A geração perdida
28/06/13 22:33Que mais da metade dos jovens na Espanha não tem emprego atualmente pode não ser mais novidade para muitos de vocês no Brasil. Que dirá aqui na Europa.
A Espanha, como diz hoje o jornal “El País”, já se tornou o “celeiro de jovens sem trabalho da Europa”. Por isso, interessa especialmente ao país ibérico o plano de combate ao desemprego juvenil acordado nesta sexta-feira em reunião do Conselho Europeu em Bruxelas.
O plano em si –na íntegra neste link— não traz muitas novidades, já que as medidas de estímulo ao emprego já eram em parte conhecidas há um ano. O que chama a atenção desta vez é urgência expressa pelo Conselho Europeu em combater o desemprego juvenil, que já tem “enormes custos humanos e sociais” no continente.
Só no último ano, a Europa gerou mais 1,7 milhão de jovens desempregados, cerca de 500 mil deles só na Espanha. Uma “geração perdida” que já ameaça a continuidade do projeto europeu –ou seja, a União Europeia. Esta é a opinião que o jornalista Gavin Hewitt, autor do recém-lançado “Europa à Deriva” (tradução livre), expressava nesta sexta-feira em entrevista ao jornal “El Mundo”.
E como os líderes dos 27 países membro têm feito de tudo para dar continuidade à UE apesar da crise e das críticas recorrentes ao bloco, eles acordaram hoje em Bruxelas adiantar verbas de estímulo de emprego juvenil, previstas para o período de 2014 a 2020, de cerca de € 8 bilhões (R$ 23 bilhões), dos quais 80% serão aplicados nos próximos dois anos.
Para os 57% dos jovens espanhóis com menos de 30 anos que atualmente estão desempregados, virão € 2 bilhões (R$ 5,75 bilhões). Se consideramos o número bruto de jovens sem emprego –cerca de 1 milhão– o socorro europeu pode não ser muito efetivo. Mas o premiê espanhol, Mariano Rajoy, disse ter saído satisfeito da cúpula em Bruxelas e considera usar parte da verba para descontos na cotização de empresas que contratarem jovens.
Mas há muito mais para investir e mexer por aqui, como por exemplo o tipo de contrato a que muitos jovens têm se submetido, temporários e com poucas garantias. Também o êxodo crescente desses espanhóis em busca de emprego em outros países, mesmo que abaixo de suas qualificações.
No mês passado, contei neste post o caso de uma colega minha, espanhola com mestrado, que escreveu pedindo a amigos indicação de trabalho como garçonete. E não é um caso isolado, mas o coloquei em evidência apenas para dar um exemplo de uma história que aconteceu perto de mim.
Nesta sexta-feira, um economista que comentava o plano no noticiário econômico da TVE (Televisão Espanhola), contou no ar uma piada para ilustrar a mesma situação: há quatro pesquisadores, um espanhol, um alemão, um francês e um inglês, em um bar. E o espanhol diz: “o que os senhores gostariam de tomar?”.