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Luisa Belchior

Diário Ibérico

Perfil Luisa Belchior é correspondente-colaboradora em Madri

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Goleada, desemprego, protestos

Por Luisa Belchior
25/04/13 12:10

Madri acordou hoje em estado de nervos. E não é por causa da amarga derrota ontem do Real Madrid para o alemão Dortmund por 4 a 1 –ou não só por isso. Nem só por saber nesta manhã que o país bateu recorde no número de desempregados, 6,2 milhões,

É que também nesta quinta-feira manifestantes convocaram um ato em que tentarão tomar o Congresso espanhol, o que fez a polícia mobilizar quase todos os seus setores e enviar às ruas 1.400 homens, seu maior efetivo para protestos até agora.

Mesmo antes da manifestação, que começará no fim da tarde, 18 pessoas já foram presas com coquetéis molotov e gasolina que, segundo a polícia, pretendiam jogar em agências bancárias.

Já houve outros protestos em que milhares de pessoas rodearam o Congresso, aqui no centro de Madri. A diferença é que esta é a primeira vez em que se incita o uso da violência. Embora isso não seja diretamente mencionado no vídeo de convocação para o ato, nas redes sociais manifestantes recomendam levar tochas e spray de pimenta.

Por conta disso, vários movimentos sociais e de manifestantes que costumam organizar os grandes protestos anunciaram que não apoiam o ato desta quinta-feira.

Pela internet, o “ataque”, já começou: em ação orquestrada, centenas de pessoas fizeram petições online ao Congresso ao mesmo tempo, o que colapsou seu site e o fez sair do ar.

A manifestação, como disse, ainda não começou, mas aqui pelo centro de Madri, onde fica o Congresso, há muitas ruas já bloqueadas pela polícia, lojas fechando, muros pintados, como este que vi ainda no começo da manhã:

O “25A” escrito em vermelho é uma referência à data de hoje, 25 de abril. Um dia que, independentemente do que aconteça no Congresso, já ficará marcado na história do país. Porque hoje a Espanha quebrou um novo e inesperado recorde de desempregados.

Segundo divulgou o instituto de estatísticas do país nesta manhã, no primeiro trimestre do ano havia 6,2 milhões de pessoas sem trabalho no país, aumentando para 27,2% a taxa de desemprego espanhola. Ambos são os maiores que o governo da Espanha já registrou e acima de todas as previsões, até as mais pessimistas, que haviam sido feitas sobre o período.

Bom, os resultados da turma que se propõe a tomar o Congresso contarei aqui mais tarde. Os dessas novas cifras de desemprego são incertos mas já fizeram os mercados derraparem por aqui. Já os do jogo de ontem, bom, acho que aí no Brasil todos já sabem…

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'Strip' e socos no congresso espanhol

Por Luisa Belchior
24/04/13 17:24

Os parlamentares espanhóis achavam que já haviam visto de tudo no Congresso espanhol. Ali dentro, houve até tentativa de golpe militar, com direito a tiros para o alto, além de episódios menores como xingamentos, afrontas em outros idiomas e até a união de base e oposição por rechaço ao ETA. Um pouco de tudo.

Até hoje, quando as sessões tiveram um quase striptease aos olhos do premiê Mariano Rajoy e um soco na mesa do presidente da Galícia, Nuñez Feijóo.

O primeiro caso aconteceu na sessão na Câmara dos Deputados. A cada quarta-feira, o premiê, acompanhado de sua vice-presidente, e o líder da oposição, vão à plenária discutir, com muitos aplausos e vaias de ambos os lados, responder, perguntar e discutir temas da semana.

Em um deles, a nova Lei Hipotecária que tramita no Congresso espanhol, o deputado Joan Baldoví aproveitou uma pergunta que fazia ao premiê Mariano Rajoy para desnudar-se parcialmente em protesto contra o projeto de lei, que desconsiderou todas as modificações pedidas pela oposição.

Ele começou tirando o paletó e, ignorando a reprovação do presidente da Câmara, soltou a gravata e começou a desabotoar a camisa. Ante uma nova reprovação, desta vez acompanhada de ameaça de expulsão, Baldoví parou por aí, mas deixou em evidência uma camiseta que levava por baixo, com o símbolo de uma associação de pessoas que sofreram despejo por não pagar a hipoteca.

