Nove anos fora do Iraque
18/04/13 23:13Nesta semana em que o fantasma do terrorismo voltou à pauta do dia nos Estados Unidos e nos noticiários ocidentais, a Espanha relembrou, por outro motivo, a “guerra ao terror” norte-americana da qual participou por algum tempo. Há exatos nove anos desta quinta-feira, o país ibérico anunciava a retirada de suas tropas militares no Iraque, no primeiro grande rompimento de um governo ocidental com a tática do então presidente norte-americano George W. Bush.
Como eu comentei no post anterior, a presença de tropas espanholas no Iraque foi o mote para que Madri entrasse na rota dos atentados da Al Qaeda. Foi por causa disso, alegou, que o grupo terrorista fez na capital espanhola o atentado com o maior número de mortos desde o 11 de Setembro nos Estados Unidos.
Em 2004, terroristas da organização baseados na Espanha explodiram uma série de bombas em um trem da linha de metrô para os arredores de Madri, deixando quase 200 mortos e mais de 1.800 feridos. O impacto foi ainda maior porque a explosão aconteceu bem no centro de Madri –o trem, com destino à cidade de Alcalá de Henares, onde muitos jovens estudam, estava a poucos metros da estação de Atocha, a principal da cidade.
Volta e meia amigos meus daqui me contam detalhes do dia e sempre dizem que, em princípio, todos, inclusive alguns meios de comunicação, davam por certo que aquilo era obra do ETA. Quando chegaram as primeiras notícias de que o grupo basco negava autoria, reivindicada pela Al Qaeda, ninguém entendeu o que a organização terrorista queria atacando Madri.
Demorou um pouco para que percebessem se tratar de uma retaliação à presença espanhola no Iraque. Mas quando caiu a ficha, os espanhóis foram para as ruas em milhões, em todas as principais cidades, pedir a retirada das tropas espanholas.
Tudo isso acontecia a dias das eleições gerais que definiriam o próximo chefe de governo espanhol. O então líder dos socialistas, José Luis Rodríguez Zapatero, aparecia nas pesquisas de intenção de voto logo atrás do Partido Popular, do até então premiê espanhol José Maria Aznar.
Foi Aznar, também convencido da existência de armas de destruição em massa no Iraque, quem determinou o envio das tropas espanholas, após um aperto de mãos com George W Bush amplamente divulgado na Espanha.
Por isso, em questão de dias os socialistas, que já levantavam a bandeira da retirada das tropas, ultrapassaram os conservadores, e Zapatero ganhou as eleições. Ao ser nomeado chefe de governo, seu primeiro ato foi justamente o anúncio de que todos os militares espanhóis destacados para o Iraque voltariam para casa.
Hoje, em artigo publicado no jornal “El Mundo”, o ex-premiê Zapatero afirma que recebeu uma ligação de Bush dizendo-se “decepcionado” com sua decisão. Não para os espanhóis, que mesmo antes do atentado em Madri já demostravam forte rejeição à presença espanhola no Iraque, onde 13 de seus militares destacados morreram em operações.
Por isso analistas acham pouco provável que, hoje, o atual premiê Mariano Rajoy considere unir-se a eventuais novas guerras ao terror. Mas também não descartam a possibilidade, já que Rajoy, então líder da oposição, foi a principal voz contrária a retirada das tropas há nove anos. Em nome de seu partido, o único que não apoiou a decisão de Zapatero, afirmou na ocasião que a retirada das tropas deixaria a Espanha mais vulnerável para outro eventual ato terrorista.