O livro de Zapatero
28/11/13 12:16No governo anterior aqui da Espanha, uma das críticas mais repetidas ao ex-premiê espanhol Zapatero foi a de que ele pouco falava da crise.
Nem durante sua gestão –silêncio ao qual seus críticos atribuem o descontrole da crise na Espanha– e menos ainda depois dela, quando praticamente abandonou a vida política.
Agora, exatos dois anos após deixar o cargo, o socialista, que comandou o país de 2004 a 2011, decidiu soltar o verbo. O fez através de um livro de memórias que lançou esta semana aqui em Madri.
Ok, livros de memórias de ex-presidentes costumam ser taxados de entediantes pela crítica. Mas Zapatero, que por si só já tinha uma certa fama de apagado, conseguiu colocar tempero nas notícias sobre o lançamento de sua publicação, entitulada “O dilema: 600 dias de vertigem”.
Nela, disse ter sido muito pressionado pela chanceler alemã Angela Merkel para recorrer a um resgate financeiro como fizeram Irlanda, Portugal, Grécia e Chipre. Zapatero afirma ter feito de tudo para evitar o resgate à Espanha, que segundo o ex-premiê foi um recurso solicitado por Merkel por três vezes.
Recusou todas, conta o ex-premiê na publicação, porque acreditava que com este recurso a Espanha demoraria três décadas para sair da crise.
Para resistir às pressões, ele teve que recorrer a um pacote de medidas de austeridade, o primeiro na Espanha depois do início da crise. Foi o mesmo mecanismo, diga-se, utilizado pelo atual premiê.
A grande diferença é que o partido de Zapatero, socialista, sempre levantou a bandeira do investimento alto no estado de bem-estar social, justo por onde o então premiê colocou a primeira tesoura. Já Rajoy, conservador, é mais partidário de enxugar as contas do governo.
Por isso, a publicação do livro soou por aqui também como um velado pedido de desculpas aos espanhóis –embora Zapatero o negue formalmente– pelas tesouradas no social que seu partido tanto defendia.