Menos gente, mais déficit
23/04/13 11:27Por uma coincidência de calendários do instituto de estatística espanhol, o INE, e do europeu, o Eurostat, a Espanha soube no mesmo dia que sua população minguou e seu déficit se expandiu no ano passado.
A divulgação dos dados, nesta segunda-feira, pode ser obra do acaso, mas a relação entre eles não. Porque se de um lado imigrantes foram embora motivados pelos cortes de gastos para alcançar o déficit exigido pela União Europeia, por outro lado a evasão de cidadãos estrangeiros e até nacionais pode ter ajudado a que a Espanha não tenha alcançado a exigência de Bruxelas em 2012.
Bom, vamos as dados: sobre a população, o INE divulgou que em janeiro de 2013 havia 205,7 mil pessoas menos que em 2012 nos registros do governo. A baixa foi impulsionada pela queda no número de estrangeiros no país, de 216 mil.
É pouco? Talvez, comparando com o total de habitantes na Espanha –47 milhões. Não foi a quantidade, no entanto, o que chamou a atenção por aqui, e sim o fato de que esta foi a primeira vez que o INE registrou queda na população desde que faz a pesquisa, há 17 anos. E foi justo nesta época que a população da Espanha começou a engordar, pela chegada de imigrantes atraídos pela grande oferta de mão de obra e o crescimento veloz do país.
Só que os estrangeiros não são os únicos a buscar no aeroporto a saída para a crise. Junto deles, espanhóis estão fazendo o mesmo, como já comentei por aqui. Sobretudo jovens nacionais, que, segundo a pesquisa do INE, são hoje 500 mil a menos que ano passado.
No curto prazo, a evasão até alivia o mercado de trabalho, que hoje não demanda mão de obra. Uma possível continuidade dessa queda, no entanto, preocupa o governo, já que a Espanha é também um país que envelhece –há 110 mil idosos mais que em 2012– e precisa de força de trabalho para manter o já carregado sistema de pensões.
Porque o que o governo arrecadou ano passado não foi o suficiente para equilibrar suas contas, pese ter feito maior aumento de imposto da história democrática do país e medidas de austeridade quase mensais em 2012. Foi o que mostrou também nesta segunda-feira o Eurostat.
Segundo a agência europeia, a Espanha teve o pior déficit da União Europeia em 2012: 10,6%, superando até a flagelada economia grega.
É verdade que nessa conta entrou o resgate europeu aos bancos espanhóis em 2012, de € 100 bilhões, embora tenha sido direcionado ao setor bancário e não aos cofres públicos. Mesmo assim, descontando o socorro a Espanha teria fechado o ano com déficit de 7%, ainda acima do acordado com Bruxelas, de 6,3%. E isso é ainda o dobro do limite máximo recomendado pela União Europeia, de 3%.
Por isso, e já prevendo os maus resultados, o governo de Mariano Rajoy vem tentando um relaxamento das metas de déficit para este ano. O que a UE, na noite de segunda-feira, afirmou que fará. Depois de Portugal e França, Bruxelas dará uma folga também à Espanha, alargando para 2016, dois anos mais, o prazo para alcançar os 3%.
O governo se diz confiante– nesta terça-feira, o Banco Central Espanhol afirmou que a recessão parou no primeiro trimestre de 2013. Mas espera que até lá sua população ainda esteja aqui para ver.