam da política, de valores da sociedade e até da herança franquista, encarnada em um dos protagonistas.
Bom, mas o que queria contar mesmo é que, no episódio desta semana, três personagens brasileiros entram em cena. Um deles é a nova namorada de Fran, o filho de um dos moradores, apesar de ser bem mais velha que ele (a cena está aqui, para quem quiser ver). Dançarina de uma boate, ela se muda para a casa dele e leva junto o resto da família.
A presença da trupe brasileira é reprovada pelos moradores, embora todos se sintam atraídos por eles. Mesmo assim, acabam ligando para a polícia e denunciando os imigrantes irregulares, que são levados de volta a seu país (veja neste outro link a cena).
A virada de jogo para o nosso país vem quando o jovem espanhol decide ir atrás da namorada e anuncia que vai morar no Brasil. “Então você quer viver sua vida em um país em vias de desenvolvimento?”, questiona seu pai, no que ele responde: “Melhor que estar em um com seis milhões de desempregados…”, uma referência à Espanha e sua taxa de desemprego que ronda os 25%. E que, em novembro, voltou a subir, segundo divulgou ontem o instituto de estatística espanhol.
Se na série o pai de Fran, o jovem apaixonado pela brasileira, tentava impedir de qualquer maneira seu filho de deixar o país, na vida real não tem sido assim. Ainda que sejam fortemente ligados à família e valorizem ter seus filhos por perto como bons latinos, muitos espanhóis têm incentivado os filhos a buscarem trabalho fora da Espanha.
Outro programa de televisão, desta vez de atualidades, exibido esta semana mostrava essa realidade através de um jovem casal que fazia as malas para ir a Londres, onde conseguiram trabalho. O pai de um deles, que os levava ao aeroporto, resumiu esta situação ao responder ao repórter como se sentia com a emigração de seu único filho: “devastado, minha mulher nem conseguiu vir. Mas mais triste é que sei que aqui eles já não têm presente e não terão futuro”.
A história está no vídeo abaixo, do programa “Comando Actualidad”, se alguém quiser assistir:
adoraria que os espanhóis pudessem aprender, com mais otimismo e coração aberto, nas situações advindas da crise. nós, brasileiros de muitas gerações, crescemos com a sombra de crise. no entanto, ao meu redor, vi o caminho do empreendedorismo mudar o destino de famílias, inclúsive a minha. aprendi que toda crise precisa de uma saída. e, para isso, usar a coragem e a criatividade era mais importante que qualquer outro valor. seria um bom momento para espanhóis e brasileiros – que, aliás, receberam inúmeros imigrantes, alguns deles meus avós – pudessem estar mais próximos e unidos, e trocar mais, sem preconceito ou comportamentos estereótipados. a crise requer jogo de cintura e mãos a obra!
Ola Luisa, vivemos na Espanha ha 5 anos e lamento dizer que sua visao é parcial e superficial. Sugiro que procure fazer uma analise mais profunda sobre a relacao social entre Espanha, Brasil e o resto da America Latina, da mesma forma que procure evitar episódios pontuais de Televisao para dissertar sobre a realidade de um país. Seria o mesmo que ver a mulher invisel, ou a grande familia e resumir a situação brasile ira. Lamentável.
Olá Pedro,
Onde você leu ou teve a impressão que essa era a minha intenção? De maneira nenhuma eu busquei fazer uma análise mais profunda e nem menos ainda uma dissertação sobre a relação social entre Espanha, Brasil e América Latina ou a realidade da Espanha. Para isso usaria os meios acadêmicos, não um blog, e me formaria socióloga. Este blog tem a função de comentar atualidades da Espanha e contar fragmentos (fragmentos, não dissertações) do dia a dia na Espanha que não cabem no jornal para leitores do Brasil e, claro, quem mais tiver interesse em ler. Então não posso comentar que um episódio de uma série de televisão tratou do Brasil por meio de estereótipos só porque a informação não é uma análise profunda? Desculpe, mas eu discordo. E, por favor, comente sempre que quiser, já que você mora por aqui também e por isso pode aportar uma opinião interessante. Espero que você tenha entendido a mensagem e espero mesmo que você não leve a mal minha resposta.
abs,
Luisa.
Olá Luisa,
Adorei o episódio da tv Espanhola, ri bastante. Aliás, como rio também com a Grande Família, que relata sim a realidade Brasileira. A realidade Brasileira é aquela que agora tem condições de comprar uma tv e assiste a episódios semanais e não os que somente assistem os canais estrangeiros e vibram com a cultura deles. Tenho acompanhado seu blog, assim como de outros jornalistas da Folha, e fico aliviada quando a crise daí te permite escrever sobre outros assuntos que fogem da dureza dela. Ah, vibrei com “Seguiremos”
Concordo com o Pedro, o artigo oferece uma visao parcial e superficial.
Referente a imigraçao espanhola ao Exterior devido a crise economica, e possivel afirmar que e uma “meia verdade”. Existe um aumento de espanhois residindo no Exterior mas se consideramos apenas espanhois nascidos em Espanha, as cifras sao insignificantes.
Fonte: INE (www.ine.es) ou http://www.realinstitutoelcano.org/wps/portal/rielcano/contenido?WCM_GLOBAL_CONTEXT=/elcano/elcano_es/zonas_es/ari4-2012
Imigrar para a Inglaterra, ok… Agora imigrar para o Brasil: só em último caso. Não foi em Sâo Paulo que mataram um italiano no segundo dia dele no Brasil? Só maluco pra vir pra cá…