Para esquecer da crise, corrupção
07/03/13 01:00No período pré-crise, eram os imigrantes e o terrorismo. No estouro dela, a economia e os empregos. Agora, em tempos de “mensalão” ibérico e com a crise mais assentada, a corrupção virou a protagonista entre os problemas que tiram o sono dos espanhóis.
É isso que indica neste começo de 2013 o Barômetro do CIS (Centro de Investigações Sociológicas da Espanha), uma pesquisa que, há mais de três décadas, colhe opinião de espanhóis mês a mês para traçar um raio-x da opinião pública do país.
Com exceção de agosto, a cada mês o CIS faz uma série de perguntas a cerca de 2.500 espanhóis residentes no país. A mais conhecida delas é a que pede aos entrevistados para indicar os três principais problemas da Espanha naquele momento, na sua opinião.
Na última edição, realizada em fevereiro, a corrupção passou a ser, depois do desemprego, o principal problema apontado pelos entrevistados. E a porcentagem dos que se dizem aflitos com a corrupção acima de qualquer outra coisa mais que dobrou em apenas um mês. Passou de 17% em janeiro para 40% em fevereiro.
A série histórica da pesquisa mostra que o desemprego sempre foi a principal questão do país, na percepção dos entrevistados. Os indicadores posteriores variam de acordo com a época: terrorismo em tempos de atentados do ETA (grupo terrorista que reivindica o separatismo da região do País Basco); imigração na primeira década dos anos 2000, quando o país demandava estrangeiros para ocupar postos de trabalho; guerras mundiais quando o metrô de Madri virou alvo da Al-Qaeda e foi bombardeado em retaliação ao envio de tropas espanholas ao Afeganistão.
A corrupção, na maior parte do tempo, não pareceu incomodar muito os espanhóis. Tirando alguns poucos meses, o percentual de entrevistados que a apontavam como um dos principais problemas da Espanha poucas vezes passava de 10%, e em muitos meses não chegava a 1%.
Mesmo com denúncias de suborno, desvio de verba e fraude fiscal que pipocam na imprensa daqui nos últimos dois anos, os espanhóis se mostravam bem mais preocupados com questões de ordem econômica.
Em dezembro e janeiro, os espanhóis começaram a desviar o olhar, ainda antes de vir à tona o que no Brasil está sendo chamado de mensalão espanhol, um suposto esquema de doações ilícitas de empresários ao PP (Partido Popular), do atual premiê Mariano Rajoy.
Em fevereiro, já com o caso denunciado e amplamente divulgado, a corrupção entrou no seleto top 3 dos problemas que mais afligem os espanhóis, já insones com a taxa de desemprego na casa dos 25%, a debandada de jovens qualificados e a tensão social nas ruas.
Mesmo assim, a corrupção deve continuar no foco das atenções por aqui nos próximos meses, ao que indicam o andar das investigações sobre o suposto mensalão e a repercussão do caso, que a cada semana ganha um novo capítulo.
A história, como já contei aqui, começou quando o “El País” denunciar uma suposta lista coordenada pelo ex-tesoureiro do PP, Luis Bárcenas, com doações ilícitas de empresas ao partido distribuídas a seus dirigentes como o atual premiê Rajoy. Evoluiu para a descoberta de uma conta de Bárcenas na Suíça e de bens não declarados de sua mulher, abriu uma guerra fria entre o ex-tesoureiro e a cúpula do PP e já levou o partido de Rajoy a anunciar que vai processar o “El País” por publicar o suposto caso.