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Luisa Belchior

Diário Ibérico

Perfil Luisa Belchior é correspondente-colaboradora em Madri

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Por que a raiz do descarrilamento é a mesma da crise na Espanha

Por Luisa Belchior
31/07/13 16:50

Hoje saiu a público o conteúdo das caixas pretas do trem que descarrilou há exatamente uma semana em Santiago de Compostela, no norte da Espanha, deixando 79 mortos, dois deles brasileiros. Também foi conhecido o teor do depoimento que o maquinista do trem, Francisco José Garzón Amo, deu à Justiça ontem.

Como é normal nesses casos, busca-se por aqui, urgentemente, um culpado para o acidente, um dos piores da malha ferroviária europeia justo em um dos países com trens e linhas mais modernos e seguros do mundo.

Uns acham que é o maquinista, que confessou estar bem acima da velocidade máxima permitida no trecho do descarrilamento, uma curva acentuada a 4 km da estação de Santiago.

Outros já apontam o dedo para a Renfe, a administradora da malha ferroviária espanhola que também confessou, ante a denúncia da imprensa espanhola, faltar neste trecho um sistema de segurança europeu que detecta o excesso de velocidade e a reduz automaticamente.

Mas há uma linha de pensamento ganhando força por aqui segundo a qual a resposta não se encontrará revirando o conteúdo das caixas pretas ou analisando o depoimento do maquinista: a raiz do acidente estaria no mesmo “boom” econômico que afundou a Espanha em uma recessão que já dura cinco anos e atravessa sua segunda fase.

É que, nos anos desse “boom”, a Espanha recém ingressada na União Europeia vivia uma febre de investimento em infra-estrutura, um movimento bem parecido com o da vizinha Portugal. A crise que ambos os países hoje vivem contrasta com suas estradas impecáveis, seus aeroportos ultra-modernos e, no caso da Espanha, uma das malhas ferroviárias mais avançadas do mundo.

Era um movimento que crescia de mãos dadas com a expansão do mercado imobiliário, ambos propiciados pelo crédito fácil, o mesmo que levou à ruína milhares de famílias e centenas de empresas por aqui.

No afã desses investimentos, a Espanha promoveu nas últimas duas décadas uma profunda expansão da linha de alta velocidade, que hoje alcança 21 províncias do país.

As vantagens, claro, são inegáveis. Um trecho de 630 km entre Madri e Barcelona, por exemplo, é tranquilamente cumprido em duas horas e meia, com mais de dez opções diárias de horários, em poltronas confortáveis e uma viagem bonita e silenciosa sob praticamente o mesmo custo de um voo entre as duas cidades.

Mas é também inegável –e digo assim porque o próprio presidente da Renfe o admite hoje em entrevista ao “El País”– que a expansão, embora bem-sucedida e muito segura, deixou alguns “pontos negros”, caso do trecho onde houve o descarrilamento.

Isso porque, para chegar mais rápido a mais destinos, a Renfe adaptou trajetos antigos –ou seja, de velocidade normal– para receber trens de alta velocidade.  Até aí, nenhum problema ou infração, segundo opinaram dezenas de especialistas ao longo desta última semana por aqui. São linhas híbridas, totalmente adaptadas, caso do trem que descarrilou, do tipo Alvia, o mais moderno da frota espanhola justamente por ter capacidade de circular em trechos convencionais e de alta velocidade.

O problema foi que, em alguns desses trechos adaptados, a Renfe não instalou o sistema de segurança, um modelo europeu só compatível com a linha de alta velocidade. E assim o respeito à velocidade nesses trechos fica a cargo dos maquinistas, que, como aconteceu em Santiago segundo depoimento do condutor, podem se despistar e não diminuir a alta velocidade nos pontos ainda não adaptados a ela.

E não é por acaso que o acidente tenha acontecido justo em uma linha de alta velocidade: é que talvez o mundo esteja com muita pressa…

 

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Santiago sorri em silêncio

Por Luisa Belchior
30/07/13 16:17

SANTIAGO DE COMPOSTELA

Um silêncio como poucos que ouvi na vida tomava conta da catedral de Santiago no domingo, apesar da multidão que lotou a igreja e fazia fila para entrar ali.

