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Luisa Belchior

Diário Ibérico

Perfil Luisa Belchior é correspondente-colaboradora em Madri

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'Qué (não) pasa' com a realeza espanhola

Por Luisa Belchior
04/04/13 21:04

“‘Qué pasa’ com a família real?”, perguntou um comentarista televisivo a seu colega na noite desta quinta-feira, que o respondeu: “a pergunta é: o que não passa com a família real?”.

Os dois não se referiam só ao fato de a filha caçula do rei, a Infanta Cristina, ter sido ontem indiciada por suposto envolvimento em esquema de desvio de verbas de seu marido. Falavam também de trapalhadas e tropeços da família real nos últimos dois anos que vêm arrastando sua popularidade ladeira abaixo, da viagem secreta para caçar elefantes na África descoberta por causa de um tombo do rei no meio da noite a tiros acidentais, passando por uma suposta relação turbulenta entre Juan Carlos 1º e a rainha Sofia e, claro, o escândalo envolvendo seu genro.

Nenhum desses casos, no entanto, haviam ido parar na Justiça. Assim como outros escândalos envolvendo membros de realezas vizinhas aqui da Europa. Até ontem.

Por isso não só a Espanha mas também toda a Europa, que noticiou o caso na capa dos principais jornais, estão de olho no episódio e temerosos de eventuais consequências para a monarquia no continente.

Por aqui, em programas de comédia, no balcão do bar, na minha academia de ginástica, em todos os jornais impressos e televisivos, os espanhóis, que adoram um debate, passaram o dia discutindo o tema.

A família real por enquanto faz que não é com ela. A própria Cristina saiu para trabalhar nesta manhã normalmente e entrou em seu escritório, em uma instituição bancária em Barcelona, pela porta da frente, enfrentando câmeras mas sem dar declarações. Também hoje, seus dois irmãos participaram de atos oficiais e não mencionaram o caso.

O príncipe Felipe, primeiro herdeiro ao trono, foi coincidentemente entregar títulos a novos juízes –só para lembrar foi justamente um juiz que indiciou sua irmã, procedimento que cabe ao judiciário aqui. Na cerimônia, disse que “os juízes são merecedores da maior confiança”.

Felipe vem sendo colocado em evidência pela Casa Real desde o último ano, no que se interpreta como uma estratégia para ir aos poucos adquirindo protagonismo ante a queda de popularidade de seu pai, o rei Juan Carlos 1º.

Hoje alguns editoriais de jornais e catedráticos de História e Direito Constitucional que participaram de debates televisivos expressaram um certo lamento pela deterioração da imagem de Juan Carlos, um chefe de Estado que “foi capital na transição democrática da Espanha”, nas palavras ditas hoje pelo ministro de Assuntos Exteriores, José Manuel Margallo.

De qualquer maneira, o caso ainda está aberto, e na sexta-feira a Procuradoria vai apresentar recurso ao envolvimento formal de Cristina no caso, o que deve atrasar ou até suspender seu depoimento, inicialmente marcado para o próximo dia 27 no tribunal de Palma de Maiorca.

E em tempos de crise foi inevitável que se questionasse por aqui possíveis implicações do caso para a imagem da Espanha nos mercados e, consequentemente, à economia do país. Por enquanto os mercados não reagiram a isso, mas vale lembrar que o rei Juan Carlos virou uma espécie de embaixador empresarial da Espanha. Para qualquer canto do mundo que vai, leva atrás um monte de empresários espanhóis e foca suas pautas em angariar contratos para seu país.

Houve quem sugerisse que, para tentar limpar o nome da monarquia, o rei ordenasse que sua filha caçula abdique da sucessão ao trono –o que já seria pouco improvável de acontecer, já que Cristina é a sétima na fila da sucessão, atrás de seus irmãos e sobrinhos.

Mas não há sinal de que a família real tome alguma decisão brusca. Será mesmo uma questão de tempo para saber “qué pasa” com a realeza espanhola e seu país.

