Em Sol, marcha ao consumo
10/12/12 17:00A Porta do Sol, principal praça de Madri, tem sido muito falada por ser palco dos principais protestos da Espanha desde 2010. É para mim uma espécie de praça Tahrir daqui, guardando as devidas proporções (nenhum mandatário espanhol foi desposto, por enquanto…).
Só que Sol, como chamamos por aqui essa região, é também o epicentro turístico de Madri e, por isso, arrasta até si uma multidão a cada fim de semana que marcha em direção às grandes lojas dali. Este fim de semana, o primeiro das compras de Natal e das ainda tímidas promoções de fim de ano, levei um susto com a quantidade de gente por lá.
Como moro perto e acabava de chegar de viagem, fui a Sol na tarde de sábado fazer compras de supermercado. Só não desisti por causa da dispensa vazia em casa, mas foi por pouco. Tive que dar meia volta com a bicicleta e, andando, fui esmagada na multidão, como poucas vezes fui em manifestações na mesma praça.
No comecinho de 2009, no segundo dia em que estava em Madri, fui à Porta do Sol com uma amiga para comprar um chip de celular e lembro de ter me espantado com a quantidade de gente lá. Perguntei a ela o que acontecia e ela disse que era sempre assim, o que eu comprovei a cada fim de semana que vou lá nestes quatro anos que se passaram desde então.
Não encontrei até agora estatísticas sobre o movimento por lá neste fim de semana, mas jornais e noticiários daqui também destacaram a multidão que enfrentou o frio próximo a 0ºC para ir às compras.
Mas como vocês bem sabem a Espanha está em crise, e a Porta do Sol é só um recorte, bem pequeno, do comportamento do consumo espanhol. Porque no geral ele vem caindo –em novembro, o IPC (Índice de Preços de Consumo) fechou em 2,9%, ante 3,5% em outubro). Natural em uma sociedade que já tem mais de um quinto de sua população vivendo debaixo da linha de pobreza e um quarto dela desempregada.
Os cortes de salários, principalmente de funcionários, também deve intimidar mais o consumo neste fim de ano, o primeiro com redução nas folhas de pagamento. O mais importante deles é o do bônus de Natal, uma espécie de 13º que na verdade é parte do salário, fragmentado em 14 parcelas (há também uma extra no meio do ano). Neste ano, o governo anunciou a supressão da última parte do salário, o que foi motivo de uma série de manifestações durante o verão, todas adivinhem aonde? Sim, na Porta do Sol.
Ao menos para os funcionários do País Basco, o pagamento está garantido. Nesta segunda-feira, o presidente da região, Patxi López, confirmou, como já havia anunciado antes, que pagará o bônus de Natal, em outra demonstração de regiões que vêm se rebelando contra medidas do governo central.