Quem já viajou de Ryanair sabe: passagens baratas, cadeiras apertadas, bagagem de mão bem pequena, cartão de embarque impresso em casa e multas bem caras por esquecer-se alguma das muitas regras.
Todos os verões europeus prometo a mim mesma que evitarei viajar com a “low cost” irlandesa, mas a possibilidade de comprar passagens em cima da hora a preços bem melhores sempre me faz descumprir a promessa. Este mês, no entanto, pensei duas vezes.
Isso porque o governo espanhol acusou a companhia irlandesa de voar com combustível abaixo do nível mínimo exigido. Madri abriu, assim, uma guerra com a low cost, que ganhou o respaldo dos governos de quase toda a Europa criando rotas para reativar o turismo de vários destinos por aqui.
Depois de a companhia fazer dois pousos de emergência por uma tempestade que fechou o aeroporto de Madri, o governo espanhol fez uma inspeção que revelou a falta de combustível nas aeronaves. O presidente da Ryanair, Michael O’Leary, rebateu a crítica com o argumento de que a prática é normal entre muitas companhias. No dia seguinte, a agência de aviação espanhola negou a praxe, e agora estuda sanções à irlandesa.
Eu li a notícia enquanto fazia hora no aeroporto no início de uma manhã para um voo…da Ryanair. Desejei muito não ter espiado os jornais antes de voar, mas, ao aterrissar sã e salva no meu destino, voltei ao assunto.
Só neste verão, já subi (e, felizmente, desci!) duas vezes em um avião da “low cost” –e não descarto fazê-lo novamente. É que, muitas vezes, voar pela companhia compensa pelo preço. Sempre, claro, que você tenha ciência de todas as muitas normas da irlandesa, que faz de tudo para embolsar uns trocados a mais dos passageiros desavisados e, com isso, compensar o preço baixo das passagens.
Um amigo do Rio que passava férias por aqui na semana passada teve que pagar 80 euros por míseros 4kg a mais que levava na sua bagagem. Isso só para mencionar a história mais recente, porque os casos meus e de conhecidos com a Ryanair rendem um livro.
Os mais clássicos, e cômicos, são os de vestir roupas por cima de outras para aliviar o peso da bagagem e não pagar multa. Eu mesma já coloquei saia por cima de calça e dois casacos para passar pelos olhares rigorosos dos funcionários dos portões de embarque.
Quando minha mala vai apertada, e para escapar de não poder levar bolsa –já que a companhia só permite um volume dentro do avião, seja ele uma mala ou uma câmera fotográfica pendurada no pescoço–, enfio carteira e celular no bolso, escondo o iPad no meio do jornal, que eles deixam passar na mão, e esmago a bolsa vazia na mala. Uma vez no avião, refaço novamente a bolsa.
Dentro das aeronaves da Ryanair, confesso que, em voos mais curtos, de até uma hora e meia, não vejo muita diferença para outras companhias. Você senta, aperta o cinto, lê a revistinha da companhia, desafivela o cinto, levanta e vai embora. Já nos mais longos, de duas horas ou mais, eu começo a notar o peso da “low cost”.
As costas doem com a poltrona que não reclina. A fome aperta pela resistência em pagar caro por lanches ruins. E nem tente dormir por mais de 15 minutos, que é mais ou menos a frequência com que os comissários de bordo anunciam promoções da companhia. Acredite, elas vão de cigarros que não soltam fumaça a rifas.
Nos aeroportos, quem viaja de Ryanair também tem que ir preparado, mesmo para os que não despacham malas e levam o cartão de embarque já impresso –outra exigência da “low cost” sob pena de multa de 60 euros. Os passageiros que não sejam cidadãos da União Europeia têm de passar por um controle de passaporte nos balcões da Ryanair, algo que apenas a companhia exige. E, se por um deslize, você tiver que pagar alguma multa, será preciso fazê-lo depois de enfrentar uma fila de quem também caiu na armadilha.
Em alguns aeroportos, para agilizar, a companhia colocou máquinas de pagamento automático. Estas abaixos, que eu registrei no início do ano, são de Londres.
Apesar de todos os contras, o faturamento das “low cost”, Ryanair incluída, cresceu 35% em 2011, mesmo com a crise, segundo estudo de uma consultora inglesa. Só nos aeroportos espanhóis, elas já representam mais da metade dos voos de saída e chegada.
Em julho, no entanto, começou o revés da Ryanair aqui na Espanha. Primeiro, a subida das taxas de aeroporto fizeram a companhia cancelar 15 rotas e reduzir a frequência de outras 46 no país. Depois, em agosto, o governo abriu a guerra pela falta de combustível que, pelo visto, está apenas começando.
No meio dela, vocês topariam voar com a companhia?