Juízes ibéricos indignados
05/04/13 18:07Depois dos jovens, dos despejados, dos idosos e até de políticos, parece que os juízes ibéricos agora se unem ao “status” de indignados, muito na moda por estas bandas.
Digo isso porque o Tribunal Constitucional de Portugal vetou no início da noite desta sexta-feira pontos da proposta de Orçamento de 2013 aprovado pelo governo do país há alguns meses.
O veto anula os cortes do extra de Natal a funcionários públicos e pensionistas e redução do seguro-desemprego, medidas que constam do Orçamento que o Parlamento aprovou ano passado, gerando uma corrente de protestos no país.
A decisão pode levar até que o governo de Passos Coelho convoque novas eleições. É cedo para saber, mas é fato que o veto deve tornar inviável que Portugal cumpra as metas estabelecidas para este ano pela troica, o grupo formado por Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI que colocou as condições para o resgate financeiro à Portugal e fiscaliza seu cumprimento.
O que não parece ter intimidado a Justiça portuguesa.
Vale lembrar que também nesta semana, há apenas dois dias, o juiz espanhol José Castro decidiu indiciar a filha caçula do rei, a Infanta Cristina, por suposta participação de desvio de verbas públicas pela empresa de seu marido, como falei aqui nos dois últimos posts. Castro desafiou o consenso geral de que a Justiça espanhola não ousaria envolver um membro da monarquia em um processo judicial.
Além disso, um grupo de juízes espanhóis deve respaldar nos próximos meses a decisão do Tribunal Europeu que, no mês passado, declarou como ilegal a legislação imobiliária espanhola e afirmou que o judiciário do país pode, se quiser, impedir e paralisar ordens de despejo a pessoas que não pagam hipotecas impostas pelos bancos.
Outro indício que nos dois países, ambos comandados por governos conservadores, juízes também estão indignados.
Esses juízes ibéricos aí só estão defendendo seus lacaios, pois sabem que se não fizerem nada serão os próximos a sofrer cortes nos seus gordos e imorais salários, benefícios e aposentadorias. Aí “proíbem” aos políticos que querem combater a gravíssima crise que os próprios ibéricos (inclusive esses juízes) fizeram.
Lembrem também a esses juízes aí que ficar batendo seus martelinhos em seus confortáveis fóruns não ajudará a resolver a crise. E querer ficar posando de salvador dos “indignados” impedindo que cortes extremamente necessários sejam feitos só vai piorar a situação.