Neste link vocês podem ver a cena.

Longe dali, na Galícia, a afronta foi outra. Indignado porque o presidente da região, o conservador Nuñes Feijóo, não respondia perguntas sobre suposto envolvimento com um traficante de drogas da região, o deputado Xosé Manuel Beiras levantou de seu assento e caminhou em direção a Feijóo. Parou na frente do presidente, fez cara de mau e deu um senhor murro na sua mesa, que Feijóo tentou não dar importância.

Neste caso, antes de receber ordem de expulsão, o próprio deputado se retirou da sessão, com as mãos no bolso. E, claro, esta cena também foi gravada e devidamente replicada o dia inteiro nos sites de notícia, noticiários das televisões e redes sociais.

Vejam aqui.

 

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Menos gente, mais déficit

Por Luisa Belchior
23/04/13 11:27

Por uma coincidência de calendários do instituto de estatística espanhol, o INE, e do europeu, o Eurostat, a Espanha soube no mesmo dia que sua população minguou e seu déficit se expandiu no ano passado.

A divulgação dos dados, nesta segunda-feira, pode ser obra do acaso, mas a relação entre eles não. Porque se de um lado imigrantes foram embora motivados pelos cortes de gastos para alcançar o déficit exigido pela União Europeia, por outro lado a evasão de cidadãos estrangeiros e até nacionais pode ter ajudado a que a Espanha não tenha alcançado a exigência de Bruxelas em 2012.

Bom, vamos as dados: sobre a população, o INE divulgou que em janeiro de 2013 havia 205,7 mil pessoas menos que em 2012 nos registros do governo. A baixa foi impulsionada pela queda no número de estrangeiros no país, de 216 mil.

É pouco? Talvez, comparando com o total de habitantes na Espanha –47 milhões. Não foi a quantidade, no entanto, o que chamou a atenção por aqui, e sim o fato de que esta foi a primeira vez que o INE registrou queda na população desde que faz a pesquisa, há 17 anos. E foi justo nesta época que a população da Espanha começou a engordar, pela chegada de imigrantes atraídos pela grande oferta de mão de obra e o crescimento veloz do país.

Só que os estrangeiros não são os únicos a buscar no aeroporto a saída para a crise. Junto deles, espanhóis estão fazendo o mesmo, como já comentei por aqui. Sobretudo jovens nacionais, que, segundo a pesquisa do INE, são hoje 500 mil a menos que ano passado.

No curto prazo, a evasão até alivia o mercado de trabalho, que hoje não demanda mão de obra. Uma possível continuidade dessa queda, no entanto, preocupa o governo, já que a Espanha é também um país que envelhece –há 110 mil idosos mais que em 2012– e precisa de força de trabalho para manter o já carregado sistema de pensões.

Porque o que o governo arrecadou ano passado não foi o suficiente para equilibrar suas contas, pese ter feito maior aumento de imposto da história democrática do país e medidas de austeridade quase mensais em 2012. Foi o que mostrou também nesta segunda-feira o Eurostat.

Segundo a agência europeia, a Espanha teve o pior déficit da União Europeia em 2012: 10,6%, superando até a flagelada economia grega.

É verdade que nessa conta entrou o resgate europeu aos bancos espanhóis em 2012, de € 100 bilhões, embora tenha sido direcionado ao setor bancário e não aos cofres públicos. Mesmo assim, descontando o socorro a Espanha teria fechado o ano com déficit de 7%, ainda acima do acordado com Bruxelas, de 6,3%. E isso é ainda o dobro do limite máximo recomendado pela União Europeia, de 3%.

Por isso, e já prevendo os maus resultados, o governo de Mariano Rajoy vem tentando um relaxamento das metas de déficit para este ano. O que a UE, na noite de segunda-feira, afirmou que fará. Depois de Portugal e França, Bruxelas dará uma folga também à Espanha, alargando para 2016, dois anos mais, o prazo para alcançar os 3%.

O governo se diz confiante– nesta terça-feira, o Banco Central Espanhol afirmou que a recessão parou no primeiro trimestre de 2013. Mas espera que até lá sua população ainda esteja aqui para ver.