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Messi lesionado, 'princesa' indiciada

Por Luisa Belchior
03/04/13 12:03

Messi lesionado, filha do rei indiciada, premiê reconhecendo tempos difíceis, chuva em todo o país e regiões alagadas.

Tem dias que a Espanha amanhece assim, com um café da manhã explosivo.

Normalmente, as bombas são relacionadas à crise econômica do país, que hoje passou quase batida –não fosse o próprio premiê mencioná-la– ante as outras notícias. A principal delas é a acusação da Infanta Cristina, a filha caçula do rei Juan Carlos 1º, em suposto caso de desvio de verbas e tráfico de influências.

Nesta manhã, o juiz responsável pelo caso, que aqui na Espanha também o investiga, indiciou a Infanta Cristina, como a Folha já noticiou.  É até agora a principal notícia do caso, já que envolve um membro da família real.

E é também algo que deve afetar a já prejudicada imagem da família real espanhola. Ainda é cedo para dizer até que ponto. Mas não para as redes sociais, que já estão abarrotadas de comentários sobre o caso, apenas horas depois de que fosse divulgado. No twitter, foi criado este perfil falso, sobre o nome de “Infanta imputada”, algo como infanta indiciada.

A Casa Real diz até agora que não se pronuncia sobre decisões da Justiça, mas a imprensa já está toda na porta da casa da Infanta Cristina e da residência dos reis e dos príncipes, ambos nos arredores de Madri.

Entre os políticos, o líder da oposição, Alfredo Pérez Rubalcaba, resumiu o caso em uma mesmíssima frase dita pelo rei Juan Carlos 1º em seu discurso de Natal em 2011, ano em que seu genro foi indiciado pelo caso:

“A justiça espanhola é igual para todos”.

 

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O efeito Semana Santa

Por Luisa Belchior
02/04/13 13:37

Apesar de a foto aí de cima ser de uma procissão, o efeito Semana Santa ao que me refiro no título tem a ver com a ressurreição de alguns empregos e o ainda esperado milagre da multiplicação de alguns deles aqui na Espanha.

Hoje o país soube que, pela primeira vez desde o início da crise, o desemprego caiu no país durante o mês de março, na comparação com o mês anterior.

Foi pouco, 0,1%, o que quer dizer que umas 5.000 pessoas conseguiram um contrato de trabalho no mês de março, segundo pesquisa do Ministério de Trabalho divulgada nesta manhã. Mesmo assim, podia ser um respingo de ânimo para o país, já que desde 2008 o índice de desemprego não descia nesse mês e, no ano passado, 38 mil pessoas perderam o emprego nesse mesmo período.

Não foi.

A avaliação geral, na imprensa, entre especialistas e até no próprio governo, é mais para negativa. É que, segundo o segundo o próprio Ministério reconheceu, essa redução se deve ao efeito Semana Santa.

A Semana Santa espanhola é, mal comparando, um pouco similar ao nosso carnaval, em termos de folgas no trabalho, interrupção das aulas, estradas cheias, ocupação em hotéis e viagens internas.

Então muitos contratos de trabalho são feitos neste período. Ou seja, em caráter temporário, como foram mais de 90% dos assinados neste ano, segundo o Ministério, a grande maioria no setor de serviços e nas regiões mais turísticas do país.

Que não são poucas nesta época. A Semana Santa é seguida com devoção aqui na Espanha, não só por católicos praticantes mas também por turistas curiosos para acompanhar as enormes procissões e pela imprensa, que acompanha e noticia cada uma delas.

O que me lembra sempre a dinâmica das escolas de samba. Guardadas as devidas e (muitas) proporções –afinal, por aqui desfilam monges com imagens de santos e de Jesus Cristo–, a estrutura é parecida.

Não há uma premiação, mas aqui cada agrupamento se prepara o ano inteiro para sua procissão. Se ela não saem por causa da chuva, típica aqui nesta época, os noticiários abrem todos com imagens de seus membros desolados e chorando.

