A crise nas quadras do aberto de Madri
15/05/12 07:54O terremoto econômico e social que a Espanha vive chacoalhou a quadra do Masters 1.000 de Madri, a competição de tênis que só perde em importância para “Grand Slams” como Roland Garros e Wimbledon e que aconteceu até domingo aqui na capital.
Além da polêmica da quadra azul, inaugurada em Madri e criticada pelos principais tenistas, temas como a caça de elefantes do rei espanhol, a expropriação da Repsol na Argentina, o corte de gastos e a crise dos bancos também entraram em quadra este ano.
Começando pela crise, este ano o corpo de voluntários e empregados que trabalha no torneio, um dos mais luxuosos do circuito de tênis, fizeram um dia de greve durante a competição. Queixavam-se da piora nas condições de trabalho: só tinham direito a duas garrafas de água por dia –isso em uma semana de forte calor que fez até um juiz do jogo desmaiar– e não podiam, assim como os boleiros, assistir a nenhum dos jogos da quadra principal, ao contrário de todos os outros anos.
A greve, que já era de conhecimento da imprensa, ficou mais evidente porque, no dia, uma mulher passou mal por causa do calor na arquibancada e demorou para ser atendida porque a equipe havia aderido à paralisação.
Nada que chegssse aos olhos do público geral e da plateia VIP, embora a estrutura metálica de bancos da arquibancada tenha caído duas vezes durante jogos. Em uma delas, na partida final, o suíço Roger Federer, campeão do torneio, parou para olhar.
Foi também nessa partida que o público deu uma bela vaia à Infanta Elena, filha do rei Juan Carlos, aquele que irritou seu povo ao ir caçar elefantes na África em uma semana na qual seu país era metralhado pelos mercados. “Vai caçar elefantes”, gritou alguém da plateia.
A torcida do Masters de Madri é conhecida como uma das mais animadas em uma competição de plateias bem comportadas. Nos intervalos dos pontos, anima os jogadores e sempre encontra uma brecha para piadas e brincadeiras, que arrancam risos também dos tenistas.
Desta vez, uma das campeãs de gargalhadas foi a de um torcedor durante o jogo do argentino Juan Martín del Potro –no qual, aliás, a plateia vaiou quando os telões mostraram uma torcedora com a bandeira da Argentina: “devolva-nos Repsol”, gritou o torcedor.
Del Potro não reagiu, mas riu com a brincadeira posterior da plateia: “pinta a pista de rosa!”.
A piada se referia à tal polêmica da quadra azul sobre a qual eu falava no início. Este ano, pela primeira vez em todas as competições de tênis, Madri estreou um saibro de cor azul, com o objetivo de destacar mais a bola, amarela, para os tenista, plateia e espectadores.
Mas a experiência foi massacrada por quase todos os jogadores, que disseram deslizar em excesso nela. O sérvio Novak Djokovic e o espanhol Rafael Nadal, primeiro e segundo do ranking, respectivamente, ameaçaram não voltar ao torneio ano que vem caso não se mude o saibro.
Os organizadores, em coletiva de imprensa para falar do tema, disseram que não vão mudar, em parte por pressão dos patrocinadores –o principal dele com a cor azul em seu logotipo.
Com cortes de gastos de todos os lados, disseram, não podem se dar ao luxo de abrir mão deles, entre os quais estão instituições financeiras que, na semana passada, receberam aperto do governo para segurar dinheiro em caixa…
Apesar do clima de zica, é preciso dizer que a competição foi animada e a plateia saiu satisfeita, apesar da derrota de Nadal, com jogos disputadíssimos e de ver o suíço Roger Federer outra vez campeão.