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Nove anos fora do Iraque

Por Luisa Belchior
18/04/13 23:13

Nesta semana em que o fantasma do terrorismo voltou à pauta do dia nos Estados Unidos e nos noticiários ocidentais, a Espanha relembrou, por outro motivo, a “guerra ao terror” norte-americana da qual participou por algum tempo. Há exatos nove anos desta quinta-feira, o país ibérico anunciava a retirada de suas tropas militares no Iraque, no primeiro grande rompimento de um governo ocidental com a tática do então presidente norte-americano George W. Bush.

Como eu comentei no post anterior, a presença de tropas espanholas no Iraque foi o mote para que Madri entrasse na rota dos atentados da Al Qaeda. Foi por causa disso, alegou, que o grupo terrorista fez na capital espanhola o atentado com o maior número de mortos desde o 11 de Setembro nos Estados Unidos.

Em 2004, terroristas da organização baseados na Espanha explodiram uma série de bombas em um trem da linha de metrô para os arredores de Madri, deixando quase 200 mortos e mais de 1.800 feridos. O impacto foi ainda maior porque a explosão aconteceu bem no centro de Madri –o trem, com destino à cidade de Alcalá de Henares, onde muitos jovens estudam, estava a poucos metros da estação de Atocha, a principal da cidade.

Volta e meia amigos meus daqui me contam detalhes do dia e sempre dizem que, em princípio, todos, inclusive alguns meios de comunicação, davam por certo que aquilo era obra do ETA. Quando chegaram as primeiras notícias de que o grupo basco negava autoria, reivindicada pela Al Qaeda, ninguém entendeu o que a organização terrorista queria atacando Madri.

Demorou um pouco para que percebessem se tratar de uma retaliação à presença espanhola no Iraque. Mas quando caiu a ficha, os espanhóis foram para as ruas em milhões, em todas as principais cidades, pedir a retirada das tropas espanholas.

Tudo isso acontecia a dias das eleições gerais que definiriam o próximo chefe de governo espanhol. O então líder dos socialistas, José Luis Rodríguez Zapatero, aparecia nas pesquisas de intenção de voto logo atrás do Partido Popular, do até então premiê espanhol José Maria Aznar.

Foi Aznar, também convencido da existência de armas de destruição em massa no Iraque, quem determinou o envio das tropas espanholas, após um aperto de mãos com George W Bush amplamente divulgado na Espanha.

Por isso, em questão de dias os socialistas, que já levantavam a bandeira da retirada das tropas, ultrapassaram os conservadores, e Zapatero ganhou as eleições. Ao ser nomeado chefe de governo, seu primeiro ato foi justamente o anúncio de que todos os militares espanhóis destacados para o Iraque voltariam para casa.

Hoje, em artigo publicado no jornal “El Mundo”, o ex-premiê Zapatero afirma que recebeu uma ligação de Bush dizendo-se “decepcionado” com sua decisão. Não para os espanhóis, que mesmo antes do atentado em Madri já demostravam forte rejeição à presença espanhola no Iraque, onde 13 de seus militares destacados morreram em operações.

Por isso analistas acham pouco provável que, hoje, o atual premiê Mariano Rajoy considere unir-se a eventuais novas guerras ao terror. Mas também não descartam a possibilidade, já que Rajoy, então líder da oposição, foi a principal voz contrária a retirada das tropas há nove anos. Em nome de seu partido, o único que não apoiou a decisão de Zapatero, afirmou na ocasião que a retirada das tropas deixaria a Espanha mais vulnerável para outro eventual ato terrorista.

 

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Em Madri, maratona revive atentados

Por Luisa Belchior
16/04/13 21:11

Uma sombra terrorista volta a recair sobre a maratona de Madri, que depois de Londres será a próxima grande competição, com 24.800 pessoas inscritas, quase o mesmo número de corredores de Boston.

Esta será a segunda vez que a maratona madrilenha acontece menos de um mês depois de um atentado. O primeiro deles foi aqui mesmo, em 2004, quando bombas explodiram no metrô da cidade, deixando quase 200 mortos e mais de 1.800 feridos, no que foi o maior atentado desde o 11 de Setembro norte-americano.