Mas se saem, há espécies de alas e uma evolução a seguir ao longo do trajeto das procissões. O “abre-alas” é geralmente composto por mulheres vestidas de negro com as típicas “peinetas” espanholas –aquele pente comprido que fica preso a um coque e segura um véu, neste caso igualmente preto. A elas seguem homens encapuzados –uma referência a uma penitência aplicada na época da Inquisição– e elementos também usuais nas procissões brasileiras, como a imagem de Jesus Cristo na cruz e de algum santo.

A foto que abre este é de uma que aconteceu aqui no centro de Madri no sábado. Eu acompanhei, como gosto de fazer todos os anos, e percebi que, embora ela tenha passado pelo epicentro turístico de Madri, a maioria dos que a acompanhavam ao meu lado eram espanhóis. Quem sabe, pedindo pela esperada multiplicação dos empregos em seu país.

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Imigração em tempos de crise

Por Luisa Belchior
01/04/13 15:59

Neste domingo a Folha compilou alguns recentes casos de restrição à permanência e à  entrada de imigrantes na Europa (veja aqui), como efeito direto da crise econômica que vive o continente.

Há diferentes versões na discussão sobre se imigrantes saem mais prejudicados pela crise ou se viraram um ônus a mais aos Estados europeus endividados. Mas aqui na Espanha, os dados mostram que, até agora, estrangeiros estão levando a pior.

A começar pelo desemprego entre eles. Vocês provavelmente já ouviram falar uma ou mais vezes da alta taxa de desempregados na Espanha e, especialmente, entre jovens. Mas sabiam todos os coletivos de imigrantes têm esse índice acima da média nacional?

Os já assustadores 25% de desemprego da população economicamente ativa da Espanha, mais que o dobro da média da União Europeia, têm um peso importante dos imigrantes. Entre eles, essa taxa chega a 39%. Em alguns coletivos isolados, como os africanos, sobe para 49%, segundo calculou a OIM (Organização Internacional para as Migrações) em estudo publicado no fim do ano passado sobre impactos da crise na população imigrante.

E isso considerando apenas estrangeiros que residem em situação legal no país. Na Espanha, eles são cerca de 5,7 milhões, a maioria chegada a partir dos anos 2000, quando Espanha e Portugal passaram de ser países de emigração para receber imigrantes.

Com a crise, essa balança começa a se reverter em ambos. E não só pelo retorno de imigrantes a seus países, mas também porque portugueses e espanhóis, sobretudo jovens, estão indo buscar no norte da Europa e fora do continente os empregos que não encontram mais por aqui.

Em janeiro, o Instituto Nacional de Estatística espanhol registrou queda no número de estrangeiros no país em 2011. Foi a primeira vez nos últimos 15 anos que este índice caiu.  Em 2007, para se ter uma ideia, chegou na Espanha o dobro de pessoas que saíram dela, espanhóis incluídos.

Esta “fuga” de mão de obra estrangeira ainda é minoritária –no caso da Espanha, menos de 1% do total. Mesmo assim, mostra que a vida não está fácil para os imigrantes que vivem aqui.

E nem para os que ainda tentam chegar. A legislação para estrangeiros na Espanha foi feita na época da entrada do país na União Europeia e, por exigência do bloco, é bem baseada no controle de fronteiras, sobretudo os do sul, porta de entrada de africanos. Somado a isso, o governo está aprimorando a vigilância no Estreito de Gibraltar, com tecnologias para detectar de longe pequenas embarcações.

 

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O 'corralito' espanhol

Por Luisa Belchior
27/03/13 05:44

Em tempos de congelamento de poupanças no Chipre e temor de que o método se aplique  em outros países europeus, a Espanha voltou os focos ao seu próprio “corralito” –como foi chamado o bloqueio de contas bancárias aplicado na Argentina na crise de 2001. É assim como é chamado o caso de centenas de clientes de bancos do país que aplicaram suas poupanças em investimentos que as instituições lhes ofereceram sem informar dos altos riscos deles.

Nesta semana, esses clientes, sobretudo na região da Galícia, no norte da Espanha, intensificaram os protestos por uma solução que lhes devolva suas poupanças, até hoje bloqueadas.