Era para ser uma missa alegre, o ápice das festas de Santiago, patrono da Espanha e cujo o dia, 25 de julho, é celebrado com festa de uma semana nas ruas da cidade galega. Seria assim este ano, não fosse na véspera o descarrilamento de um trem a quatro quilômetros da estação de Santiago, que deixou 79 mortos.

Por isso, no domingo havia um silêncio não só na catedral, quando o arcebispo lançava ao ar um incensório, o maior do mundo, momento que tradicionalmente simboliza alegria. “Hoje o faremos em homenagem a este momento”, avisou o arcebispo. Curiosamente, é também na catedral de Santiago que está a primeira pintura com um sorriso da arte românica, retratado no apóstolo Daniel.

Não foi muito difícil ver sorrisos nesses últimos três dias que passei em Santiago. Até porque a cidade é o destino final dos peregrinos do Caminho de Santiago, que normalmente celebram bastante quando chegam na praça da catedral e terminam a peregrinação.

Mas o clima é mesmo de silêncio. Não de revolta, nem tanto de luto, mas de silêncio, incompreensão.

Encontrei aqui algo muito parecido com o que vi em Oslo há dois anos, quando o extremista norueguês Andres Breivik abriu fogo no centro da cidade  e em um acampamento de jovens socialistas, deixando 77 mortos. Ali o silêncio era também a tônica.

Em Santiago, a diferença é que a maioria dos mortos _79_ não era daqui. Os poucos que eram, como o brasileiro Fabio Cundines Antelo, 25, são lembrados por quase todos com quem eu converso. O jornaleiro me conta que sua filha era amiga de Antelo. Jovens na porta de um cinema dizem que ele lhes ensinou hip hop, uma de suas paixões segundo amigos seus.

Mas a sensação dos moradores é que eles foram atropelados pelo fato de o trem ter descarrilado e colidido na entrada de sua cidade. Ainda mais no povoado de Angrois, justo em frente de onde o trem descarrilou.

Os moradores de Angrois, que tem cerca de 40 casas, desceram aos trilhos para socorrer as vítimas antes de o socorro chegar _e por isso receberam visita dos príncipes da Espanha e serão homenageados com a medalha de honra ao mérito da prefeitura de Santiago.

Um deles é o um jovem de 15 anos, filho do taxista José Gutiérrez, que me levou ao povoado. Ele virou um dos rostos mais conhecidos na imprensa espanhola nesses dias porque foi um dos primeiros a entrar nos vagões e, ignorando as imagens que via, ajudar os passageiros.

“Não vamos sair daqui, mas vai ser difícil superar”, disse Gutiérrez.

No hotel em que me hospedei e na loja de souvenir, as funcionárias me contam o desapontamento em ter a festa cancelada, uma das principais celebrações religiosas da Espanha.”Mas não é nada perto do que aconteceu”, disse a gerente do meu hotel.

Mesmo assim, não foi difícil receber sorrisos na cidade…

 

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Pegando fogo

Por Luisa Belchior
19/07/13 17:35

Tem dias aqui na Espanha, especialmente no verão, nos quais tenho a sensação de que é apenas questão de alguém jogar um cigarro acesso no chão para o país inteiro pegar fogo.

Esta semana todos os dias foram assim. E não falo só das altas temperaturas, que ultrapassaram os 40ºC em várias cidades, inclusive aqui em Madri, e provocou incêndios em Valência. No cenário político, a semana começou fervendo antes mesmo de começar.

Explico: No domingo, o jornal “El Mundo” publicou suposta troca de mensagens de texto por celular entre o premiê Mariano Rajoy e o ex-tesoureiro de seu partido, o PP (Partido Popular), Luis Bárcenas. Como já contei aqui, Bárcenas é acusado de ser o operador do “mensalão” espanhol, um suposto esquema de caixa dois do PP financiado por empresas beneficiadas pelo governo.