O atentado, reivindicado pela Al Qaeda em retaliação ao envio de tropas espanholas ao Iraque, fez a organização da maratona naquele ano refazer às pressas seu esquema de segurança. Hoje, ante as explosões na maratona de Boston, Madri decidiu resgatar o mesmo esquema utilizado em 2004.

Foi o que me disse o diretor da maratona de Madri, Pedro Rumbao, em uma conversa nesta tarde. Rumbao e sua equipe se reuniram de emergência com o governo para refazer o esquema de segurança da prova, que acontecerá no próximo dia 28 no centro de Madri. A linha de chegada será no parque do Retiro, que fica a poucos metros da estação de trens de Atocha, onde as bombas estouraram em 2004.

E se havia alguma dúvida sobre um possível corte no contigente de policiais destacados para acompanhar a prova por conta da crise, o episódio de Boston a descartou. A prova de Madri será vigiada por 450 guardas civis, 90 policiais federais e 100 homens de uma empresa de segurança privada, uma cifra maior que em anos anteriores, segundo Rumbao.

Resgatar o esquema pós-bombardeio no metrô será, no entanto, apenas uma das estratégias para garantir a realização da 36ª edição da maratona de Madri. Rumbao disse que, como em 2004, a organização está incentivando aos maratonistas que corram em homenagem às vítimas e que não se deixem abalar pelo ato terrorista.

“Em 2004 acabou sendo uma grande festa nas ruas, as pessoas correram com mais ânimo, foi emocionante”, disse o diretor.

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Um ano do tombo real

Por Luisa Belchior
15/04/13 09:33

Naquele 14 de abril, a Espanha concentrava seus nervos na eminência de um resgate financeiro, que a desconfiança dos mercados e risco-país em níveis recorde tornavam real. Até que chegou à imprensa uma história com notas surrealistas e cujo protagonista era ninguém menos que seu chefe de Estado e um dos mais antigos representantes da realeza europeia.

O rei Juan Carlos 1º, noticiou a imprensa, voltava de urgência de uma viagem até então não divulgada para Botsuana, onde participara de um safari para caçar elefantes. E não parava por aí: ao levantar no meio da noite, em uma espécie de acampamento onde se alojou, o rei tropeçou e fraturou o quadril. Dias depois, já na Espanha, deixava o hospital com cara de criança arrependida e, ante as câmeras, fazia um discurso inédito em seus 37 anos de reinado: “Sinto muito. Me equivoquei. Não voltará a acontecer”.

O país estava incrédulo ante a notícia de que, em meio a um bombardeio dos mercados e no auge da crise econômica de seu país, seu rei deu uma escapada sigilosa a outro continente para dedicar-se a um ócio de caráter duvidoso bancado por um empresário saudita.

Passado um ano da aventura real, Juan Carlos 1º ainda não conseguiu recuperar a popularidade que conquistara com uma postura forte ante tentativas de golpe militar e protagonismo na transição democrática da Espanha após a ditadura de Franco.

O problema para Juan Carlos é que esse protagonismo, que é unanimidade por aqui em todos os setores, aconteceu há três décadas. Por isso a população jovem pouco sabe que seu rei apareceu ao vivo em cadeia nacional vestido com seu uniforme de capitão-general para chamar à ordem e afrontar a tentativa de golpe de parte dos militares, que invadiu a sessão do Parlamento na votação do novo presidente do país, fez disparos para o alto e deputados reféns e chegou a preparar frotas para ocupar as ruas.

A aparição do rei fez os militares desocuparem o Parlamento e desistirem do golpe, levando milhares de pessoas às ruas para celebrar a democracia, com faixas com dizeres como “viva o rei”.

É verdade que, neste último ano, o rei, em lugar de recolher-se ao castigo, vem se esforçando para recuperar a imagem de líder da nação, uma imagem que via ainda muito presente há apenas quatro anos, quando cheguei na Espanha.

Primeiro, Juan Carlos e a Casa Real começaram com uma “faxina”: divulgaram que o rei não fará mais viagens bancadas por milionários árabes ou de qualquer parte do mundo e afastaram de todas as atividades oficiais da família real a infanta Cristina e seu marido, Iñaki Urdangarín, ambos envolvidos em caso de suposto desvio de verbas públicas que tramita na Justiça.