Insatisfeitos com a solução apresentada pelo governo, de que se tornem acionistas dos bancos, eles já ocuparam sete prefeituras da Galícia só nesta semana, interrompendo sessões plenárias. Em um dos casos, funcionários saíram pela janela, com medo do protesto. Em Pontevedra, uma das principais cidades galegas, o prefeito saiu escoltado de seu gabinete e, perseguido por manifestantes na rua, buscou refúgio em um quartel da polícia local.

Em Sanxenxo, outro município galego, os manifestantes ficaram retidos na prefeitura por horas, assim como a própria prefeita, depois que a polícia fechou as portas do local para evitar que mais gente entrasse. E uma mulher idosa que dizia ter bloqueados € 60 mil (cerca de R$ 154 mil), tentou se matar ingerindo comprimidos.

Em nenhum dos casos houve agressões ou incidentes mais graves, mas os ânimos estão acirrados. O governo condena as manifestações, e os manifestantes condenam o governo e os bancos que, dizem, já receberam parte do socorro da União Europeia a instituições financeiras espanholas.

A polêmica toda gira em torno das chamadas “preferentes”, ações preferencias e de alto risco nas quais esses clientes foram aconselhados por seus bancos a investir suas poupanças. Isso nos anos anteriores à crise econômica e financeira na Espanha, quando, animados com o boom imobiliário, bancos incitavam seus clientes a aplicar suas poupanças. Com o estouro da crise, essas instituições se encheram de ativos tóxicos e ficaram insolventes. E o dinheiro aplicado nesse ativos, muitas vezes poupanças da vida inteira de idosos, ficou bloqueado.

Os manifestantes alegam que seus gerentes lhes ofereciam esses produtos sem nunca informar-lhes dos riscos que a aplicação continha. A Justiça espanhola respalda essa versão e afirma que os bancos não poderiam oferecer esses produtos a clientes comuns.

Um deles, o Novagalícia chegou a pedir desculpas (como contei neste post ano passado) e admitir o erro. Mas, como todos, alega simplesmente não ter mais dinheiro, e por isso o “corralito” involuntário.

O governo condena os protestos e disse que a solução que encontraram é uma das mais vantajosas na comparação com outros casos de bloqueio de contas na Europa. Mas os manifestantes se recusam a aceitar virarem acionistas dos bancos.

Principalmente porque, agora, sabem dos riscos desse investimento. Esta semana, por exemplo, as ações preferenciais do Bankia foram desvalorizadas e chegara a € 0,13, dando prejuízo a mais de 400 mil acionistas.

 

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Futebol e recessão

Por Luisa Belchior
26/03/13 06:43

A despeito da rivalidade crescente de suas seleções, que se enfrentaram nesta noite, e de suas orientações políticas, os premiês espanhol, Mariano Rajoy, e francês, François Hollande,  se reuniram nesta terça-feira em Paris para mandar aos mercados uma mensagem única: não há risco para a poupança dos cidadãos de seus países.

O conservador Rajoy e o socialista Hollande se posicionaram assim contra o estilo de resgate adotado pela União Europeia ao Chipre, que congelou poupanças com mais de € 100 mil (cerca de R$ 258 mil). Também criticaram, sem mencioná-lo diretamente, as declarações do presidente do eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, de que esse tipo de resgate pode ser adotado a outros países. A afirmação de Dijsselbloem chacoalhou as bolsas europeias.

Mas a Espanha acabou sendo o maior alvo das especulações. Embora sua seleção tenha vencido a da França por 1 a 0, o país fechou o dia bem prejudicado. Isso porque, além dos temores por um resgate que possa mexer na poupança de seus cidadãos, o Banco de Espanha divulgou mais cedo novas previsões para a economia do país neste e no próximo ano bem mais pessimistas que as feitas anteriormente pelo governo.

