No eurodia, euroceticismo ibérico
10/05/13 09:35Ontem foi o Dia da Europa, uma recordação do passo para a criação da União Europeia que empolga a cada ano menos seus cidadãos. Sobretudo os daqui do sul que, destarte a data cheia da efeméride este ano –60 anos–, começam a ver no bloco um dos grandes vilões da atual crise que enfrentam.
Quando cheguei na Europa, me chamava a atenção a quantidade de palavras que levavam a etiqueta “euro”: eurodeputados, eurodebate, eurocentrismo, eurocopa, eurocurso, eurotratamento e o que mais a imaginação de quem quisesse dar um “upgrade” em seu produto conseguisse inventar, estimulados pela então recente entrada de Portugal e Espanha na União Europeia.
Quatro anos depois de uma crise que passou a questionar a eficácia e até a existência da União Europeia, vejo pipocar mais nomes negativos com a etiqueta, como “eurocrítica”, “eurocrise”, “eurorejeição” e, a mais frequente delas, “eurocetiscismo”.
Em Portugal e na Espanha, houve uma série de atos comemorativos do dia, mas também protestos que manifestaram a “euroraiva”. A União Europeia virou uma das vilãs de manifestantes contrários às políticas de austeridade de seus governos. Eles veem no bloco o cerne da Os duros cortes de gastos, sobretudo no social
Em Portugal, a manifestação é mais direta, com mensagens como “Que se Lixe a Troika”, nome de um dos movimentos mais numerosos e ativos atualmente no país, que propõe o calote do país ao empréstimo contraído no resgate financeiro em 2011.
Mas aqui na Espanha a “eurorejeição” tem entrado em discursos de políticos de partidos que em teoria estão alinhados ao bloco europeu. Hoje mesmo o presidente da região da Andaluzia, no sul da Espanha, o socialista José Antonio Griñán, disse que “então a Europa não vale a pena” ante o questionamento feito pela Comissão Europeia sobre um decreto de seu governo para expropriar imóveis de propriedade de bancos.
É verdade também que este não é um discurso único aqui na Península Ibérica, onde, pressão por cortes à parte, a etiqueta “euro” ainda tem um peso forte. Ajuda que um dos homens fortes do bloco europeu é justamente um português, Manoel Barroso, presidente da Comissão Europeia. E que, ontem, negou haver crise do euro durante cerimônia para celebrar o dia.
Realizada, claro, bem longe de seu país natal.