Em Madri, cubana também é alvo de protestos
12/03/13 18:43Repercussão parecida com a da blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil está tendo a vinda da líder das Damas de Branco, Berta Soler, a Madri.
Desde a morte de Laura Pollán em 2011, Berta passou a liderar o movimento, composto por mulheres familiares de prisioneiros políticos em Cuba. Como a blogueira, ela ganhou passaporte do governo cubano após a aprovação da reforma migratória na ilha e, pela primeira vez na vida, saiu de território cubano.
Nesta terça-feira, acompanhei sua primeira agenda pública, aqui em Madri, que de uma homenagem às Damas de Branco se transformou em um tenso enfrentamento verbal entre dissidentes cubanos e simpatizantes do regime dos irmãos Castro em Madri.
Berta era a protagonista de um ato na Casa de América, prestigioso centro cultural focado na América Latina, assistido por representantes do PP, partido conservador do premiê Mariano Rajoy que simpatiza com os dissidentes da ilha. Também estavam lá alguns dos dissidentes cubanos trazidos a Madri com o acordo entre Espanha e Cuba em 2010 para trazer presos políticos da ilha, além de integrantes das Damas de Branco radicadas aqui.
Quando a ex-presidente de Madri Esperanza Aguirre, uma das figuras políticas mais fortes da capital, chegou ao ato e sentou-se ao lado de Berta, um homem da plateia levantou e interrompeu o início de seu discurso. Pediu para fazer uma pergunta e, ao questionar a continuidade do embargo espanhol à ilha, que segundo ele limita a entrada de investimentos espanhóis, foi interpelado pelos dissidentes cubanos sentados uma fila na frente.
Enquanto o bate-boca aumentava de nível, várias pessoas na plateia levantaram e estenderam uma enorme faixa com os dizeres “Viva a Revolução”, o que não caiu nada bem para quem, como alguns ali, viveram anos nos calabouços dela. Imediatamente e com violência, eles arrancaram a faixa e partiram para cima do grupo. Todas as pessoas levantaram, copos, bolsas e câmeras foram derrubados.
Mas logo os manifestantes foram expulsos, depois de conseguir atenção total da imprensa que estava em peso no ato. Eu, que estava estrategicamente ao lado da saída de emergência por medo da confusão, saí para conversar com eles, que me falaram ser da Associação de Cubanos em Madri.
Esta foi a diferença para os protestos aí do Brasil durante a estadia da blogueira Yoani Sánchez. Aqui, o enfrentamento é entre cubanos mesmo, e não só simpatizantes de ambos os lados. Em Madri, há tanto os dissidentes quando cubanos emigrados.
Este último era o caso do homem que protestou. Ao final do ato, ele pediu desculpas pela confusão gerada pela intromissão e disse ser presidente da Associação de Cubanos em Madri, onde, segundo ele, vive há 30 anos.
Berta Soler, que assistia tudo de longe, adotou o mesmo discurso de Yoani Sánchez no Brasil: “É normal que isso aconteça porque estamos em um país democrático. Em Cuba, eu não podia nem sequer levantar o braço”, disse.
A ex-presidente de Madri, já conhecida por declarações polêmicas e bem conservadoras, foi mais agressiva: “embora no Ocidente hoje ainda haja fanáticos de supostas conquistas dos Castro, a realidade é que os anos de comunismo arruinaram o país”.
Ânimos bem exaltados, hem! Lastimável a grosseria com que vem sendo tratadas as palestrantes cubanas. No caso da Yoani Sanchez é até tachada de funcionária da CIA!
Acho que elas querem apenas expressar a indignação e revolta do povo cubano.