Pegando fogo
19/07/13 17:35Tem dias aqui na Espanha, especialmente no verão, nos quais tenho a sensação de que é apenas questão de alguém jogar um cigarro acesso no chão para o país inteiro pegar fogo.
Esta semana todos os dias foram assim. E não falo só das altas temperaturas, que ultrapassaram os 40ºC em várias cidades, inclusive aqui em Madri, e provocou incêndios em Valência. No cenário político, a semana começou fervendo antes mesmo de começar.
Explico: No domingo, o jornal “El Mundo” publicou suposta troca de mensagens de texto por celular entre o premiê Mariano Rajoy e o ex-tesoureiro de seu partido, o PP (Partido Popular), Luis Bárcenas. Como já contei aqui, Bárcenas é acusado de ser o operador do “mensalão” espanhol, um suposto esquema de caixa dois do PP financiado por empresas beneficiadas pelo governo.
Desde que a denúncia foi feita, no início do ano, e a Justiça começou a investigá-la, Rajoy nunca havia falado sobre o caso e seu partido negava qualquer relação de seu alto escalão com o ex-tesoureiro, que no fim de junho teve prisão preventiva decretada. E eis que surge uma amistosa e calorosa troca de mensagens entre ele e ninguém menos que o mandatário máximo do partido e também do governo espanhol.
Mas isso era apenas a lenha da fogueira, que se acendeu mesmo na segunda-feira, quando Bárcenas, em declaração ao juiz, reconheceu pela primeira vez a existência do caixa dois, de onde tirou cerca de € 50 mil para dar, em mãos, a Rajoy. O premiê, que nunca havia falado do caso, foi obrigado a fazê-lo.
Daí em diante, as chamas aumentaram: a oposição pediu renúncia do premiê, exigiu que sua presença no Congresso para explicar-se e ameaçou, como disse no post anterior, com uma moção de censura caso ele se negue ao cara a cara com os parlamentares.
Nessa altura já ia embora a quarta-feira, o terceiro dia de fogo da semana. Ontem, quem manteve as chamas acesas foram milhares de manifestantes. Na sede do PP das principais cidades do país, eles fizeram um churrasco de chouriços, que aqui na Espanha é sinônimo para ladrão. Depois, aqui em Madri, onde está a sede nacional do Partido Popular, percorreram as principais ruas do centro, onde pessoas lotavam bares e restaurantes, em uma noite de quinta-feira típica de verão.
Reproduzo aqui algumas fotos da noite. Reparem o contraste do forte aparato policial, que cercava todos os acessos ao Congresso, com o de pessoas que já nem reparam nela, tão comum que a cena se tornou aqui na capital.
Nesta sexta-feira, as chamas continuam acesas. A Justiça começou a investigar vínculos das empresas que supostamente doaram ilegalmente ao PP com membros do partido. Mas, como é verão, muita gente foi à praia, inclusive para se refrescar do incêndio de toda a semana…
churrascos de chouriço aí, pizza aqui. As cenas do forte aparato podem até ser comum aí, mas as de vandalismo como tem acontecido aqui, duvido!