Segundo a instituição financeira, o PIB da Espanha cai este ano 1,5%, quase três vezes o que previa o governo. A taxa de desemprego, hoje na casa dos 25%, continuará subindo até atingir cerca de 27,1%, e só dará uma tregua em meados de 2014. O que quer dizer que este ano será o sexto consecutivo de aumento no número de desempregados espanhóis.

Foi um banho de água fria para Mariano Rajoy, que entrou no governo com a bandeira de criar empregos em menos de um ano. Por isso, esta semana o premiê precisará bem mais que a vitória da seleção espanhola, agora líder do seu grupo, para segurar a desconfiança dos mercados no seu país.

 

 

 

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Madri 2020

Por Luisa Belchior
23/03/13 13:54

Madri tentou ser 2012 e 2016. Perdeu para Londres no primeiro caso e para o Rio no segundo. Agora, lança a terceira tentativa consecutiva de se tornar cidade sede de uma Olimpíada, mais especificamente a de 2020.

A candidatura não é novidade, mas esta semana foi lembrada porque uma comissão do COI (Comitê Olímpico Internacional) esteve na cidade para visitar as instalações e conhecer melhor a candidatura de Madri. E, junto, um batalhão de jornalistas que acompanham as vistorias do COI pelas cidades candidatas.

A avaliação desse pessoal por aqui foi que desta vez, a capital espanhola é a favorita. Na primeira, não fez frente a Londres, que está no mesmo continente e oferecia um know how de organização de grandes eventos maior. Depois, perdeu para o potencial de crescimento e desenvolvimento social do Rio, que além disso está longe da cidade sede anterior.

E carrega também o número mágico da terceira candidatura, que costuma dar certo, segundo disse o próprio presidente da comissão de avaliação, Craig Reedie, na coletiva de imprensa que o grupo concedeu em Madri. “Eu mesmo perdi duas vezes antes de ganhar, então quem sabe. As cidades aprendem muito com cada candidatura”.

Madri 2020 joga com duas vantagens: a primeira é que, como na candidatura para 2016, as instalações já estão quase todas prontas –80% delas, segundo o comitê espanhol. O sistema de transporte também dá pontos à cidade, assim como a mobilidade: de uma sede à outra, o tempo máximo de deslocamento em carro é de 20 minutos, de acordo com os espanhóis.

A outra suposta vantagem é que Tóquio, seu principal concorrente segundo especulações, está bem perto da Coreia do Sul, que vai sediar a Olimpíada de Inverno de 2018.

O COI insiste em que não isso não é levado em conta na hora da escolha, mas ainda não repetiu continentes duas vezes seguidas.

A crise econômica, pelo que sinalizaram os membros da comissão avaliadora, acabou aparecendo como um fator positivo. Massacrada com um dos índices de desemprego mais altos da Europa, a Espanha ganharia postos de trabalho –83 mil diretos e integrais, segundo Madri 2020– e uma bomba de oxigênio para a economia, segundo o informe espanhol entregue ao COI fez questão de frisar.

apoio publico é menor – oito em cada dez cidadãos. 76% em Madri e 81% na Espanha, segundo pesquisa do comitê organizador da candidatura.

Mas foi justo este ponto que suscitou uma série de protestos aqui em Madri esta semana. Em todas os locais visitados pelo COI, manifestantes protestavam debaixo de sol contra o suposto alto custo que a candidatura está custando a Madri em um momento extremamente delicado para a economia da cidade e do país. Só para o que falta de infra-estrutura, por exemplo, o orçamento de Madri 2020 é de € de 1,5 bilhão, fora outros € 2,4 bilhões para montar todos os Jogos.

Apesar de elogiar o projeto e as sedes, a comissão avaliadora não quis fazer comparações com Tóquio, pedidas por jornalistas. As notas de cada cidade só serão conhecidas em setembro.

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Com Chipre, volta fantasma do resgate

Por Luisa Belchior
19/03/13 14:35


Esta foto de um cartaz de manifestantes contra o resgate a Chipre, que ecoou neste começo de semana em redes sociais e sites de notícias aqui na Espanha, resume o estado de alerta que o país vive depois do anúncio do resgate financeiro ao Chipre.