Desde que a denúncia foi feita, no início do ano, e a Justiça começou a investigá-la, Rajoy nunca havia falado sobre o caso e seu partido negava qualquer relação de seu alto escalão com o ex-tesoureiro, que no fim de junho teve prisão preventiva decretada. E eis que surge uma amistosa e calorosa troca de mensagens entre ele e ninguém menos que o mandatário máximo do partido e também do governo espanhol.

Mas isso era apenas a lenha da fogueira, que se acendeu mesmo na segunda-feira, quando Bárcenas, em declaração ao juiz, reconheceu pela primeira vez a existência do caixa dois, de onde tirou cerca de € 50 mil para dar, em mãos, a Rajoy. O premiê, que nunca havia falado do caso, foi obrigado a fazê-lo.

Daí em diante, as chamas aumentaram: a oposição pediu renúncia do premiê, exigiu que sua presença no Congresso para explicar-se e ameaçou, como disse no post anterior, com uma moção de censura caso ele se negue ao cara a cara com os parlamentares.

Nessa altura já ia embora a quarta-feira, o terceiro dia de fogo da semana. Ontem, quem manteve as chamas acesas foram milhares de manifestantes. Na sede do PP das principais cidades do país, eles fizeram um churrasco de chouriços, que aqui na Espanha é sinônimo para ladrão. Depois, aqui em Madri, onde está a sede nacional do Partido Popular, percorreram as principais ruas do centro, onde pessoas lotavam bares e restaurantes, em uma noite de quinta-feira típica de verão.

Reproduzo aqui algumas fotos da noite. Reparem o contraste do forte aparato policial, que cercava todos os acessos ao Congresso, com o de pessoas que já nem reparam nela, tão comum que a cena se tornou aqui na capital.

 

 

Nesta sexta-feira, as chamas continuam acesas. A Justiça começou a investigar vínculos das empresas que supostamente doaram ilegalmente ao PP com membros do partido. Mas, como é verão, muita gente foi à praia, inclusive para se refrescar do incêndio de toda a semana…

 

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A palavra é...moção de censura

Por Luisa Belchior
18/07/13 16:29

Esta é a expressão da semana tanto na Espanha quanto em Portugal. E não é mera coincidência. A moção de censura, um mecanismo que pode levar à renúncia do primeiro ministro, é um bom termômetro do terremoto político que vivem ambos os países.

Aqui na Espanha, ela é, por enquanto, uma possibilidade, mas só a sua menção já chacoalhou as bases do governo por aqui. Em Portugal, o mecanismo foi usado hoje. O premiê do país, Passos Coelho, foi submetido à moção depois que, na semana passada, um ministro seu se demitiu e outro ameaçou fazê-lo, chacoalhando as bolsas europeias.

A avaliação por aqui é que Coelho conseguiu passar pela moção, mostrando ao Parlamento unidade entre sua base aliada e ainda atacando os partidos de esquerda, sobretudo o Partido Socialista, que chamou de fragmentado.

Mas o que chama a atenção em Lisboa é que esta foi a quinta moção de censura a que um premiê português é submetido em apenas dois anos, uma mostra da instabilidade política no país, que sempre quis passar para seus sócios europeus a fama de “bom aluno”. Na Espanha, caso o mecanismo também seja adotado, será a terceira vez, desde o fim da ditadura no país, que seu mandatário é submetido a ele.

A possibilidade ainda está no ar. Ela foi lançada na terça-feira pelo líder da oposição, Alfredo Pérez Rubalcaba, diante das denúncias de suposto envolvimento do premiê Mariano Rajoy com o chamado “mensalão” espanhol, que seria um esquema de caixa dois no Partido Popular, de Rajoy.

O pedido de moção de censura será feito caso o premiê se recuse a ir ao Parlamento prestar esclarecimentos sobre uma troca de mensagens de texto por celular que trocou com o ex-tesoureiro do PP, Luis Bárcenas, acusado de ser o operador do “mensalão” espanhol, como denunciou o jornal “El Mundo” no domingo. E também sobre declarações de Bárcenas à Justiça no dia seguinte, nas quais ele afirma ter entregado à Rajoy cerca de € 50 mil euros provindos do caixa dois.

