Fim da recessão. Fim da crise?
25/10/13 20:34BRUXELAS
Desde o início do ano, há espasmos desse discurso. Há duas semanas, ele foi o tema de um encontro de economistas com correspondentes estrangeiros em Madri. Na semana seguinte, a bolsa espanhola viveu dias de euforia recordes. Ontem, no mesmo dia em que a Espanha viu baixar em 72 mil pessoas sua espantosa taxa de desemprego, quatro colegas fizeram bons comentários quando contei que vivia na capital espanhola.
Isso porque nesta semana todo essa especulação se tornou oficial: a Espanha saiu da recessão, a mais longa da história democrática do país _ainda que tenha sido por um décimo. Pelo menos foi o que disse o Banco Central espanhol esta semana, ao apresentar a previsão do PIB para o terceiro trimestre do ano, com crescimento de 0,1%.
É de fato a primeira vez que ouço falar em crescimento desde que vim morar na Espanha. O que se questiona agora no país é se o fim da recessão significa também o fim da crise econômica.
Aqui em Bruxelas, o premiê espanhol Mariano Rajoy se apressou em garantir que sim a seus homólogos europeus com quem participou de cúpula na capital belga nesta semana. E parece que muita gente por aqui já acreditou. Ante o jornal local que anunciava o fim da crise na Espanha, jornalistas vieram me perguntar se de fato a crise acabou no país.
Mas ainda parece haver um longo caminho para a economia do país. Ainda é preciso juntar os cacos _e não são poucos_ da crise econômica. A começar pela taxa de desemprego, que embora tenha baixado continua na assombrosa casa dos 26% _enquanto que no Brasil ela passa pouco de 5%. O país ainda tem que resolver também os altos preços pagos pelos juros dos leilões de seus títulos, a escassez de investimentos, o alto endividamento do governo central e dos locais, principalmente prefeituras, e por aí vai.
O próprio ministro de Economia, Luís de Guindos, admitiu que ainda há a crise por resolver. Para economistas do IESE (Instituto de Ensino Superior de Empresas) com quem conversei há duas semanas, também. Alavancar outra vez a economia do país, opinam, vai requerer tempo.
Primeiro porque o mais de um quarto da população economicamente ativa em desemprego torna difícil para o governo estimular o consumo. Depois por causa da escassez de crédito disponível no mercado espanhol. E, por último, devido à meta de redução do déficit público: com isso, qualquer investimento resultará em uma contração no curto prazo.
O caminho, dizem, pode ser tirar o foco do crescimento. “O Japão teve 20 anos de crescimento econômico com empresas magníficas, e isso pode acontecer com a Espanha. Não é a primeira vez que a Europa tem um longo período sem crescimento”, comentou o economista Javier Díaz-Giménez.
Já movimentos sociais protestaram esta semana que, se a recessão chegou ao fim, o mesmo deveria acontecer com a política de cortes, que continua na ativa…