A espionagem na Espanha
30/10/13 19:39Nem tanto lá como o Reino Unido, nem tanto cá como a Alemanha. Nessas recentes denúncias de espionagem dos Estados Unidos a chefes de Estado e governos europeus, a Espanha tem adotado uma postura mais, digamos, em cima do muro.
E não é por apatia –até porque espanhóis costumam ser tudo menos apáticos: é que os serviços secretos da Espanha e dos Estados Unidos mantêm há cerca de 15 anos parceria para troca de informações.
O principal motivo é a proximidade dos ibéricos do norte da África, onde há forte e crescente presença e grupos terroristas, Al Qaeda incluída.
O acordo pendia mais para o lado norte-americano até 2004, quando os atentados ao metrô de Madri, de autoria da Al Qaeda em represália ao envio de tropas espanholas ao Iraque, fez o governo espanhol depender mais do serviço secreto norte-americano.
Como essa parceira foi feita pelo então premiê espanhol José Maria Aznar, de seu partido, o atual chefe do governo da Espanha, Mariano Rajoy, tem feito esforços para mantê-la.
O que inclui seu próprio governo fornecer informações para a suposta espionagem dos Estados Unidos, segundo versão apresentada hoje pelo governo norte-americano.
A Espanha é o caso mais recente do escândalo de espionagem da NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA) revelados por documentos filtrados pelo ex-funcionário da agência Edward Snowden.
Segundo uma reportagem do jornal “El Mundo” de segunda-feira, a ANS interceptou 60 milhões de telefonemas na Espanha em apenas um mês –no mesmo período em que grampeou outros 70 milhões na França.
Hoje, o jornal também afirma que a Espanha colaborou na espionagem. O governo de Rajoy o nega.
Mas o que se diz por aqui é que a espionagem sobre investigações de atividades terroristas na Espanha pouco preocupa o governo. O que deixa a equipe de Rajoy, e empresários espanhóis, de cabelo em pé, é a possibilidade de que a NSA tenha interceptado conversas de multinacionais espanholas.
Empresas como Telefônica, Repsol e Santander têm investido pesado em aquisições e expansões no exterior e operações estratégicas. No Brasil, por exemplo, a Telefônica estaria atuando secretamente para forçar a venda da TIM, sua principal concorrene no país, como a Folha noticiou ontem.
Não à toa, segundo análises por aqui, hoje o premiê Mariano Rajoy se limitou a pedir prudência ao se falar sobre as denúncias de espionagem por parte dos Estados Unidos, embora seu chanceler já tenha classificado de inaceitável essa possibilidade.