Com maioria no Congresso, o PP deve conseguir barrar ida de Rajoy ao Congresso e também a moção de censura. Mas só a possibilidade de ela ser feita estremeceu as bases do partido, que internamente já advoga pela demissão do premiê.

E não é só dentro do partido: neste fim de tarde, milhares de pessoas estão na porta da sede do PP daqui em Madri e nas principais cidades espanholas para pedir sua renúncia. Diante dessa pressão popular, Rajoy pode acabar cedendo a comparecer no Congresso ou inclusive à moção de censura.

 

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Sobre políticos e transporte oficial

Por Luisa Belchior
10/07/13 14:50

Não chega a ser algo como essa “onda” de políticos brasileiros de usar transporte oficial para fins pessoais, que a imprensa brasileira tem descoberto por aí. Mas a história é no mínimo curiosa.

Uma prefeita que havia anunciado abrir mão do carro oficial para economizar gastos foi descoberta…usando o carro oficial. E com motorista.

E o tal anúncio não havia sido feito pelas vias formais, mas por uma propaganda de televisão. Há pouco mais de um mês, uma marca de refrigerantes lançou uma campanha publicitária em prol dos bons políticos, que aqui em terras ibéricas também têm pouquíssima credibilidade.

Na publicidade exibida na TV, a marca de refrigerantes mostra bons exemplos de políticos espanhóis, contando suas histórias e mostrando suas caras, todos devidamente produzidos para a propaganda. Vejam:


YouTube Direktno link

Elena Biurrun, que na propaganda estaciona um carro e sai caminhando enquanto locutor anuncia seu feito, prefeita independente (ou seja, sem vínculo partidário) de Torrelodones, um pequeno município de Madri. Ela era uma dona de casa local que começou a protestar contra os casos de corrupção de políticos locais e começou a liderar um movimento em  prol da política participativa, que acabou com sua eleição para o cargo de prefeita, sem qualquer vínculo partidário.

Depois de assumir o posto, ela colocou ordem na casa e conseguiu que seu município fechasse as contas em azul no ano passado, coisa rara aqui na Espanha, e começasse o ano com um superávit de € 78 mil (cerca de R$ 226 mil).

O anúncio teve bastante repercussão aqui e fora da Espanha, e até jornais como o “New York Times” falaram de seu caso.

Só que na semana passada, o “El País” publicou fotos que mostravam a prefeita dentro do carro oficial que ela dizia haver renunciado, e ainda com um motorista conduzindo. Na própria reportagem, disponível neste link, um porta-voz da prefeita alega que ela usou o transporte para uma reunião da prefeitura e admitiu que o carro segue sendo utilizado, mas apenas para eventos oficiais, de trabalho.

O que coloca em dúvida a credibilidade tanto do anúncio quanto da prefeita, embora, claro, não se compare a um político que usa avião da FAB (Força Aerea Brasileira) para um casamento, ou outro que o faz para assistir a um jogo, ou ainda um terceiro que pega o helicóptero de seu Estado para ir à sua casa de veraneio…

 

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Desemprego em queda: otimismo antecipado?

Por Luisa Belchior
03/07/13 13:29

A conta-gotas, algumas análises, dados e previsões começam a apontar uma possível chegada da retomada da economia espanhola, ainda de forma muito tímida e quase pedindo desculpas.

Mas os índices de desemprego divulgados ontem pelo instituto de estatísticas da Espanha dão um pouco de fôlego a essa tese. No mês de junho, o desemprego no país na comparação com o mês anterior. Foram 127.248 a menos, a maior queda da história na comparação entre meses e que alimenta uma redução contínua desse índice no primeiro semestre do ano.

Como quase todas as discussões aqui na Espanha, esta também chega carregada de “poréns”. O primeiro deles é que, apesar da fila de desemprego ter diminuído, a de registrados na Seguridade Social cresceu menos: 26.853.

