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Luisa Belchior

Diário Ibérico

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Reforma trabalhista no Madrid Open

Por Luisa Belchior
14/05/13 19:27

Neste fim de semana, enquanto esperava para entrar na quadra central do Master 1.000 de Madri, um dos principais torneios de tênis do mundo, vi na prática o que a Espanha passou o dia discutindo nesta terça-feira: a reforma trabalhista, aplicada sobre um jovem desempregado que trabalhava na limpeza do lugar, ganhando agora menos que ano passado pela mesma função, segundo ele me contou.

Esta reforma, uma das principais do atual governo conservador, foi muito criticada quando anunciada, ano passado, porque, entre outros pontos, flexibilizou contratos de trabalho e facilitou a demissão. A defesa do premiê Mariano Rajoy é que as mudanças são uma forma de dinamizar o mercado de trabalho e permitir, no longo prazo, mais contratações.

Hoje, especificamente, ela voltou a ser destaque em todos os meios de comunicação daqui porque o governo Rajoy rejeitou recomendações da Comissão Europeia feitas ontem para criar um contrato único de trabalho no país. O que, disse a CE, poderia evitar as diferenças entre os contratos permanentes e os temporários, que desde o início da crise são os que mais crescem.

Isso porque ficou mais fácil, e barato principalmente, para empresas espanholas fazerem acordos temporários, chamados aqui de “contrato basura” –algo como “contrato lixo”. No lugar de ter um empregado em regime permanente, elas fazem indefinidamente uma série de contratos temporários para um mesmo posto.

Há duas semanas, recebi email de uma amiga jornalista, com mestrado e experiência na América Latina e no norte da África, pedindo indicação de emprego de garçonete. Ante a minha resposta surpresa, contestou que recebera aviso de que seu contrato, do tipo “basura”, não seria renovado, pela terceira vez em sua carreira.

Voltando ao torneio de tênis de Madri, já havia notado que algumas pessoas da limpeza pareciam não levar muito jeito para a função. Uns não se entendiam com o carrinho de limpeza, outros demoravam a coletar garrafas vazias no chão.

Era o caso do rapaz que estava ao meu lado quando eu esperava para entrar no jogo. Perguntei a ele como era o trabalho ali, e logo que ele desatou a contar, sem prudência, como este ano ganhava menos que no ano passado, percebi que testemunhava pela via mais simples e direta os efeitos da reforma trabalhista.

Segundo esse jovem, por causa da reforma, a organização do torneio pode fazer um contrato ainda mais flexível que no ano passado ao pessoal que trabalha ali durante os dez dias da competição. Agora, não é mais necessário mais incluir férias nem qualquer outro benefício no acordo, disse ele. Basta pagar as diárias, de € 30 por seis horas de trabalho, segundo me contou.

O que, na prática, reduziu em 10% o total recebido pelos funcionários temporários dali, contando com os benefícios cortados este ano. Desta vez, disse ele, nem sequer ganharam lanche, para não dizer ajuda de transporte. Por isso, muita gente desistiu de trabalhar ali este ano.

No caso dele, ganhar menos pelo mesmo período de trabalho ainda era mais vantajoso, disse, que estar em casa nesses dez dias, depois de mais de dois anos sem emprego, o que afirmou ser seu caso. Só para lembrar, na semana passada a União Europeia divulgou novos dados de desemprego do bloco que situam a Espanha com nada menos que 6 milhões de desempregados, ou 27% da população, recorde histórico para o país.

Hoje, ministros e deputados passaram o dia reafirmando que não acatarão a proposta da Comissão Europeia de que a Espanha adote um contrato único aberto. Ontem, depois da recomendação, o próprio premiê Mariano Rajoy disse que está satisfeito com sua reforma trabalhista e não fará retoques nela.

Sinal de que, ano que vem, limpar o Master 1.000 de Madri será de novo tarefa árdua.

 

About Luisa Belchior

Luisa Belchior , 30, vive em Madri desde 2009. É doutoranda em Migrações Internacionais pela Universidade Complutense de Madri, onde cursou também especialização em Informação Internacional e Países do Sul. Começou na Folha em 2007, na sucursal do Rio, cobrindo os casos de violência da cidade. Antes, trabalhou no “Jornal do Brasil” e em “O Fluminense” e viveu seis meses nos Estados Unidos. É formada em jornalismo pela PUC do Rio de Janeiro. De Madri, é também correspondente da "Globonews" e da “Radio França Internacional” e faz colaborações para a revista “Vogue”.
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Comentários

  1. Sara G. comentou em 15/05/13 at 6:43 pm

    bem sacada a sua visão trabalhista do Madri Open! Ace!!

  2. Marcel comentou em 15/05/13 at 10:28 am

    Belo texto.

  3. jayme barbosa de Souza junior comentou em 14/05/13 at 9:28 pm

    Pelo quadro apresentado no texto acima, mostra a politica neoliberal aplicado na sua máxima selvageria.

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