Depois, apostaram em três táticas. Na primeira delas, a Casa Real tornou pública em seu site a receita que cada membro da família real recebe do governo, em um projeto de transparência que deve se aprofundar porque, neste mês, o Congresso espanhol discute incluir a monarquia na Lei de Transparência do país. Se for assim, todas as contas da Casa Real passarão a ser conhecidas.

O rei também resgatou o papel de “embaixador” das empresas espanholas, embarcando em viagens, agora bastante divulgadas, na companhia de empresários de seu país com o objetivo principal de angariar bons contratos para eles mundo afora. No tradicional discurso de Natal, como contei aqui na época, quis passar a imagem de um rei trabalhador e longe de abdicar de seu trono, falando aos espanhóis recostado em sua mesa de trabalho.

E uma terceira estratégia foi colocar em evidência o príncipe Felipe –que tem uma das melhores avaliações em pesquisas de opinião entre a família real– com sua família, composta pela princesa Letícia, uma ex-jornalista televisiva de personalidade forte que renovou e reaproximou a realeza dos espanhóis, e suas duas filhas, que parecem saídas de um catálogo de moda infantil.

Cada vez mais, Felipe e Letízia substituem aos reis em eventos oficiais. Até porque, tirando a cirurgia de quadril a que foi submetido por causa do tombo na África, o rei passou outras quatro vezes pela mesa de operação. Da última, por uma hérnia de disco, ainda está repouso, em uma recuperação que pode durar até seis meses, o que lhe fez cancelar viagens para este semestre.

O que fez crescer comentários de que ele abdique do trono em favor de seu filho, algo que a Casa Real nega rotundamente. Independentemente disso, comentaristas políticos e de monarquia que ao longo da semana passada avaliaram o primeiro ano do tombo na África foram unânimes em afirmar que o pepino maior da queda de popularidade da realeza espanhola passará para as mãos de Felipe, seja quando for.

Até porque as denúncias de suposta corrupção cometida pelo Duque de Palma, genro do rei, foram o que realmente estremeceu as bases da monarquia na Espanha, combinada com uma profunda crise econômica que motivou manifestantes a questionar os custos de manter uma realeza em um momento de duros cortes de gastos sociais.

A Casa Real ainda aguarda também os desdobramentos do envolvimento com o caso da infanta Cristina, que há duas semanas foi indiciada e oficialmente incluída nas investigações, convocada para o que será a primeira vez que um membro da realeza terá que prestar depoimento à Justiça espanhola.

Quem por enquanto se salva da crise de popularidade é a rainha Sofia, que segundo se comenta por aqui mantém uma relação fria e distante com o rei e sustenta as melhores notas de popularidade de sua família.

Curiosamente, foi ela que, um ano depois, fez nova viagem à África. Mas desta vez foi Juan Carlos 1º que ficou em casa e, em vez de caçar elefantes em Botsuana, a rainha Sofia passou a semana em Moçambique, visitando projetos sociais financiados pelo governo espanhol.

O rei continua de recuperação, não só da cirurgia da hérnia de disco, mas também de um tombo do qual, um ano depois, ainda tenta levantar.

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Alemanha x Espanha

Por Luisa Belchior
12/04/13 18:53

Não foi só no sorteio das semi-finais da Copa dos Campeões, feito nesta manhã, que Espanha e Alemanha souberam que se enfrentarão em breve. Pouco antes disso, os dois países já ensaiavam outra disputa, desta vez entre seus ministros de Economia na reunião do Eurogrupo em Dublin, na Irlanda.

Embora a Espanha não estivesse na pauta da reunião –mais preocupada com a situação de Chipre e em prorrogar o prazo para o pagamento dos empréstimos a Portugal e Irlanda–, o ministro espanhol Luis de Guindos chegou a Dublin na ofensiva. Propôs a seus colegas europeus um sistema único de financiamento para empresas do bloco do mesmo tipo. Ele acha que as pequenas e médias empresas de seu país estão entre as mais prejudicadas pelo sistema do BCE (Banco Central Europeu), porque têm de pagar até quatro vezes mais para se financiar que…as alemães.