Ou seja: oficialmente, há menos emprego criado do que pessoas que deixaram de ser desempregadas.

As duas hipóteses que mais ecoam por aqui para explicar essa defasagem são que 1) muita gente desempregada, espanhóis e imigrantes, deixaram o país e 2) o emprego precário e irregular, sem registro na Seguridade Social, está crescendo.

Esta segunda hipótese é a mais defendida, principalmente pela época do ano: aqui na Europa, nos aproximamos do verão, estação que tradicionalmente reduz o desemprego no país.

Com uma extensa costa e muito sol, a Espanha no verão é um dos destinos de praia mais populares para europeus. Por isso, hoteis, restaurantes, bares, comércio e afins sempre aumentam a contratação de funcionários, ainda que de forma temporária e, muitas vezes, precária e irregular –ou seja, sem contrato.

E isso necessariamente é uma boa notícia para a economia, principalmente porque, ao final do verão, a maioria dessas pessoas volta a engordar a fila de desemprego no país.

O governo reconheceu o peso da chegada do verão nesta queda de desempregados, mas defende a tese do início da retomada que se aproveita do momento tradicionalmente propício a contratações.

O país só poderá chegar mesmo a uma tese definitiva no fim do verão, mas os índices de hoje já levantaram elogios, ainda que tímidos, de tradicionais rivais do governo de Mariano Rajoy, como a UGT, um dos principais sindicatos do país. Mesmo assim com ressalvas.

As ressalvas também têm dado o tom das análises por aqui. Para o economista Rolf Campos, da escola de economia espanhola IESE, os novos dados “não significam uma recuperação do mercado de trabalho, embora sugiram uma redução na taxa de destruição de empregos”.

O “El País” afirma hoje em seu editorial “Otimismo antecipado” que “a quarta descida consecutiva do desemprego registrado não significa recuperação econômica”.

O tom de cautela é compreensível pelo contexto daqui: em uma crise de quase cinco anos que ensaiou uma retomada mas mergulhou em uma nova recessão ainda pior e elevou sua taxa de desemprego aos 27% da população economicamente ativa, a Espanha ainda teme em acreditar na recuperação no curto prazo, embora todos torçam por ela.

 

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Portugal: o bom aluno se rebela

Por Luisa Belchior
03/07/13 12:50

Um ministro que cai, outro que se demite e outros dois em vias de fazê-lo. O Congresso em vias de rompimento, rumores de renúncia, o povo nas ruas, o mercado de toda a Europa abalado.

A crise política que tomou o governo de Portugal esta semana colocou em xeque a fama de “bom aluno” que o país tinha ante os olhos do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Central europeu, órgãos responsáveis pelo resgate financeiro ao país em 2011. E que vigiam de perto o cumprimento das condições para o socorro, baseadas na execução de uma política de austeridade.

Mas foi justamente essa austeridade, aplicada com mão firme pelo premiê conservador Passos Coelho, que começou a tirar as bases de sustentação da relativa estabilidade política e social que o país vivia desde o resgate. Portugal deve, não consegue retomar o crescimento, vê sua população empobrecer. Mas não era uma Grécia, nem uma Itália. Fazia seu dever de casa sem se rebelar.

Até agora.

As recentes ofensivas contra a política de austeridade na Europa –feitas até por mandatários conservadores e partidários de cortes orçamentários, como o premiê espanhol Mariano Rajoy– contagiaram Portugal.

Não é de hoje que os portugueses têm ido às ruas contra algumas das medidas de austeridade mais duras entre as impostas em toda a Europa desde o início da crise. O estopim foi o anúncio de cortes nas pensões e nos salários de funcionários públicos, uma medida que, após manifestações massivas, foi barrado pelo Tribunal Constitucional português.

A pressão contra a austeridade fez com que o grande artífice dessa política dentro do governo, o ministro das Finanças, Victor Gaspar, caísse nesta segunda-feira. Gaspar era a mão de ferro do premiê Passos Coelho.

