Desemprego em queda: otimismo antecipado?
03/07/13 13:29A conta-gotas, algumas análises, dados e previsões começam a apontar uma possível chegada da retomada da economia espanhola, ainda de forma muito tímida e quase pedindo desculpas.
Mas os índices de desemprego divulgados ontem pelo instituto de estatísticas da Espanha dão um pouco de fôlego a essa tese. No mês de junho, o desemprego no país na comparação com o mês anterior. Foram 127.248 a menos, a maior queda da história na comparação entre meses e que alimenta uma redução contínua desse índice no primeiro semestre do ano.
Como quase todas as discussões aqui na Espanha, esta também chega carregada de “poréns”. O primeiro deles é que, apesar da fila de desemprego ter diminuído, a de registrados na Seguridade Social cresceu menos: 26.853.
Ou seja: oficialmente, há menos emprego criado do que pessoas que deixaram de ser desempregadas.
As duas hipóteses que mais ecoam por aqui para explicar essa defasagem são que 1) muita gente desempregada, espanhóis e imigrantes, deixaram o país e 2) o emprego precário e irregular, sem registro na Seguridade Social, está crescendo.
Esta segunda hipótese é a mais defendida, principalmente pela época do ano: aqui na Europa, nos aproximamos do verão, estação que tradicionalmente reduz o desemprego no país.
Com uma extensa costa e muito sol, a Espanha no verão é um dos destinos de praia mais populares para europeus. Por isso, hoteis, restaurantes, bares, comércio e afins sempre aumentam a contratação de funcionários, ainda que de forma temporária e, muitas vezes, precária e irregular –ou seja, sem contrato.
E isso necessariamente é uma boa notícia para a economia, principalmente porque, ao final do verão, a maioria dessas pessoas volta a engordar a fila de desemprego no país.
O governo reconheceu o peso da chegada do verão nesta queda de desempregados, mas defende a tese do início da retomada que se aproveita do momento tradicionalmente propício a contratações.
O país só poderá chegar mesmo a uma tese definitiva no fim do verão, mas os índices de hoje já levantaram elogios, ainda que tímidos, de tradicionais rivais do governo de Mariano Rajoy, como a UGT, um dos principais sindicatos do país. Mesmo assim com ressalvas.
As ressalvas também têm dado o tom das análises por aqui. Para o economista Rolf Campos, da escola de economia espanhola IESE, os novos dados “não significam uma recuperação do mercado de trabalho, embora sugiram uma redução na taxa de destruição de empregos”.
O “El País” afirma hoje em seu editorial “Otimismo antecipado” que “a quarta descida consecutiva do desemprego registrado não significa recuperação econômica”.
O tom de cautela é compreensível pelo contexto daqui: em uma crise de quase cinco anos que ensaiou uma retomada mas mergulhou em uma nova recessão ainda pior e elevou sua taxa de desemprego aos 27% da população economicamente ativa, a Espanha ainda teme em acreditar na recuperação no curto prazo, embora todos torçam por ela.