Portugal: o bom aluno se rebela
03/07/13 12:50Um ministro que cai, outro que se demite e outros dois em vias de fazê-lo. O Congresso em vias de rompimento, rumores de renúncia, o povo nas ruas, o mercado de toda a Europa abalado.
A crise política que tomou o governo de Portugal esta semana colocou em xeque a fama de “bom aluno” que o país tinha ante os olhos do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Central europeu, órgãos responsáveis pelo resgate financeiro ao país em 2011. E que vigiam de perto o cumprimento das condições para o socorro, baseadas na execução de uma política de austeridade.
Mas foi justamente essa austeridade, aplicada com mão firme pelo premiê conservador Passos Coelho, que começou a tirar as bases de sustentação da relativa estabilidade política e social que o país vivia desde o resgate. Portugal deve, não consegue retomar o crescimento, vê sua população empobrecer. Mas não era uma Grécia, nem uma Itália. Fazia seu dever de casa sem se rebelar.
Até agora.
As recentes ofensivas contra a política de austeridade na Europa –feitas até por mandatários conservadores e partidários de cortes orçamentários, como o premiê espanhol Mariano Rajoy– contagiaram Portugal.
Não é de hoje que os portugueses têm ido às ruas contra algumas das medidas de austeridade mais duras entre as impostas em toda a Europa desde o início da crise. O estopim foi o anúncio de cortes nas pensões e nos salários de funcionários públicos, uma medida que, após manifestações massivas, foi barrado pelo Tribunal Constitucional português.
A pressão contra a austeridade fez com que o grande artífice dessa política dentro do governo, o ministro das Finanças, Victor Gaspar, caísse nesta segunda-feira. Gaspar era a mão de ferro do premiê Passos Coelho.
Mas foi o pedido de demissão de outro ministro, anunciado ontem, que fez o governo de Coelho balançar. Insatisfeito com a substituição de Gaspar por uma nova ministra também partidária das medidas de austeridade, o chanceler Paulo Portas anunciou ontem a renúncia de seu cargo.
A grande confusão é que Portas, além de ser um dos maiores críticos da austeridade dentro do governo, é também líder do CDS-PP, partido que garante à gestão de Passos Coelho a maioria no Parlamento luso, necessário para que ele possa governar.
Hoje, continua o efeito dominó: a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, e o ministro da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares, ambos do CDS-PP, também apresentarão pedido de demissão, segundo o português “Diário de Notícias”.
Como a Europa anda de mãos dadas para o bem e para o mal, o furacão interno da política portuguesa fez ventar no resto do continente, e hoje as bolsas europeias desabaram com a crise portuguesa.
Ainda não se sabe por aqui do futuro político do país. Os pedidos e os rumores de uma renúncia de Passos Coelho aumentam. O premiê ainda a nega rotundamente, mas se reunirá amanhã com o presidente do país, Cavaco Silva.
Estarei em Portugal nos próximos dias, e conto aqui as reações desse novo terremoto político por lá.