Mas foi o pedido de demissão de outro ministro, anunciado ontem, que fez o governo de Coelho balançar. Insatisfeito com a substituição de Gaspar por uma nova ministra também partidária das medidas de austeridade, o chanceler Paulo Portas anunciou ontem a renúncia de seu cargo.

A grande confusão é que Portas, além de ser um dos maiores críticos da austeridade dentro do governo, é também líder do CDS-PP, partido que garante à gestão de Passos Coelho a maioria no Parlamento luso, necessário para que ele possa governar.

Hoje, continua o efeito dominó: a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, e o ministro da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares, ambos do CDS-PP, também apresentarão pedido de demissão, segundo o português “Diário de Notícias”.

Como a Europa anda de mãos dadas para o bem e para o mal, o furacão interno da política portuguesa fez ventar no resto do continente, e hoje as bolsas europeias desabaram com a crise portuguesa.

Ainda não se sabe por aqui do futuro político do país. Os pedidos e os rumores de uma renúncia de Passos Coelho aumentam. O premiê ainda a nega rotundamente, mas se reunirá amanhã com o presidente do país, Cavaco Silva.

Estarei em Portugal nos próximos dias, e conto aqui as reações desse novo terremoto político por lá.

 

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Em Madri, surpresa com a derrota espanhola

Por Luisa Belchior
30/06/13 23:03

Esperar de pé até a meia-noite de um domingo para ver sua seleção jogar não foi o problema para os espanhóis, com cinco horas à frente do Brasil. Vê-la cair por 3 gols a zero em um Maracanã que vaiou seus jogadores do início ao fim é que surpreendeu o pessoal que acompanhou o jogo aqui em Madri.

A Porta do Sol não era a mesma que na madrugada de três anos atrás, quando espanhóis viraram a noite celebrando ali a primeira vitória de sua seleção em uma Copa do Mundo. Hoje Madri dormiu mais cedo. Quase todos os bares do centro da capital espanhola, que percorri durante o jogo, transmitiam a final da Copa das Confederações em telões ou televisões.

A derrota ante o Brasil foi um banho de água fria para a Espanha, que abocanhou todos os principais campeonatos que participou desde 2008–e, com eles, muita confiança.

O que não quer dizer, no entanto, que a “Roja” subestimava o Brasil. Pelo contrário: jogar contra a nossa seleção, e no Maracanã, era uma das metas do técnico da Espanha, Vicente Del Bosque, segundo ele me revelou em uma entrevista que lhe fiz no ano passado.

Nas ruas aqui de Madri, torcedores repetiam o discurso de Del Bosque ao final da partida de que o Brasil jogou melhor. “Acho que o calor influenciou, os espanhóis não estão acostumados. Mas o Brasil jogou melhor, hoje nossos jogadores estavam estranhos”, disse o técnico de informática Felipe González, que arriscou ficar acordado até tarde para acompanhar o jogo em um bar no centro de Madri.

“Deviam ter feito pelo menos um gol para justificar a cava (espumante espanhol) que comprei. Mas hoje o Brasil merece, toma uma taça”, me ofereceu a empresária Maria Luisa Valdéz em seu bar madrilenho.

Na TV, os locutores, muito confiantes antes da partida, tentaram colocar panos quentes na derrota. “Alguma vez tinha que ser [a derrota]. Mas não tem problema. Ano que vem voltaremos e haverá revanche”, disse o locutor da rede Telecinco.

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'Só falta o Brasil'

Por Luisa Belchior
30/06/13 19:15

“Só nos falta o Brasil”, diz o locutor da rede de televisão que transmite a final da Copa das Confederações aqui na Espanha.

Jogar uma final contra o Brasil, e no Maracanã, era o próximo grande sonho que a seleção espanhola, inflada pelas vitórias que abocanhou em todos os principais campeonatos que participou nos últimos cinco anos, espera cumprir neste domingo.

Por isso, é inevitável que o locutor, a imprensa e os torcedores da Espanha estejam confiantes na vitória do duelo contra o Brasil. Ainda assim, sem perder o respeito ao peso da camisa verde e amarela, pelo que tenho visto e lido por aqui desde quinta-feira, quando a “Roja” venceu a Itália e se classificou à final da Copa das Confederações.

