Austeridade, ano 3
06/05/13 20:49Tudo começou com o Cheque Bebê. Foi há exatos três anos, em uma manhã na qual o então premiê José Luis Rodríguez Zapatero anunciou, em cadeia nacional e pela primeira vez em sua gestã0, uma série de cortes de gastos sociais do governo. Ali nascia a política de austeridade da Espanha pós-crise, que nesta semana completa três anos e não dá sinais de fraqueza.
Não esqueço da cara de Zapatero, visivelmente abatido, algo envergonhado, na manhã de 2010, principalmente ao falar do Cheque Bebê, uma ajuda de € 2,5 mil que o governo dava a qualquer família espanhola que tivesse um filho ou adotasse uma criança. A medida funcionava desde 2007 e foi uma de suas promessas de campanha.
Por isso, no dia 12 de maio de 2010, o socialista, pressionado pela União Europeia, anunciava o fim do benefício, além de uma série de outros cortes. Era um golpe dele mesmo contra seu próprio governo, que chegou ao poder com uma série de mudanças na área social e, nos primeiros anos da crise, a negava rotundamente.
Ali era o começo do fim de seu governo –no ano seguinte, pressionado por todos os lados, Zapatero convocava eleições antecipadas–, mas também o começo ainda sem fim da senda da austeridade que acompanha a Espanha desde então.
Nestes três anos –ou 1.000 dias, segundo contou o “El País” nesta reportagem publicada no domingo– a política de austeridade foi muito além da ajuda de custo para casais que tivessem filho. Ela fez uma varredura nos benefícios, chegou a direitos básicos, como Saúde e Educação e agora ameaça colocar suas garras sobre as pensões.
Mesmo assim, acho o corte do Cheque Bebê emblemático, uma espécie de divisor de águas de uma Espanha focada em reforçar gastos sociais, em investir em infra-estrutura e pouco preocupada com o endividamento a uma outra Espanha com todos os olhos nas contas públicas.
O Cheque Bebê era a forma de o governo dizer, através de uma política pública, que queria mais gente no país, mais consumo, mais dinâmica. Com a persistência da crise, esse discurso foi aos poucos se diluindo. A política de austeridade foi seu empurrão final, mesmo que, em princípio, foi pensada para durar alguns poucos meses.
Nem mesmo o conservador Mariano Rajoy, sucessor de Zapatero e voltado a secar gastos da administração pública, planejava seguir por tanto tempo no caminho da austeridade, que acabou se tornando a grande marca de seu ano e meio de governo até agora.
E ninguém arrisca por aqui uma data para o fim dessa política de austeridade.