O 'corralito' espanhol
27/03/13 05:44Em tempos de congelamento de poupanças no Chipre e temor de que o método se aplique em outros países europeus, a Espanha voltou os focos ao seu próprio “corralito” –como foi chamado o bloqueio de contas bancárias aplicado na Argentina na crise de 2001. É assim como é chamado o caso de centenas de clientes de bancos do país que aplicaram suas poupanças em investimentos que as instituições lhes ofereceram sem informar dos altos riscos deles.
Nesta semana, esses clientes, sobretudo na região da Galícia, no norte da Espanha, intensificaram os protestos por uma solução que lhes devolva suas poupanças, até hoje bloqueadas.
Insatisfeitos com a solução apresentada pelo governo, de que se tornem acionistas dos bancos, eles já ocuparam sete prefeituras da Galícia só nesta semana, interrompendo sessões plenárias. Em um dos casos, funcionários saíram pela janela, com medo do protesto. Em Pontevedra, uma das principais cidades galegas, o prefeito saiu escoltado de seu gabinete e, perseguido por manifestantes na rua, buscou refúgio em um quartel da polícia local.
Em Sanxenxo, outro município galego, os manifestantes ficaram retidos na prefeitura por horas, assim como a própria prefeita, depois que a polícia fechou as portas do local para evitar que mais gente entrasse. E uma mulher idosa que dizia ter bloqueados € 60 mil (cerca de R$ 154 mil), tentou se matar ingerindo comprimidos.
Em nenhum dos casos houve agressões ou incidentes mais graves, mas os ânimos estão acirrados. O governo condena as manifestações, e os manifestantes condenam o governo e os bancos que, dizem, já receberam parte do socorro da União Europeia a instituições financeiras espanholas.
A polêmica toda gira em torno das chamadas “preferentes”, ações preferencias e de alto risco nas quais esses clientes foram aconselhados por seus bancos a investir suas poupanças. Isso nos anos anteriores à crise econômica e financeira na Espanha, quando, animados com o boom imobiliário, bancos incitavam seus clientes a aplicar suas poupanças. Com o estouro da crise, essas instituições se encheram de ativos tóxicos e ficaram insolventes. E o dinheiro aplicado nesse ativos, muitas vezes poupanças da vida inteira de idosos, ficou bloqueado.
Os manifestantes alegam que seus gerentes lhes ofereciam esses produtos sem nunca informar-lhes dos riscos que a aplicação continha. A Justiça espanhola respalda essa versão e afirma que os bancos não poderiam oferecer esses produtos a clientes comuns.
Um deles, o Novagalícia chegou a pedir desculpas (como contei neste post ano passado) e admitir o erro. Mas, como todos, alega simplesmente não ter mais dinheiro, e por isso o “corralito” involuntário.
O governo condena os protestos e disse que a solução que encontraram é uma das mais vantajosas na comparação com outros casos de bloqueio de contas na Europa. Mas os manifestantes se recusam a aceitar virarem acionistas dos bancos.
Principalmente porque, agora, sabem dos riscos desse investimento. Esta semana, por exemplo, as ações preferenciais do Bankia foram desvalorizadas e chegara a € 0,13, dando prejuízo a mais de 400 mil acionistas.