Nesses dias de novo julgamento do mensalão no Brasil, a corrupção também voltou a ter destaque na Espanha. Não que o tema tenha deixado de ser destaque nesses últimos meses: desde o início do ano, há três grandes casos de suspeita de corrupção envolvendo políticos da alta cúpula de governos locais e central, um deles o próprio premiê espanhol, Mariano Rajoy, e até a uma das filhas do rei da Espanha.
Como no Brasil, o desenrolar desses casos tem ganhado a atenção da mídia e, por conseguinte, caído na boca do povo –hoje a corrupção é a segunda maior preocupação dos espanhóis, atrás apenas do desemprego, segundo pesquisa trimestral do CIS (Centro de Investigações Sociológicas da Espanha). E da Justiça, que, segundo analistas políticos, quer pegar carona nos holofotes.
Qualquer que seja o motivo, o fato é que as sentenças relacionadas a corrupção na Espanha aumentaram nada menos que 151% nos últimos três anos, segundo um relatório divulgado esta semana pela Procuradoria Geral do Estado espanhol.
A maioria das acusações julgadas, segundo essa publicação, é por malversação de dinheiro público, que representa 40% das sentenças. É o caso, por exemplo, da caçula do rei espanhol, a infanta Cristina, e seu marido, Iñaki Urdangarín. Ambos respondem ante a Justiça por suspeita de haver desviado verbas públicas repassadas à empresa de Urdangarín, o Instituto Nóos.
Entre os delitos mais recorrentes na pilha de sentenças –que chegaram a 235 em 2011–, estão também o de prevaricação, que são 27% dos casos, segundo o relatório.
Na carona do estudo, a Procuradoria-geral pediu ao governo de Mariano Rajoy mais recursos para lutar contra a corrupção, o que Rajoy prometeu atender, em que pese a sua política de austeridade e o fato de ser ele mesmo alvo de uma dessas investigações.
Nem o rei, cuja família também fez crescer a pilha de sentenças, foi poupado. Com Juan Carlos 1º a seu lado na abertura oficial do ano judicial, na segunda-feira, o procurador-geral espanhol, Eduardo Torres-Dulce, criticou a corrupção “pública e privada” que existe hoje na Espanha e que, segundo ele, “é o problema que mais debilita nossa instituição”.
Claro que ele se referia a instituições espanholas, mas, tirando o rei, vocês veem alguma semelhança com o Brasil?