E mesmo que o país não tenha dado lá tanta importância a esse campeonato, a expectativa para o jogo que acaba de começar é grande. A rede de TV que transmite a partida registra audiência de 10,7 milhões de espectadores.

A adrenalina que se sente na voz dos locutores traduz essa expectativa. “Que barbaridade. Já vivemos muitos momentos emocionantes no esporte, mas nenhum se compara a este”, disse um deles ao final da execução do hino nacional brasileiro entoado a capela por um Maracanã lotado.

Jogar no estádio carioca já é motivo de comemoração para a Espanha, segundo contaram ao longo da semana os próprios jogadores em entrevistas à imprensa daqui, que falam em um “segundo Maracanaço”.

Daqui a pouco, quando saberemos se a expectativa espanhola se cumpriu ou não, conto a vocês como foram as reações por aqui.

 

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A geração perdida

Por Luisa Belchior
28/06/13 22:33

Que mais da metade dos jovens na Espanha não tem emprego atualmente pode não ser mais novidade para muitos de vocês no Brasil. Que dirá aqui na Europa.

A Espanha, como diz hoje o jornal “El País”, já se tornou o “celeiro de jovens sem trabalho da Europa”. Por isso, interessa especialmente ao país ibérico o plano de combate ao desemprego juvenil acordado nesta sexta-feira em reunião do Conselho Europeu em Bruxelas.

O plano em si –na íntegra neste link— não traz muitas novidades, já que as medidas de estímulo ao emprego já eram em parte conhecidas há um ano. O que chama a atenção desta vez é urgência expressa pelo Conselho Europeu em combater o desemprego juvenil, que já tem “enormes custos humanos e sociais” no continente.

Só no último ano, a Europa gerou mais 1,7 milhão de jovens desempregados, cerca de 500 mil deles só na Espanha. Uma “geração perdida” que já ameaça a continuidade do projeto europeu –ou seja, a União Europeia. Esta é a opinião que o jornalista Gavin Hewitt, autor do recém-lançado “Europa à Deriva” (tradução livre), expressava nesta sexta-feira em entrevista ao jornal “El Mundo”.

E como os líderes dos 27 países membro têm feito de tudo para dar continuidade à UE apesar da crise e das críticas recorrentes ao bloco, eles acordaram hoje em Bruxelas adiantar verbas de estímulo de emprego juvenil, previstas para o período de 2014 a 2020, de cerca de € 8 bilhões (R$ 23 bilhões), dos quais 80% serão aplicados nos próximos dois anos.

Para os 57% dos jovens espanhóis com menos de 30 anos que atualmente estão desempregados, virão € 2 bilhões (R$ 5,75 bilhões). Se consideramos o número bruto de jovens sem emprego –cerca de 1 milhão– o socorro europeu pode não ser muito efetivo. Mas o premiê espanhol, Mariano Rajoy, disse ter saído satisfeito da cúpula em Bruxelas e considera usar parte da verba para descontos na cotização de empresas que contratarem jovens.

Mas há muito mais para investir e mexer por aqui, como por exemplo o tipo de contrato a que muitos jovens têm se submetido, temporários e com poucas garantias. Também o êxodo crescente desses espanhóis em busca de emprego em outros países, mesmo que abaixo de suas qualificações.

No mês passado, contei neste post o caso de uma colega minha, espanhola com mestrado, que escreveu pedindo a amigos indicação de trabalho como garçonete. E não é um caso isolado, mas o coloquei em evidência apenas para dar um exemplo de uma história que aconteceu perto de mim.

Nesta sexta-feira, um economista que comentava o plano no noticiário econômico da TVE (Televisão Espanhola), contou no ar uma piada para ilustrar a mesma situação: há quatro pesquisadores, um espanhol, um alemão, um francês e um inglês, em um bar. E o espanhol diz: “o que os senhores gostariam de tomar?”.

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