O efeito Semana Santa
02/04/13 13:37Apesar de a foto aí de cima ser de uma procissão, o efeito Semana Santa ao que me refiro no título tem a ver com a ressurreição de alguns empregos e o ainda esperado milagre da multiplicação de alguns deles aqui na Espanha.
Hoje o país soube que, pela primeira vez desde o início da crise, o desemprego caiu no país durante o mês de março, na comparação com o mês anterior.
Foi pouco, 0,1%, o que quer dizer que umas 5.000 pessoas conseguiram um contrato de trabalho no mês de março, segundo pesquisa do Ministério de Trabalho divulgada nesta manhã. Mesmo assim, podia ser um respingo de ânimo para o país, já que desde 2008 o índice de desemprego não descia nesse mês e, no ano passado, 38 mil pessoas perderam o emprego nesse mesmo período.
Não foi.
A avaliação geral, na imprensa, entre especialistas e até no próprio governo, é mais para negativa. É que, segundo o segundo o próprio Ministério reconheceu, essa redução se deve ao efeito Semana Santa.
A Semana Santa espanhola é, mal comparando, um pouco similar ao nosso carnaval, em termos de folgas no trabalho, interrupção das aulas, estradas cheias, ocupação em hotéis e viagens internas.
Então muitos contratos de trabalho são feitos neste período. Ou seja, em caráter temporário, como foram mais de 90% dos assinados neste ano, segundo o Ministério, a grande maioria no setor de serviços e nas regiões mais turísticas do país.
Que não são poucas nesta época. A Semana Santa é seguida com devoção aqui na Espanha, não só por católicos praticantes mas também por turistas curiosos para acompanhar as enormes procissões e pela imprensa, que acompanha e noticia cada uma delas.
O que me lembra sempre a dinâmica das escolas de samba. Guardadas as devidas e (muitas) proporções –afinal, por aqui desfilam monges com imagens de santos e de Jesus Cristo–, a estrutura é parecida.
Não há uma premiação, mas aqui cada agrupamento se prepara o ano inteiro para sua procissão. Se ela não saem por causa da chuva, típica aqui nesta época, os noticiários abrem todos com imagens de seus membros desolados e chorando.
Mas se saem, há espécies de alas e uma evolução a seguir ao longo do trajeto das procissões. O “abre-alas” é geralmente composto por mulheres vestidas de negro com as típicas “peinetas” espanholas –aquele pente comprido que fica preso a um coque e segura um véu, neste caso igualmente preto. A elas seguem homens encapuzados –uma referência a uma penitência aplicada na época da Inquisição– e elementos também usuais nas procissões brasileiras, como a imagem de Jesus Cristo na cruz e de algum santo.
A foto que abre este é de uma que aconteceu aqui no centro de Madri no sábado. Eu acompanhei, como gosto de fazer todos os anos, e percebi que, embora ela tenha passado pelo epicentro turístico de Madri, a maioria dos que a acompanhavam ao meu lado eram espanhóis. Quem sabe, pedindo pela esperada multiplicação dos empregos em seu país.
Bonita a sua descrição da festa da semana santa e também do desejo da multiplicação dos empregos. Que assim seja!
A sua analogia é perfeita, a semana santa na España é uma cultura, dedicada profundamente como algo transcendente onde vida e ressurreição rompem com a morte.