Desde meados do ano passado, a palavra resgate estava um pouco afastada da pauta do dia nos mercados por aqui. Com o anúncio de um socorro financeiro ao Chipre, esses dias de tensão e incerteza que deixaram investidores do país de cabelo em pé e tiraram o sono e as férias de verão do premiê Mariano Rajoy voltaram.

A Bolsa de Madri fechou nesta terça-feira em queda de 2,2%, a quarta maior do ano. O tão temido risco país chegou a 368 pontos e, desde o anúncio do resgate ao Chipre, subiu cerca de 14%, segundo o jornal “Expansión”.

O mercado financeiro discute isso com força, mas o principal termômetro é quando o premiê Mariano Rajoy busca a imprensa para dizer que não há risco de contágio para seu país. Foi o que ele fez: ante câmeras, enfatizou que a Espanha não sofrerá o mesmo tipo de resgate de Chipre ou qualquer tipo de bloqueio às poupanças de clientes de bancos nacionais.

O ministro de Economia, Luis de Guindos, foi mais longe: disse que as poupanças dos espanhóis são “sagradas”.

Só para lembrar: a Espanha já sofreu uma espécie de resgate, mas direcionado às instituições financeiras do país. No verão europeu de 2012, a União Europeia aprovou um pacote de € 100 bilhões (cerca de R$ 257 milhões) para aos bancos daqui. O Bankia, que tinha a situação mais crítica, foi alvo especulações sobre um possível bloqueio de poupanças de seus clientes, o que não aconteceu.

O acordo da UE com Chipre para o resgate tem recebido críticas por aqui. Analistas acham que dirigentes do bloco erraram ao infringir a norma de não mexer nas poupanças de seus cidadãos. O próprio governo, sem criticar diretamente a decisão do Eurogrupo, pediu que não se mexa nas poupanças de menos de € 100 mil (cerca de R$ 257 mil).

O “El País” disse que a Europa “brinca com fogo” ao mexer nas poupanças, o que pode trazer forte de risco de contágio, e o “La Información” veio com esta charge no fim de semana:

 

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Em Madri, cubana também é alvo de protestos

Por Luisa Belchior
12/03/13 18:43

Repercussão parecida com a da blogueira cubana Yoani Sánchez ao Brasil está tendo a vinda da líder das Damas de Branco, Berta Soler, a Madri.

Desde a morte de Laura Pollán em 2011, Berta passou a liderar o movimento, composto por mulheres familiares de prisioneiros políticos em Cuba. Como a blogueira, ela ganhou passaporte do governo cubano após a aprovação da reforma migratória na ilha e, pela primeira vez na vida, saiu de território cubano.

Nesta terça-feira, acompanhei sua primeira agenda pública, aqui em Madri, que de uma homenagem às Damas de Branco se transformou em um tenso enfrentamento verbal entre dissidentes cubanos e simpatizantes do regime dos irmãos Castro em Madri.

Berta era a protagonista de um ato na Casa de América, prestigioso centro cultural focado na América Latina, assistido por representantes do PP, partido conservador do premiê Mariano Rajoy que simpatiza com os dissidentes da ilha. Também estavam lá alguns dos dissidentes cubanos trazidos a Madri com o acordo entre Espanha e Cuba em 2010 para trazer presos políticos da ilha, além de integrantes das Damas de Branco radicadas aqui.

Quando a ex-presidente de Madri Esperanza Aguirre, uma das figuras políticas mais fortes da capital, chegou ao ato e sentou-se ao lado de Berta, um homem da plateia levantou e interrompeu o início de seu discurso. Pediu para fazer uma pergunta e, ao questionar a continuidade do embargo espanhol à ilha, que segundo ele limita a entrada de investimentos espanhóis, foi interpelado pelos dissidentes cubanos sentados uma fila na frente. 