A proposta, segundo noticiaram jornalistas espanhóis que estavam no encontro, foi bem recebida por boa parte dos ministros, à exceção de alguns países como…a Alemanha.

O que quer dizer que, junto com as semi-finais da Copa dos Campeões, onde os espanhóis Real Madrid e Barcelona enfrentarão, respectivamente, os alemães Dortmund e Bayern, ainda neste mês, deve vir um novo fogo cruzado também entre os governos de ambos os países.

Isso porque, segundo sinalizou Luis de Guindos, a Espanha pretende levar a proposta adiante, assim como uma negociação para o BCE relaxar o prazo para o país alcançar o déficit de 3% até 2015. Neste ano, para se ter uma ideia, a previsão é que este percentual feche na casa dos 6%.

Aqui em Madri, o ministro de Fazenda, Cristóbal Montoro, avisou ainda que o governo não planeja novas subidas de impostos, como a UE havia sugerido ao país. Mas admitiu que vem aí um amplo pacote de reformas, que o governo anunciará no próximo dia 26.

No futebol, a briga também deve ser dura, já que ambos os países torcem para uma final com seus clubes, o que o sorteio desta manhã tornou viável. E, pelo menos em termos de arrecadação, este gráfico feito pelo jornal “Cinco Dias” indica que os times espanhóis, assim como seu governo, estão partindo para o ataque, enquanto os alemães preferem a prudência, em sintonia com a política financeira do país.

Quem vocês acham que ganha as disputas?

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Protestos em domicílio

Por Luisa Belchior
10/04/13 05:48

Quando começo a ouvir ruídos de helicópteros aqui em Madri sei que é sinal de protestos pela rua. Foi o que aconteceu nesta tarde em frente à sede do PP (Partido Popular), do premiê Mariano Rajoy. Centenas de pessoas tentaram se aproximar do prédio do partido para uma manifestação conjunta em todas as sedes do PP no país.

Mas nada de pacote de ajustes. Desta vez, o ato era uma reação à proibição de protestar na porta da casa de políticos, uma nova forma de manifestação que vem crescendo aqui pela Península Ibérica.

Na Espanha e em Portugal, os manifestantes adotaram a prática de perseguir políticos na rua, em locais públicos onde estão, como um café ou um seminário, e, principalmente até a porta de suas casas, onde fazem protestos, até agora, pacíficos.

Este tipo de protesto, chamado por aqui de “escrache” –escracho, na tradução literal–, começou em Portugal e chegou à Espanha, onde ganhou fôlego no último mês. Na semana passada, virou um dos centros das atenções de debate de políticos, que em maioria criticam a manifestação.

O premiê Mariano Rajoy chamou os “escraches” de anti-democráticos, e o PP chegou a recomendar que seus políticos acionem a polícia no caso de haver manifestantes na porta de suas casa.

Os manifestantes alegam que os protestos são pacíficos, não se aproximam dos políticos e preservam o direito de ir e vir de todos os espanhóis. Mesmo assim, a Justiça deve ter que decidir em breve se este tipo de manifestação é ou não legal.

No País Basco, os manifestantes foram proibidos de chegar a menos de 300 metros de residências de deputados do PP, sob a alegação do governo local de que isso é “um ataque real à integridade moral do deputado e sua família”.

O que só motivou mais manifestantes a saírem de novo às ruas ontem, quando o grupo convocou protestos em frente às sedes do PP de todo o país. Aqui em Madri, a rua onde está a sede nacional foi totalmente interditada, ao trânsito de carros e de pessoas. Em Barcelona, a sede do PP do centro foi cercada por cerca de 200 pessoas.

Os manifestantes alegam que, caso o “escrache” seja proibido, a Espanha estará desrespeitando o direito ao trânsito de qualquer cidadão.

O que vocês acham?

 

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'Exílio' no Qatar

Por Luisa Belchior
09/04/13 04:16

 

Esta foto é obviamente uma montagem. Foi feita pelo site de uma revista semanal ao saber que o genro do rei Juan Carlos 1º, Iñaki Urdangarín, pediu permissão ao sogro para ir morar no Qatar, onde recebeu convite para treinar a seleção de handebol, esporte que já jogou profissionalmente, como a Folha noticiou nesta terça-feira.

