Férias com choques diplomáticos
06/08/13 08:59Com o Legislativo e parte do Executivo e do Judiciário em recesso de verão, agosto é, em teoria, um mês de poucas notícias na Espanha.
Em teoria.
Nesta semana, saiu de cena a crise da economia, mas entrou a da diplomacia. O país protagoniza estes dias dois incidentes com os governos de Marrocos e do Reino Unido, seus “parceiros” frequentes de encontrões diplomáticos.
Com o Reino Unido, a Espanha trava novo conflito por causa de Gibraltar, território inglês dentro da península espanhola. Como a Folha noticiou hoje, o governo de Mariano Rajoy estuda cobrar taxa de € 50 (R$ 152) a cidadãos que queiram atravessar a fronteira, em retaliação a uma tentativa dos ingleses de cercar a entrada por mar a Gibraltar.
O choque Madri-Londres, ainda sem sinal de uma solução, irritou o governo local, que apresentou nesta terça-feira protesto à Comissão Europeia.
Mas foi com Marrocos que a Espanha travou um incidente maior, por causa de uma trapalhada real que esteve a ponto de abrir uma grave crise diplomática entre os dois países.
No fim da semana passada, o rei marroquino Mohamed 6º concedeu indulto a um pedófilo árabe com nacionalidade espanhola, Daniel Galván, que estava preso havia dois anos no Marrocos por abusar sexualmente de 11 menores de idade. Por um erro de seus assessores, que misturaram na mesma lista nomes de presos espanhóis que pediam o indulto e outros que apenas solicitavam a transferência para prisões da Espanha, caso de Galván, o rei marroquino assinou a liberdade de todos os nomes, em uma tentativa de agradar o monarca espanhol, Juan Carlos 1º, que visitava o país africano na época.
Antes de saber que se tratava de um equívoco, Espanha e Marrocos foram palco de fortes protestos pela libertação de Galván, que, surpreso com a decisão inesperada, correu de volta a Murcia, cidade espanhola onde foi catedrático.
O incidente diplomático cresceu quando os assessores de Mohamed VI alegaram à imprensa espanhola que o indulto havia sido solicitado pelo rei Juan Carlos 1º. A briga só não cresceu neste ponto porque a Casa Real espanhola reagiu com prudência, em um momento em que busca parceiros comerciais no Marrocos. Enviou representantes para reunir-se com o monarca do país, que reconheceu então o erro e anulou o indulto, demitindo depois seus funcionários.
Nesta terça-feira, os ministros de Justiça de ambos os países se reúnem em Madri para tentar uma solução definitiva ao caso de Galván, que foi preso em sua casa na Espanha e deve seguir sua condena, de 30 anos no total, em prisões do lado de cá. Mas o problema não termina aí: além de Galván, outros 28 presos espanhóis que também solicitavam apenas o translado ao país estão agora em liberdade pela trapalhada real.
Uma dor de cabeça que a diplomacia espanhola não pretendia levar para as férias de verão.
que trapalhada real!