Enquanto o bate-boca aumentava de nível, várias pessoas na plateia levantaram e estenderam uma enorme faixa com os dizeres “Viva a Revolução”, o que não caiu nada bem para quem, como alguns ali, viveram anos nos calabouços dela. Imediatamente e com violência, eles arrancaram a faixa e partiram para cima do grupo. Todas as pessoas levantaram, copos, bolsas e câmeras foram derrubados.

Mas logo os manifestantes foram expulsos,  depois de conseguir atenção total da imprensa que estava em peso no ato. Eu, que estava estrategicamente ao lado da saída de emergência por medo da confusão, saí para conversar com eles, que me falaram ser da Associação de Cubanos em Madri.

Esta foi a diferença para os protestos aí do Brasil durante a estadia da blogueira Yoani Sánchez. Aqui, o enfrentamento é entre cubanos mesmo, e não só simpatizantes de ambos os lados. Em Madri, há tanto os dissidentes quando cubanos emigrados.

Este último era o caso do homem que protestou. Ao final do ato, ele pediu desculpas pela confusão gerada pela intromissão e disse ser presidente da Associação de Cubanos em Madri, onde, segundo ele, vive há 30 anos. 

Berta Soler, que assistia tudo de longe, adotou o mesmo discurso de Yoani Sánchez no Brasil: “É normal que isso aconteça porque estamos em um país democrático. Em Cuba, eu não podia nem sequer levantar o braço”, disse.

A ex-presidente de Madri, já conhecida por declarações polêmicas e bem conservadoras, foi mais agressiva: “embora no Ocidente hoje ainda haja fanáticos de supostas conquistas dos Castro, a realidade é que os anos de comunismo arruinaram o país”.

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Em protesto, professores lecionam na rua

Por Luisa Belchior
10/03/13 18:35

Neste sábado assisti pela manhã a uma aula de história de Madri em pleno Paseo del Prado, a rua dos museus da cidade. Na hora do almoço, ouvi o escritor galego Carlos Taibo falar a estudantes de Ciência Política em plena Porta do Sol, a principal praça madrilenha. Dali, segui ao Templo de Debod, um parque onde professores de física instalaram telescópios para observação do sol e lecionaram sobre o astro a pessoas que passavam por ali.

Essas foram algumas das cerca de 500 aulas que professores de todas as universidades públicas de Madri lecionaram a céu aberto neste sábado na capital espanhola. Foi a segunda edição de um protesto bem singular de professores e alunos universitários contra os cortes em educação.

Desta vez, no entanto o “protesto” foi bem mais amplo. Na primeira edição, em outubro, como contei aqui, foram 123 professores de uma das universidades madrilenhas, a Complutense de Madri. Desta vez, a iniciativa mobilizou mais de 500 deles, e de todas as instituições públicas de ensino superior de Madri.

A próxima edição, que acontece em junho, já terá âmbito nacional, segundo anunciaram ontem os organizadores.

A ideia deles é mostrar a quem está fora da vida acadêmica o que se está produzindo e lecionando nas universidades de Madri, para que “a cidadania seja consciente que não pode haver uma sociedade democrática e avançada sem uma boa universidade, pública”, segundo o manifesto distribuído e lido pelos palestrantes ao início de cada aula.

Professores de física coordenam observação do sol por telescópios instalados no Templo de Debod, em Madri

Esta era, ao menos nas aulas que eu assisti, a única referência à política do governo contra a qual protestavam. No resto do tempo, professores e assistentes se preocuparam mais em discutir a ementa anunciada que falar de crise.

Mesmo assim, a comunidade acadêmica vive tempos de guerra contra o governo pelos cortes em educação e o aumento das taxas universitárias. Aqui na Espanha, alunos são cobrados, em uma pequena parte, para ingressar em cursos de graduação e pós-graduação.

O que o governo Rajoy fez foi aumentar essas taxas em até 50% no ano passado. O que, segundo noticiou o “El País” neste domingo, já provocou uma queda –a primeira em seis anos– de 8% nas matrículas em cursos de pós-graduação.

Alunos e participantes assistem a aula do escritor Carlos Taibo na Porta do Sol

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