Na montagem, Urdangarin “imita” jovens que saíram da Espanha e que enviam fotos com um cartaz dizendo seus nomes e por que tiveram que sair do país –em geral por falta de trabalho ou empregos precários– ao site “Jovens sem Futuro”.

Só para lembrar, o site faz parte de um movimento sobre o qual contei aqui outro dia para mapear, através da internet, para onde e por que emigram os jovens espanhóis, que acabava de ser lançado. Pouco mais de um mês depois, o site do projeto já recebeu mais de 700 histórias de “exilados”.

Como a Justiça não vê impedimentos para que ele saia do país enquanto não é julgado –ele está há quase dois anos indiciado por suspeita de desvio de verbas públicas–, Urdangarín aceitou a proposta de trabalho e recebeu aval do rei. Sua mulher, a infanta Cristina, também indiciada, deve ir ao país com os filhos do casal em breve.

Não é a primeira vez que a caçula do rei da Espanha tem que recorrer ao “exílio forçado” por conta das suspeitas que recaem sobre seu marido. Antes mesmo de a Justiça abrir o caso, , após começarem a pipocar as primeiras suspeitas de irregularidades cometidas pela empresa de Urdangarin, o Instituto Noos, Juan Carlos 1º aconselhou o genro a deixar o instituto e ir a Washington com sua família.

O casal e os filhos só voltaram à Espanha em 2012, mas desde então ficaram de fora das atividades e eventos oficiais da família real.

Com a viagem ao Qatar e o nome atrelado a uma investigação judicial, a infanta Cristina deve ser cada vez mais apartada da imagem da monarquia espanhola. De qualquer maneira, já seria muito pouco provável que algum dia ela chegasse ao trono. Isso porque Cristina é a sétima na fila da sucessão, atrás de seu irmão, o príncipe Felipe, e as duas filhas e de sua irmã, a infanta Elena, e seus dois filhos.

Mesmo assim, sua simples presença na família real tem importância histórica: ela foi a primeira mulher da realeza espanhola a ter um título universitário. Mas com a eventual ida ao Qatar, ela deve abdicar de seu trabalho, em uma instituição bancária em Barcelona, para novamente engrossar a lista do “exílio forçado” de espanhóis.

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Juízes ibéricos indignados

Por Luisa Belchior
05/04/13 18:07

Depois dos jovens, dos despejados, dos idosos e até de políticos, parece que os juízes ibéricos agora se unem ao “status” de indignados, muito na moda por estas bandas.

Digo isso porque o Tribunal Constitucional de Portugal vetou no início da noite desta sexta-feira pontos da proposta de Orçamento de 2013 aprovado pelo governo do país há alguns meses.

O veto anula os cortes do extra de Natal a funcionários públicos e pensionistas e redução do seguro-desemprego, medidas que constam do Orçamento que o Parlamento aprovou ano passado, gerando uma corrente de protestos no país.

A decisão pode levar até que o governo de Passos Coelho convoque novas eleições. É cedo para saber, mas é fato que o veto deve tornar inviável que Portugal cumpra as metas estabelecidas para este ano pela troica, o grupo formado por Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI que colocou as condições para o resgate financeiro à Portugal e fiscaliza seu cumprimento.

O que não parece ter intimidado a Justiça portuguesa.

Vale lembrar que também nesta semana, há apenas dois dias, o juiz espanhol José Castro decidiu indiciar a filha caçula do rei, a Infanta Cristina, por suposta participação de desvio de verbas públicas pela empresa de seu marido, como falei aqui nos dois últimos posts. Castro desafiou o consenso geral de que a  Justiça espanhola não ousaria envolver um membro da monarquia em um processo judicial.

Além disso, um grupo de juízes espanhóis deve respaldar nos próximos meses a decisão do Tribunal Europeu que, no mês passado, declarou como ilegal a legislação imobiliária espanhola e afirmou que o judiciário do país pode, se quiser, impedir e paralisar ordens de despejo a pessoas que não pagam hipotecas impostas pelos bancos.

Outro indício que nos dois países, ambos comandados por governos conservadores, juízes também estão indignados.

 

 

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